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O maior problema de "Thor: Amor e Trovão" é a comparação com filmes bons
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A quarta aventura solo de Thor nos cinemas é um desastre, pelo menos na maior parte do tempo. As três narrativas principais de Amor e Trovão são exageradamente díspares no tom e na proposta, transformando a aguardada sequência de Ragnarok em uma experiência deveras frustrante.
Em primeiro lugar temos o vilão Gorr, um crente fiel que se decepciona com o alvo de suas preces após ver sua filha vir a óbito e ainda ser humilhado pelo deus de sua religião. Revoltado, encontra uma arma capaz de assassinar outras deidades.
Essa trama funciona bem demais nos gibis, mas nunca chega a engrenar direito no filme. Christian Bale com sua maquiagem esquisita e os tradicionais exageros cênicos fica parecendo mais um pesadelo de videoclipe do Tool nos anos 1990 do que um arqui-inimigo de super-herói.
O outro pilar é o retorno da exuberante Natalie Portman como Jane Foster, o interesse romântico do filho de Odin nos dois primeiros filmes lamentáveis da série. E ela não está sozinha, veio acompanhada de um drama e tanto: está com um câncer em estágio avançado.
Uma das grandes sacadas da Marvel desde a sua criação 60 anos atrás foi realçar os traços mais humanos de seus protagonistas fantásticos. Quase todos nascem de algum tipo de tragédia —o Homem-Aranha é diretamente responsável pela morte do próprio tio, o Homem de Ferro inventa a armadura para diminuir o impacto de um problema no coração, o Hulk é a manifestação atômica de fortes traumas psicológicos surgidos na infância, e por aí vai.
O aparecimento de uma nova Poderosa Thor como resposta a um problema tão real quanto o câncer está entre os destaques da longa passagem do roteirista Jason Aaron pelos quadrinhos do herói. Mas no filme a questão é tratada como se fosse uma leve cólica na maior parte do tempo, só chegando a um peso maior de dramaticidade no ápice da história.
O fato de Taika Waititi nunca abraçar devidamente duas possibilidades de conflitos tão promissoras quanto as supracitadas tem um motivo: o filme é uma comédia. Ao escolher adaptar essas linhas narrativas densas para o universo do seu Thor bonachão, o diretor se mete em uma equação impossível de ser resolvida.
A outra perna que desequilibra esse tripé bambo de Amor e Trovão, portanto, é o arco do próprio protagonista. O começo do filme é tão estapafúrdio que mais parece com uma paródia à moda David Zucker —sem um décimo da graça ou do charme de Corra que a polícia vem aí e congêneres, infelizmente.
Mas é como se o Thor de Chris Hemsworth começasse encarnando Charlie Sheen em Top Gang e no decorrer dos acontecimentos nós tivéssemos que acreditar que ele se tornou o Tom Cruise de Top Gun, pois o filme em dado momento sai do modo 'palhaçada eterna' para tentar dar alguma importância aos seus enroscos.
Para piorar, os melhores momentos parecem a todo custo remeter às cenas de maior sucesso de Ragnarok. Fica evidente que Waititi se esforça demais, e isso acaba atrapalhando o fluxo da história.
As insistentes referências à Paradise City buscam emular a experiência que tivemos com Immigrant Song no filme anterior. O que parecia novo, criativo e divertido agora é só forçado e sem carisma —um abismo parecido com o que existe entre Led Zeppelin e Guns N'Roses.
E isso acaba sendo uma questão significativa a respeito de Thor: Amor e Trovão. O maior problema da nova saga do deus nórdico é justamente a existência de filmes melhores —e sua tentativa frustrada de evocá-los.
Se eu nunca tivesse assistido a Ragnarok ou a boas comédias de ação, se nunca tivesse ouvido uma piada engraçada ou lido um gibi mediano, se nunca tivesse saído de casa e tomado um chopp com os amigos, talvez tivesse até apreciado um pouco mais.
Voltamos a qualquer momento com novas informações.
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