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Travessia exagera no absurdo: será que estão de sacanagem com a nossa cara?
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Todo mundo já esperava um pouco de psicodelia em Travessia. Afinal de contas, a autora Glória Perez é famosa pelas tramas rocambolescas e referências aleatórias na hora de compor suas novelas. Mas as coisas parecem absolutamente fora de controle.
São tantas coisas esquisitas que fica difícil escolher apenas algumas para ilustrar o absurdo que está servindo como atração principal do horário nobre da Globo. Ainda assim, tentarei apresentar um breve panorama nas linhas a seguir.
Protagonista delirante
Brisa tem acesso à internet, mas se recusa a entrar em contato com familiares --incluindo aí seu marido e até mesmo o filho. Caminha a esmo pela cidade, após passar um tempo na cadeia por nenhum motivo justificável. E nega de maneira tão pouco veemente que é uma sequestradora de bebês que fica difícil não acreditar naquela montagem tosca que deu origem ao seu revés.
Metaverso em vertigem
A personagem de Dandara Mariana, pelo menos até aqui, existe principalmente para incentivar o personagem de Humberto Martins a investir no metaverso. Chego a me lembrar do Seu Fininho, aluno da Escolinha que tentava enfiar o Professor Raimundo nas maiores roubadas e picaretagens de que se tem notícia. Mas o pior é a insistência: quase toda aparição dela gira em torno disso, e não são poucas aparições.
Tecnologia a serviço da paranoia
A novela prometeu tratar de fake news, mas está abordando o assunto da maneira mais leviana possível. Enquanto no mundo real é um problema grave que nasce e cresce a partir de intrincadas organizações cujo intuito é enferrujar as bases da sociedade, na novela é uma molecagem de um rapaz introspectivo que usa um aplicativo simples demais para tamanho estrago.
E o pior, parece acreditar que o problema está apenas na tecnologia em si, quando sabemos que a distribuição do material é ainda mais importante. Mas em Travessia as mentiras do jovem se espalham como as notícias de um milagre. Não faz o menor sentido.
Atuações caricatas
Boa parte do elenco parece estar interpretando vilões do seriado do Batman, aquele dos anos 1960. A impressão que fica é que estão de sacanagem com a nossa cara. E o clima camp das atuações sequer combina com a direção, que aposta em várias linguagens diferentes por capítulo, como se estivéssemos num caleidoscópio temático de séries ruins da Netflix.
Eduarda e Mônico
Chiara é a personagem de Jade Picon que ainda está na escola, mas já dirige e vive bêbada com a melhor amiga. Ari é um trintão meio abobado que está de gracinha com a jovem, cuja idade é um dos mistérios da trama, mas definitivamente jovem demais para ele. O cidadão está vivendo um romance com a colegial enquanto ignora o destino de sua esposa, a Brisa, que também parece não fazer a menor ideia de onde está.
No final das contas, a mensagem que Travessia parece querer passar é "não me siga, também estou perdida".
Voltamos a qualquer momento com novas informações.
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