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Chico Barney

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Desespero e vergonha alheia: Casamento às Cegas 2 é o fim do mundo

Paulo é um dos participantes de Casamento às Cegas Brasil 2  - Reprodução/Netflix
Paulo é um dos participantes de Casamento às Cegas Brasil 2 Imagem: Reprodução/Netflix

Colunista do UOL

29/12/2022 09h05

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A Netflix lançou na quarta-feira os quatro episódios iniciais da segunda temporada de Casamento às Cegas Brasil. Após sorver o conteúdo com um misto de pavor e fascínio, a vontade que dá é fazer como Rorscharch e ir para o meio da rua segurando uma plaquinha escrita "o fim está próximo".

O reality de formação de casais é apocalipse puro. Tudo acontece na urgência, consciente ou não, de que as coisas do mundo estão prestes a acabar. A intensidade das conexões, além da velocidade de todo esse envolvimento, faz com que os piores romances da Sessão da Tarde fiquem um pouco mais críveis.

Um dos elementos mais satisfatórios em Casamento às Cegas 2 é a absoluta simplicidade dos personagens, sobretudo os masculinos. Enquanto a dramaturgia se esforça para deixar seus protagonistas mais complexos, ficando difícil até para a novela das 9 estabelecer com objetividade bons argumentos para torcer por seus mocinhos e suas motivações, o reality não deixa muito espaço para nuances.

Os caras são quase todos terríveis, símbolos dessa sociedade em decadência. Um cidadão chamado Paulo, que aparece apenas nos três primeiros episódios, é quase uma paródia de tão simples e exagerado.

Como se fosse uma caricatura de jornal de bairro, age exatamente como se espera após conhecê-lo de maneira breve. Não por acaso, está sendo o mais comentado dessa primeira leva de episódios, por conta do que faz quando conhece a noiva misteriosa, justamente na contramão do que havia gastado o verbo momentos antes.

E o choque entre o que é discurso nos encontros às cegas e as atitudes quando começam a acontecer os encontros também servem como metáfora rápida e rasteira para o mundo em que vivemos.

Lembre da hipocrisia dos influenciadores digitais ou das mentiras dos políticos para engajar suas bases. O programa deixa evidente uma dinâmica muito contemporânea. As pessoas sabem perfeitamente o que querem ouvir, ninguém precisa nem se esforçar muito para dizer as palavras certas no processo de convencimento. A hiperconexão das redes sociais deixou os delírios mais coletivos.

O casting é o grande acerto dessa temporada até aqui, pois conseguiu encontrar participantes que levassem ao cúmulo as teses do formato: o desespero por amor, a aceitação como fonte de ótimo entretenimento e a vergonha alheia como desafio a ser superado pelo telespectador.

Um sucesso de conceito e execução, a mais relevante obra de arte sobre o colapso de uma geração, chegando a superar os sentimentos conflituosos promovidos pela primeira temporada.

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