Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Denúncia: como Elon Musk desalinhou os chakras do Twitter
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Eu amo o Twitter. Sei de todos os problemas que lá existem e persistem, mas sempre considerei aquele como o meu canto na internet. Talvez por estar há tempo demais na internet, sempre levei com razoável tranquilidade mesmo os ataques mais vis que sofri, como quando critiquei o filme do Scooby-Doo.
Estou lá desde 2007. É uma longa jornada. Lembro da revolta que as diferentes comunidades que habitam aquela rede sentiram com cada pequena mudança que ocorreu ao longo do período.
Quando permitiram publicar imagens. Quando dobraram o número de caracteres. Quando começaram as lives no Periscope. Toda novidade era tratada como a iminente morte daquilo que acreditavam ser o âmago do passarinho azul.
Com o tempo, as placas tectônicas do conforto virtual foram se ajeitando. As ferramentas e possibilidades de uso tiveram diferentes graus de sucesso, mas acredito que a maioria foi incorporada pelos usuários em vez de rejeitada. Só que nos últimos meses as coisas mudaram radicalmente.
Não estou aqui falando que o Twitter em algum momento foi uma utopia cibernética, muito pelo contrário. O componente humano sempre foi um problema, e muitas regras de boa convivência nem sempre foram respeitadas.
Mas a gestão do Elon Musk, o bilionário que se tem em altíssima consideração, tomou algumas decisões extremamente incômodas para a fluidez da experiência de quem usufrui da rede social.
O erro mais terrível nesse sentido foi a mudança de regras para o selo de verificado. Principalmente pela razão de não existir mais um critério.
Até antes dessa alteração, para que servia? Era uma garantia de que aquele perfil era de alguma maneira laureado por terceiros —um artista reconhecido, um jornalista, um autor de livros, um político. Servia para evitar confusão com fakes e, além disso, direcionar melhor a atenção dos outros usuários.
Ao transformar o selo de verificado em um produto, Musk desalinhou completamente os chakras do Twitter. Quem tem perfil verificado possui uma aba para ler apenas reações de outros verificados. Aquilo virou puro ruído —dando relevância para quem não é necessariamente relevante.
Não estou falando que todos os perfis verificados pré-Elon eram sumidades, mas pelo menos existiam fatores de reconhecimento mais sofisticados do que pagar R$ 60 por mês.
Desembolsar dinheiro para parecer relevante na verdade acaba tirando o valor do selo verificado. Quando perceberam isso, voltaram atrás da decisão de tirar o selinho de todo mundo que não pagasse, e devolveram para quem tem mais de 1 milhão de seguidores, para manter algum nível de aspiração dos possíveis clientes —o que é outra demonstração de falta de entendimento da plataforma.
Claro que não tem absolutamente nada de errado em procurar meios para monetizar o Twitter, mas acredito que as medidas até agora foram equivocadíssimas. O YouTube tem selinho de verificado para criadores reconhecidos, mas não comercializa esse "status". O que ele faz é vender vantagens por intermédio do YouTube Premium —que, entre outras coisas, poupa o usuário de anúncios por R$ 20 ao mês.
O Twitter poderia oferecer os benefícios do Blue (como é chamada a comercialização de verificados) como vídeos mais longos e prioridade nas conversas também em um produto Premium, mas criando outro selinho para não confundir alhos com bugalhos.
De qualquer forma, Elon Musk anunciou que está caindo fora da gestão direta da rede social e em breve deve anunciar o nome da futura CEO. Eventualmente eles passarão —e nós, passarinho (azul).
Voltamos a qualquer momento com novas informações.
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