A herança do Gugu que ninguém quis ficar

Leio nos jornais as últimas atualizações a respeito da complicada disputa pela herança de Gugu. A cada semana, detalhes novos vêm à tona, deixando expostas as intimidades de todos os envolvidos.

Fico pensando em outro legado infelizmente menos comentado do apresentador por esses dias. Sua obra televisiva não deixou herdeiros.

Ao longo das últimas décadas, acompanhamos o lento declínio da função de condutor de programas de auditório. O período foi marcado pela ascensão de outro modelo de produção, dos formatos enlatados que são mais previsíveis e, portanto, com um retorno mais certo.

Isso está destruindo a alma da televisão brasileira. Aquele improviso jocoso que tomava conta dos domingos à tarde hoje é raridade, exceção. Gugu conseguiu inventar o senso de urgência no dia de descanso do telespectador brasileiro. Esse mindset moldou a disputa por audiência na virada do século e se tornou um marco cultural.

Com seus erros e acertos, Antônio Augusto Moraes Liberato escreveu sua história de maneira indelével na história desse país. E é uma pena que todos os seus aprendizados e caminhos abertos para necessárias melhorias e evoluções naquela visão de 30 anos atrás tenham tão pouco espaço.

Ele mesmo foi vítima dessa mudança de rota do mercado. Quando seu programa de auditório foi cancelado, passou também a ser apresentador de formatos —Power Couple em sua fase mais esplendorosa e a disputa musical do Canta Comigo.

Luciano Huck, Rodrigo Faro, Celso Portiolli e Marcos Mion conseguem emular em seus projetos alguns lampejos do que Gugu fez ao longo da carreira, mas faltam produtos tão bem acabados quanto o clássico Domingo Legal dentro de uma estratégia que tenha na programação ao vivo sua relevância indiscutível.

Ainda tenho esperança que alguém consiga discutir essa herança e tomá-la por justiça para si. Até lá, o grande legado de Gugu na TV continuará sendo a lembrança nostálgica de tempos mais vibrantes.

Voltamos a qualquer momento com novas informações.