Deus e positividade: Famosos reclamam do Twitter em clone do Twitter

No começo deste século, uma produtora paulista chamada Vídeo Brinquedo se dedicou a fazer animações que eram cópias sem alma de sucessos da Disney e da Pixar. Carros inspirou Carrinhos, Kung Fu Panda serviu como base para o Ursinho da Pesada e por aí vai. Minha preferida era Ratatouille, que virou Ratatoing.

Ao longo dos últimos anos, muita gente tentou se tornar o Ratatoing do Twitter. Mastodon, Koo, Bluesky. Todos sofreram do mesmo mal, a inevitável falta de público, que só aparecia quando surgia algum problema técnico na famigerada rede dos 280 caracteres.

A empresa Meta, que é dona do Facebook, do Instagram, do WhatsApp e de muitos dos seus dados, caro leitor, criou uma nova rede social chamada Threads. Nova naquelas. Com o anseio de ser o principal hub de 'conversas públicas' na internet, pretende substituir o Twitter em relevância e abrangência.

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Mark Zuckerberg avisou que pretende chegar em 1 bilhão de usuários antes do passarinho azul. E não há qualquer motivo para duvidar. A sacada de mestre foi fazer uma integração pesada com o Instagram, resolvendo rapidamente a questão da falta de público: ninguém está falando para as paredes, pois o carregamento da base de seguidores entre as duas redes é quase automático.

Pelo menos até agora, o Threads é o Twitter para quem odeia Twitter. Alguns famosos estão fazendo questão de levantar a bola da nova rede social em detrimento à sua antecessora conceitual.

"Um espaço menos beligerante para trocar opiniões. Escrever, ler, concordar ou discordar. E onde discordar não significa odiar. Já tô gostando.", escreveu Luciano Huck. Enquanto escrevo esse texto, ele está nos trending topics do Twitter devido às reações pouco amistosas ao post no próprio Threads.

"Vamos lá! Com fé para que isso não se torne o Twitter e seja, sim, um lugar agregador com base no respeito, na criatividade e na positividade! Aliás, já que é o primeiro thread vou escrever de novo pra ver se atrai: POSITIVIDADE!!!", anunciou o Marcos Mion, que já tinha acesso ao app um dia antes do resto do público.

"Galera, eu tô orando para aqui não virar um Twitter, sabia? Até porque nem Twitter eu tenho mais. Que Deus abençoe, que seja só energia positiva, amor e paz! Sempre tem uns seres humanos podres, né, mas que seja a minoria, amém", avisou Virginia, uma das pessoas mais populares do Instagram.

O grande apelo do Twitter em seus primeiros anos era essa sensação de proximidade com as pessoas mais famosas do mundo. E essas mensagens de fé e esperança servem como marketing, de certa forma, ao emular a mesma experiência de outrora.

Mas quanto mais perto da meta de 1 bilhão de usuários, menos possível será a utopia de tapinhas nas costas ensejada pelas celebridades. É natural que os feedbacks negativos surjam com alguma eloquência —e não acho que a toxicidade seja privilégio do Twitter. Quem dá o azar de tropeçar nos comentários de qualquer perfil grande no Instagram sabe que a maldade habita no ser humano, não em redes sociais específicas.

Em notas relacionadas, admiro quem esteja disposto a sair do Twitter por questões éticas e políticas, dado o perfil do atual proprietário. É louvável. Mas trocá-lo por um produto da Meta é como escolher entre Thanos e Darkseid, Carminha ou Nazaré. Ainda estão frescos na memória escândalos como da Cambridge Analytica e a maneira como a realidade tem sido moldada por intermédio do WhatsApp.

Para piorar, além de inexistir uma versão desktop, Threads não oferece uma timeline cronológica, que é justamente o maior apelo do Twitter, com as reações em tempo real de eventos ao vivo como eventos esportivos e realities como o BBB.

Ou seja, pelo andar da carruagem, está mais parecido com um revamp do Facebook do que realmente uma alternativa ao famigerado "aplicativo de mensagens curtas" de Elon Musk.

Dito tudo isso, encerro com o mais importante: siga meu perfil por lá. É arroba chicobarney. Aguardo propostas comerciais via e-mail. Paz!

Voltamos a qualquer momento com novas informações.