Chico Barney

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Opinião

A TV fica mais pobre com decisão imperdoável da Warner

Mais do que nunca, os rumos do entretenimento global são guiados pura e simplesmente por algoritmos e planilhas. Não que a busca por lucro e o bolso dos clientes não seja o padrão, mas cada vez mais a frieza dos números vai se consolidando como o único fiel da balança.

Veja só este caso: a Era dos Streamings prometia um futuro em que os grandes estúdios e produtoras de conteúdo teriam verdadeiras Bibliotecas de Alexandria com seus acervos poderosos, facilmente acessíveis ao público em sua totalidade pela primeira vez. Pois em 2024 parece que estão todas queimando.

Com valores de assinatura cada vez mais nababescos, as plataformas estão fazendo movimentações para deixar apenas aquilo com apelo mais forte entre os telespectadores. Em nome do corte de gastos, vale até se livrar de clássicos do audiovisual para não precisar pagar direitos ou economizar em hospedagem.

O streaming da Warner, que antes se chamava HBO Max e agora é só Max, está aproveitando o embalo para deletar uma miríade de produções clássicas do canal a cabo. O exemplo mais aterrador, na minha humilde opinião, é a série "The Wire" -considerada por muitos, eu incluso, a melhor série já produzida.

Aquela marra do slogan da HBO que prometia ser mais que televisão era bancado pela brilhante produção que faz parte de uma época de ouro do entretenimento caseiro. Densa, sofisticada, uma viagem aos problemas de Baltimore que refletem até hoje com maestria os problemas de qualquer grande cidade do mundo.

Pois "The Wire" vai embora do Max, junto com "Treme", "The Deuce" e "Show Me a Hero", todas do mesmo criador. E diversas outras séries, como a extraordinária "Veep", provavelmente a melhor comédia já produzida para a TV, ou pelo menos uma das três melhores.

Muitos filmes também, inclusive clássicos atemporais como "Cidadão Kane", E o vento levou, "Batman Eternamente". Sem alarde, parte relevante do imaginário coletivo ficará indisponível para a apreciação geral. Até quando? Eu não sei onde guardei meu aparelho de DVD.

Imaginávamos que a tecnologia facilitaria o acesso ao conteúdo produzido pelas mentes mais brilhantes da história. Percebemos agora que o que está na mesa é uma busca desenfreada por dopamina, com as besteiras mais descartáveis que a mente humana pode consumir de uma só vez. Seguiremos empanturrados de ausências. Imperdoável!

Voltamos a qualquer momento com novas informações.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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