O que há de errado com Estrela da Casa, o ornitorrinco do Boninho?
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O ornitorrinco é considerado um dos animais mais pitorescos deste planeta em que vivemos. Trata-se de um mamífero que bota ovo, é banguela e usa cascalho para mastigar crustáceos, peçonhento e capaz de ficar um longo período embaixo d'água.
Por ter o bico tão característico dos patos, peludo e com um rabo de castor, cheio de tantas outras características que não parecem se encaixar naturalmente, é difícil não vê-lo como uma mistura dos mais diferentes animais.
O escritor mexicano Juan Villoro diz que a crônica, gênero literário que ficou tão em voga por aqui no período olímpico de Paris, nada mais que o ornitorrinco da prosa. Pois contempla elementos que remetem a quase tudo: novela, reportagem, conto, teatro, entrevista, ensaio e autobiografia.
Enxergo o Estrela da Casa como o ornitorrinco do Boninho. Reúne em um único pacote elementos tão diversos que acabam causando estranheza. E há uma profunda beleza nisso, pelo menos para mim que sou um humilde arauto de coisas estranhas.
Quem espera por um reality musical nos moldes do The Voice, é confrontado pelo confinamento ao estilo Big Brother se impondo com dinâmicas como as provas bate e volta e de resistência, a liderança, a imunidade e a formação de paredão.
Quem espera por um reality de confinamento nos moldes do Big Brother, é assombrado pelo show de calouros típico do The Voice, com bastidores de ensaios, dinâmicas para compor canções inéditas, seleção de covers populares e apresentações ao vivo.
Nessa primeira semana de exibição, o programa encontrou uma certa dificuldade de atingir o coração do público. Por mais que combine características facilmente reconhecíveis, o todo ainda não forma algo que pareça orgânico. E a aparência geral do projeto é importante nesse primeiro contato.
Tanta mistura é atrapalhada pelo excesso de dinâmicas com nomes pouco explicativos, que surgem mais como ruído do que uma ajuda para o reality se fazer entender. Termos em inglês como hitmaker e workshop, além de títulos conceitualmente similares, como duelo e batalha, estrela da semana e dono do palco. O texto entoado pela apresentadora Ana Clara precisa desarmar a confusão e simplificar o processo.
De qualquer forma, Estrela da Casa frustra expectativas, e isso é uma boa notícia. Tira o público da zona de conforto, nós que ficamos tão acostumados aos formatos limpinhos e anódinos, tanto quanto as músicas que já ouvimos milhões de vezes.
Caberá ao telespectador mostrar se é capaz de aceitar que o programa não é pato, nem castor, tampouco toupeira. Conseguiremos apreciar o ornitorrinco? Eu já estou adorando.
Voltamos a qualquer momento com novas informações.
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