Caso Danni Suzuki abre discussão sobre representação oriental nas novelas
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Resumo da notícia
- Personagens de ascendência oriental normalmente surgem relacionados a estereótipos
- Em "Geração Brasil", ator usou fita adesiva nos olhos para interpretar astro vindo do japão
- Desabafo de Dani Suzuki mostra que emissoras precisam rever políticas de diversidade
Fale o que se quiser sobre as revelações de Danni Suzuki envolvendo sua escalação e depois perda da protagonista de "Sol Nascente", mas não se pode apagar um fato: a Globo, assim como outras emissoras, está muito longe de abordar como deve a representatividade oriental em sua dramaturgia. Em live com Bruna Aiiso, a atriz afirmou que Walther Negrão, autor da novela das seis criou a personagem principal da trama inspirado em sua vida. Depois ouviu do diretor, Leonardo Nogueira, que ela estava muito velha para o posto. Acabou substituída por Giovanna Antonelli - que tem um ano a mais de idade que Suzuki - e, posteriormente, perdeu até mesmo o segundo papel para o qual havia sido escalada.
A atriz, no entanto, não foi a única a passar por isso em "Sol Nascente". Antes mesmo de a novela estrear, em agosto de 2016, o japonês naturalizado brasileiro Ken Kaneko, convidado para interpretar Kazuo Tanaka, pai da mocinha, veio a público para afirmar ter sido substituído por Luís Melo sem justificativa ou retorno. "Não sei de nada, até agora não tive resposta", disse à "Folha de S. Paulo", na época. Outro descendente de orientais, Marcos Tumura, foi testado para o papel, mas ganhou um personagem em outro núcleo.
As controversas trocas de atores de ascendência oriental por ocidentais - caso de Giovanna Antonelli e Luís Melo - causou controvérsia na época. Um grupo de atores chegou a assinar um manifesto acusando a Globo de "yellowface". Talvez pelo fato de o racismo contra orientais não ser um assunto tão discutido no período, os protestos em nada resultaram.
Ainda que anos tenham se passado, vale a pena revisitar a história. Em 2014, em "Geração Brasil", de Filipe Miguez e Isabel de Oliveira, Rodrigo Pandolfo viveu o sul-coreano Shin-Soo. O ator - ocidental - deu vida ao personagem com direito a fita adesiva para deixar os olhos puxados. Não bastasse isso, ainda surgiu um suposto irmão gêmeo na trama, chamado Chang, duplicando o uso do artifício.
Um espectador contumaz de novelas certamente vai perceber que a maioria dos personagens descendentes de asiáticos nos folhetins normalmente acaba em núcleos cômicos e falando errado. A imigração japonesa já completou mais de cem anos, mas, ainda assim, alguns atores parecem sentir necessidade de só incluir atores orientais quando ligados à sua ascendência. Não raro, personagens estão ligados a artes marciais, por exemplo, como se não pudessem fugir dos estereótipos.
Em 2011, em "Morde & Assopra", de Walcyr Carrasco, novela das sete sobre tecnologia, um núcleo de personagens orientais foi criado. Curiosamente, parte dos atores que integraram a novela foram vistos em poucas produções após a exibição do folhetim.
Quando questionado na época da polêmica de "Sol Nascente", Walther Negrão afirmou que não havia atores orientais com status de estrela no Brasil. Como poderiam existir se ninguém os escala? A Globo diz que houve "critério técnico".
Há, no entanto, exceções. Em "Malhação: Viva a Diferença", Ana Hikari vive uma das cinco protagonistas da trama. É a primeira oriental a encabeçar o elenco de uma novela da Globo - ainda que a produção seja especificamente sobre diversidade. A atriz já está escalada para "Quanto Mais Vida Melhor", de Mauro Wilson, próximo folhetim das sete, que estreia em 2021.
Mesmo que "Sol Nascente" tenha virado uma novela a ser esquecida, é importante que tenha voltado à tona graças a essa discussão levantada por Dani Suzuki. A Globo - e todas as emissoras - precisam desenvolver e melhorar seus programas de diversidade não só para estimular maior representatividade em suas produções, mas também para evitar que erros crassos e ofensivos - como um ator usando fita adesiva nos olhos - sejam cometidos.
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