70 anos de TV: Vida Alves relembrou primeiro beijo e rixa com Lima Duarte
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Resumo da notícia
- Em uma de suas últimas entrevistas, atriz relembrou o primeiro beijo das novelas e também o primeiro beijo lésbico
- Vida Alves afirma que Lima Duarte não achou bom um de seus primeiros testes como atriz
- A pioneira contou ainda como teve de pedir autorização para beijar na TV
Em 2015, dois anos antes da morte de Vida Alves (1928-2017), encontrei a atriz para uma entrevista em sua casa, em São Paulo, onde também funcionava o Museu da TV. Pioneira, a atriz deu o primeiro beijo das telenovelas e também o primeiro entre mulheres. Decidiu boa parte de sua vida à Fundação Pró-TV, que tem como objetivo preservar a memória da televisão e hoje tem comando do pesquisador Elmo Francfort. No ano que o veículo completa sete décadas de existência, o museu pede por ajuda.
Selecionei aqui alguns trechos de minha conversa com Vida, originalmente gravada para o programa "Mulheres", da TV Gazeta, e uma de suas últimas entrevistas. Destaco aqui alguns trechos inéditos. Há, por exemplo uma rixa entre a atriz e Lima Duarte no começo da carreira e um puxão de orelha em Lolita Rodrigues e Hebe Camargo (1929-2012). Leia abaixo.
"BIG BROTHER BRASIL" NOS ANOS 50
"No dia em que foi falado que haveria a televisão, todos nós ficamos nos perguntando o que seria isso. Falaram que seria um aparelho que mostra você na casa da pessoa. A pessoa liga e vê você. 'Como assim me ver? Eu inteira ou a voz?', eu perguntava. Decidi depois: 'Então não vou mais na privada, não quero que todo mundo me veja assim'. A gente achou que seria espiado pela televisão e só depois entendemos."
DO RÁDIO PARA A TV
"Em São Paulo, a mão de obra veio só do rádio, porque o dono das principais rádios do país comprou a televisão (Assis Chateaubriand). E o que eles fizeram? Simples. Pegaram as nossas carteiras de trabalho e mudaram. Na minha estava escrito que eu era atriz, diretora, produtora e escritora que eu já era, mas de rádio. Daí eles pegaram e escreveram um 'e de televisão'. E nós achamos bom. Aumentaram o trabalho, mas não nos queixamos. Tínhamos 18, 19, 20 anos. Queríamos era fazer, era aparecer."
ESQUECERAM DO QUE LEVAR AO AR NO DIA SEGUINTE À INAUGURAÇÃO DA TV
"Ficaram todos bestiados, abobados. Diziam: 'Esquecemos! E amanhã, o que vamos fazer?'. Ninguém se lembrou que era uma continuação. Prepararam uma festividade e esqueceram do depois. Para aquela festividade, tinha até um americano tomando conta, mas ele também dormiu no ponto e não deu conta. Tinha de haver uma programação para todo dia. Foram a consulados, porque todos eles têm filmes sobre suas cidades, seus países, sobre galinha que bota ovo diferente, sei lá, o que fosse. Qualquer filme preencheria o horário no dia seguinte."
O HOMEM DO TERNO BRANCO
"O Assis Chateaubriand (1892-1968), vestindo terno branco, chegou e nem se importou se a cor branca era boa ou se não era. Naquela época, a cor branca era proibida, afinal, a televisão era preto e branco. Mas lá estava ele de branco. Ele convidou o governador, o arcebispo, uma madrinha e dois ou três principais apresentadores de rádio da época. "
A PERMISSÃO PARA O PRIMEIRO BEIJO
"O Walter Forster (1917-1996) teve ir ao meu marido explicar como se dava um beijo técnico e pedir permissão. Ele morava aqui na esquina e eles eram praticamente amigos e da mesma idade. O Walter tinha 14 anos a mais que eu, o meu marido tinha oito, então eles se entendiam mais. Ele me falou que iria falar com o Giani, meu marido era um engenheiro italiano. Veio tomar um café e explicou. Ele disse: 'Vou fazer um beijo técnico, vou te mostrar como é'. Meu marido fortão, grande, e ele explicando: 'A Vida fica quietinha, faz uma cara de boba, fecha um pouquinho o olhinho, abre um poquinho a boquinha. Eu chego, encosto a mão no ombro, faço um carinho e encosto meus lábios no dela. Espero um segundo e me afasto'. Meu marido perguntou: 'Só isso?'. E o Walter: 'Só isso'. Pronto, estava aprovado o primeiro beijo da TV.
FOTÓGRAFO CONSERVADOR
"O fotógrafo não fez registro do primeiro beijo. Depois que gravamos a cena, quando o Cassiano Gabus Mendes (1929-1993), que era o diretor artístico da TV Tupi, falou que queria ver a foto do beijo, chamou o fotógrafo e pediu. Ele falou que não fez o clique. Ao ser perguntado da razão, o fotógrafo disse: 'E alguém vai publicar uma vergonha dessas?'."
O PRIMEIRO BEIJO LÉSBICO
"Foi em 1964, não me lembro exatamente o mês. Beijei a Geórgia Gomide (1937-2011) e não me apaixonei! Foi leve, foi simples e foi romantiquinho. Fizemos com muito bom gosto, era uma peça muito famosa, que já havia sido levada ao cinema, chamada 'Calúnia'."
A PRIMEIRA MÃE DE TONY RAMOS NA TV
"Tony Ramos estreou na TV como filho (na novela "A Outra", em 1965). Foi muito agradável, ele era um garotinho um pouco mais velho que meu filho, mas bonitinho, simpatiquinho e educadinho igual ao meu filho. Comecei a chamá-lo de filho, tenho um carinho grande por ele. Gostei desde o primeiro dia e gosto até hoje. Tratava bem os colegas e, quando o vejo, o chamo de filho."
"LOLITA RODRIGUES FOI TOLA"
Eu acho que a Lolita Rodrigues foi tola de contar que foi substituir a Hebe (que teria ido namorar) para cantar o Hino da TV na inauguração. Alguém conta que o outro faltou? Não conta. Só vi a Lolita fazer isso, em favor da Hebe. Era só ela dizer: 'Eu vou cantar o Hino'. E, se alguém dissesse que era horroroso, ela responder: 'Eu não acho'. O Hino da TV foi escrito pelo nosso principal poeta e pelo principal maestro da época, que eram o Guilherme de Almeida e Marcelo Tupinambá. Se a música ficou feia ou não, não se sabe, mas a Hebe, espertinha, falou tanto isso que todo mundo achou. Eu fui contrária à essa conversa. Nunca vi ninguém contar que o outro não foi. Ela devia ter dito: "Eu que fui e cantei e pronto, acabou". Pensando direitinho, foi um pouquinho de infantilidade da Lolita."
LIMA DUARTE SABOTADOR DE TESTES
"Na época da rádio, o Lima era apenas o operador de som. Ele estava ali, um ano mais novo que eu, sentadinho, quietinho, bobinho. Depois, ele passou a ser sonoplasta e ganhou vários prêmios. Antes de ganhar prêmios como ator, ele ganhou sete troféus Roquette Pinto como sonoplasta, ele era um ótimo profissional. Passava a madrugada ouvindo música, aquela coisa de quem quer aprimorar-se. Inclusive eles tinham o hábito de assistir o filme antes de fazê-lo na TV ou mesmo no rádio. Assistiam no cinema para adaptar para a TV e fazer perfeitamente igual, principalmente a parte do som e da música. Fiquei com raiva do Lima. O diretor artístico, Walter Forster, perguntou durante um teste o que acharam de mim para estrelar uma novela de rádio. Todos acharam meu teste bom. O Lima respondeu: 'Bonitinha, tem uma franjinha bonitinha'. Falou só isso. Na hora, quase falei um palavrãozinho. Não falei, mas pensei. Eu pego um pouquinho no pé dele com essa história. É meu amigo hoje.
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