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Ryan Murphy erra a mão em 'Ratched', mas acerta em 'The Boys In The Band'

Sarah Paulson, a protagonista de "Ratched" - Reprodução / Internet
Sarah Paulson, a protagonista de "Ratched" Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

27/09/2020 14h52

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Resumo da notícia

  • Série com Sarah Paulson é inspirada em personagem do filme "Um Estranho no Ninho", de 1975
  • Produção parece colcha de retalhos sem uniformidade e mistura melodrama com terror B
  • Já a atualização de "The Boys In The Band" é um tiro certeiro dado pelo produtor

É de se assustar com a proficiência de Ryan Murphy. Poucos showrunners põem no ar tanta séries quanto ele atualmente. Depois das recentes "Pose", "The Politician" e "Hollywood", a estreia da vez é "Ratched", inspirada na personagem eternizada por Louise Fletcher no filme "Um Estranho no Ninho", de 1975. Desta vez, cabe a Sarah Paulson, uma das grandes parceiras de trabalho do diretor, assumir o posto de enfermeira sádica. Ao contrário do que se possa sugerir, no entanto, a personagem não está na produção para fazer maldades. Anti-heroína, Mildred Ratched tem justificativa para seus atos e acaba passando por uma transformação aos olhos do espectador, o que, de certa maneira, traz alguma frustração.

Com direção de arte impecável e luxuosa, "Ratched" tem coadjuvantes de luxo, como Sharon Stone, Brandon Flynn e Corey Stoll, mas são veteranas como Judys Davis e Cinthia Nixon que roubam a cena. Davis, como uma chefe de enfermagem mau humorada e invejosa, dá um show. Toda a trama gira em torno da chegada de um assassino de padres a um manicômio, vivido por Finn Wittrock. A partir daí, a história passa a acumular uma miscelânea de tramas sem necessariamente explorá-las a fundo, como é peculiar às produções de Murphy.

"Ratched" acaba por virar uma grande colcha de retalhos sem uniformidade, mas com grandes momentos para alguns de seus intérpretes. Em dado momento, a série ganha ares de filme B de terror e suspense. Em outros, vira um grande melodrama. Dono de projetos aclamados como "American Crime Story", Ryan Murphy perdeu a mão neste seriado.

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Jim Parsons, Robin De Jesus, Michael Benjamin Washington e Andrew Rannells em "The Boys In The Band"
Imagem: Divulgação

Se em "Ratched" ele errou, em "The Boys In The Band", Murphy dá um tiro certeiro. Remake do longa-metragem de William Friedkin (diretor de "O Exorcista" e "Cruising") baseado na peça de mesmo nome, o filme, que entra no catálogo da Netflix no dia 30, atualiza uma história seminal para os LGBTs americanos. Na época, o texto de teatro virou um grande sucesso nos Estados Unidos, em plenos anos 60, ao tratar de homossexualidade entre um grupo de amigos.

Se o original não envelheceu tão bem, o projeto que Murphy produziu propõe um novo olhar sobre a época, embora sem grandes alterações na história. Praticamente todo ambientado em um apartamento, o longa mostra o quanto pode ser amargo não viver à altura das expectativas da sociedade ou se confinar em um armário. O que "The Boys In The Band" mostra é que, assim como ocorreu em "The Normal Heart", o diretor quer prestar reverência a histórias canônicas para toda uma comunidade. Murphy se recusa a deixá-las cair no esquecimento. Não se pode acertar sempre, como em "Ratched", mas, quando tudo dá certo, é bem intenso - e bonito.