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Primeira brasileira no 'Drag Race', Miss Abby OMG: 'Quero que se orgulhem'

Miss Abby OMG, brasileira que participa do "Drag Race Holanda" - Reprodução
Miss Abby OMG, brasileira que participa do "Drag Race Holanda" Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

03/10/2020 12h43

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Resumo da notícia

  • Aos 25 anos, Abby é a primeira representante do Brasil na franquia do reality show
  • Drag queen afirma que Pabllo Vittar e Gloria Groove foram suas grandes inspirações
  • Morando na Holanda, Abby tem planos de vir ao Brasil para shows após a pandemia

Um dos países que assistem "RuPaul's Drag Race" no mundo, o Brasil ainda não tinha conseguido emplacar uma representante entre as concorrentes. Agora a situação mudou. Miss Abby OMG é uma das candidatas da versão holandesa do reality show e tem usado referências ao país em alguns de seus looks - em um deles, se vestiu como uma passista.

Com 25 anos, Henrique dos Santos está no país desde os 14. Fala holandês fluentemente, está noivo há uma década e tenta se acostumar com o sucesso. "Ainda causa estranheza me pedirem fotos na rua", brinca. No programa Abby OMG mostra personalidade forte: já teve discussões com duas colegas por não gostar de críticas. "A gente perdoa, mas não esquece", afirma a dragagem queen, que espera um dia poder conhecer Gloria Groove e Pabllo Vittar, suas inspirações para começar a carreira. Abby conversou com a coluna. Leia a seguir.

Acha que o Brasil está orgulhoso de ter sua primeira representante no "Drag Race"?
Eu acho que sim! Espero que se orgulhem de mim. Estou recebendo tanto apoio do pessoal do Brasil e até de pessoas famosas! Estou mostrando o que eu posso fazer e mostrando meu melhor. A Pabllo Vittar outro dia comentou minha foto e quase me deu um piripaque! (risos)

É verdade que você começou a se montar por causa da Pabllo Vittar e da Gloria Groove?
Sim! Minha vontade de virar drag surgiu vendo a Pabllo Vittar e a Gloria Groove virarem grandes artistas. Fiquei pensando: "Se elas podem eu também vou poder!". Vi que poderia ter uma carreira de uma artista, fazendo o que gosto, me vestindo como quisesse. "RuPaul's Drag Race" abre muitas portas e abriu para mim também. Tudo chegou no mesmo momento. Eu assistia o programa e amava ver os vídeos da Pabllo e a Gloria. Cheguei a assistir alguns shows das drags que participaram do programa e achei incrivel! Elas estavam ganhando dinheiro, inspirando pessoas, fazendo o que gostam. Então pensei que eu vou poder fazer o mesmo.

Já tentou entrar em contato com Pabllo e Gloria?
Sempre estou comentando nas fotos, pedi para entrarem em contato com elas, mas sei que fica difícil. Espero muito poder conversar com elas, ver tudo o que a gente superou para chegar onde chegamos.

Como você foi parar na Holanda? Foi muito difícil aprender o idioma?
Com sete anos eu me mudei para a Espanha, onde fiquei por sete anos. Lá, a minha mãe conheceu o meu padrasto, que é holandês. E começou uma aventura nova para a família. O holandês é muito difícil, a gramática parece muito com alemão misturado com inglês. Foi muito difícil, eu estudei muito. Fazia escola de maquiagem e cabeleireiro e comecei a trabalhar na área. Também fiz teatro. Chegou um ponto em que cansei de fazer cabelo e maquiar pessoas e decidi experimentar em mim mesmo. O resto é história.

Você foi procurada ou teve se inscrever para o "Drag Race Holanda"?
Eles me procuraram, na verdade. Eu já tenho um nome, por dizer assim. Me mandaram mensagem e convidaram para uma audição. Depois, fiz a inscrição e mandei meu vídeo. Eles gostaram muito da ideia de ter uma drag brasileira. Fui a primeira, a produção ficou muito empolgada com isso.

Abby - Divulgação - Divulgação
Abby durante uma cena do "Drag Race Holanda"
Imagem: Divulgação

Acha que sua vida seria a mesma se morasse no Brasil? Faria drag aqui também?
Eu acho que não. A minha vida não seria a mesma se eu ainda morasse no Brasil. Não sei se teria a mesma vida que teria agora: sou assumido, tenho namorado há quase dez anos, estamos prometidos um ao outro. Eu acho que me assumiria, mas não sei se faria drag, que é um trabalho ainda visto com muito preconceito em alguns lugares. Mas sei que, hoje, tem muitas pessoas que amam também as drags, isso me deixa muito feliz.

Como foi a última vez em que você veio ao Brasil?
Antes de começar a fazer drag, fui ao Brasil visitar minha família. Faz cinco anos e eu não pisava no país há 15 anos.

Eu já estava assumido e, na minha família, pude ver como está o país na questão da aceitação LGBT. Eles aceitam, mas não querem falar sobre isso. Eles falam que não tem problema, mas você sente.

Todo mundo da minha família é evangélico ou católico. Eles não querem falar da minha homossexualidade ou se faço drag hoje. Tenho muitas pessoas da família que apoiam, mas a gente sente, é diferente do que vivo aqui na Holanda. Aqui não preciso esconder minha homossexualidade ou meu trabalho de drag queen.

Sua mãe esta orgulhosa por ter ver na TV?
Minha mãe está super orgulhosa! Ela mudou, está outra mulher. Me dá tanto apoio, tantos conselhos e pediu tantas vezes perdão por não ter visto meu trabalho antes. Está super feliz.

O que você diria para os jovens LGBTs brasileiros?
Ponham na cabeça que, se pessoas que vocês admiram conseguiram fazer tudo isso, a gente também vai conseguir. Se você bota algo na cabeça, você vai conseguir.

Eu adoraria ser uma fonte de inspiração para os jovens brasileiros.

Você teve discussões com Sedergine e Janey Jacké no programa. Como está a relação com elas?
A gente está super de boa uma com a outra. Acho que foi mais no programa mesmo. Era muita coisa, muita tensão. Você tem de escutar o que está fazendo de bem ou mal, e o comentário dos outros. Eu não gostei do jeito que eles falaram comigo e isso dá para ver claramente. A gente perdoa, mas não esquece. Todas querem ir ao Brasil fazer uma tour depois da pandemia.

Foi muito difícil competir na batalha de dublagem?
Fiquei muito tenso. Parece que é fácil, mas na hora você sente o corpo todo tremendo. Não é algo fácil, por dizer assim. Fiquei pensando que estava voltando para casa, que tinha chegado a minha hora.

Quais os planos para depois do programa?
Conhecer RuPaul e fazer um tour pelo mundo. Aqui na Holanda a gente está fazendo shows com segurança, com um metro e meio de distância, sem pessoas perto. Tem que ter distanciamento. É muito louco passar de ninguém a alguém e todo mundo te reconhecer. Pessoas que não te parariam nunca agora pedem foto e tudo mais. É muito esquisito, tenho que me acostumar. Em breve, quero me apresentar no Brasil, assim que passar a pandemia. Muitas queens adorariam ir ao Brasil, sempre falam comigo e se oferecem para ir junto.