Em pleno 2020, 'A Fazenda' achou que seria divertido fazer blackface
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Resumo da notícia
- Durante seu quadro de humor, Carioca apareceu fazendo blackface, prática historicamente condenada
- Comediante imitou Luiz Carlos, vocalista do grupo de pagode Raça Negra
- Para pesquisadora há racismo ao fazer blackface mesmo que não haja intencionalidade
Em 1915, um filme lotou os cinemas americanos. "O Nascimento de uma Nação" chegou a ser recomendado à população da época pelo então presidente Woodrow Wilson. Hoje, ele é motivo de vergonha. O que acontecia nele? Negros eram interpretados por brancos de maneira caricata e rosto pintado, sempre como vilões, estupradores e assassinos. A desumanização dos personagens era clara e o longa-metragem é reconhecidamente racista não só por seu roteiro mas pelo uso do blackface.
Nos últimos anos, brancos pintarem o rosto de maquiagem para fazer graça com negros virou uma grande discussão. Por pressão da comunidade negra, peças foram suspensas e a prática caiu em desuso. Hoje, quando ocorre, causa escândalo. Foi exatamente o que acontece no episódio desta quinta-feira (15) de "A Fazenda". Em pleno 2020, o reality show julgou que seria engraçado exibir um humorista fazendo blackface.
Durante seu quadro no programa, Márvio Lúcio, o Carioca, apareceu imitando Luiz Carlos, vocalista do grupo de pagode Raça Negra. Caracterizado com cabelo crespo, maquiagem pesada e nariz mais avantajado, o humorista apareceu cantando um dos hits da banda para fazer referência a Luiza Ambiel, que se envolveu em confusão por causa dela. Haveria mil maneiras de fazer graça com as queixas da atriz ao ouvir a canção, como a própria montagem com ela rodopiando que foi ao ar. A produção de "A Fazenda", no entanto, achou por bem colocar Carioca no ar com a cara pintada.
Provavelmente deve haver quem entenda o ato do comediante como uma homenagem. Curiosamente, não se costuma ver humoristas negros imitando pessoas brancas, a não ser em casos especiais e com tom crítico, como é o caso de "As Branquelas". Os tributos podem ser prestados de outras maneiras. Em entrevista à CNN Brasil, a pesquisadora, advogada e doutoranda em direito político Waleska Miguel Batista explicou a razão de o blackface ser ofensivo: "Não é só pintar a pele, mas também colocar cabelos crespos e peruca, fazer maquiagens para evidenciar o que entendem como lábios mais grossos e o nariz maior, além de roupas e comportamentos considerados piadas para o entretenimento dessas pessoas brancas que iam nesses espaços".
Para a pesquisadora, a não-intencionalidade não isenta ninguém. "Não precisa nem de intenção, porque o racismo é a prática consciente ou inconsciente da discriminação com fundamento na raça", afirmou. "O movimento antirracista apontou isso como uma forma de manutenção do racismo. Com esse fundamento, foi colocado que as pessoas não deveriam fazer essa prática, sendo classificada como vergonhosa e desprezível".
Nas redes sociais, foram muitas as pessoas que se surpreenderam com o ocorrido - e lamentaram.
A Record poderia ter passado sem essa. A edição desta quinta-feira (15) de "A Fazenda" merece cair no esquecimento.
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