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Apesar de avanços, TV brasileira está longe da equanimidade racial

Taís Araujo como Marielle Franco, no especial "Falas Negras", da Globo - Divulgação/Globo/VIctor Pollak
Taís Araujo como Marielle Franco, no especial "Falas Negras", da Globo Imagem: Divulgação/Globo/VIctor Pollak

Colunista do UOL

20/11/2020 10h47

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Resumo da notícia

  • Se comparada às décadas anteriores, TV ganhou mais diversidade, mas ainda é pouco
  • É preciso pensar em ações para valorizar artistas e jornalistas além do Dia da Consciência Negra
  • Dramaturgia e reality shows aumentaram número de pessoas pretas em seus elenco, mas elas ainda são minoria

Para celebrar o Dia da Consciência Negra neste ano, as emissoras trataram de fazer alguns ajustes em suas programações. Na Record, as bancadas dos telejornais foram assumidas por apresentadores negros. Na Globo, irá ao ar o especial "Falas Negras", dirigido por Lázaro Ramos, e Thelminha Assis, vencedora do "BBB 20", foi convidada a apresentar por um dia o "É De Casa". É de se questionar, no entanto, porque esse protagonismo para pessoas da pele preta parece ser oferecido na maior parte das vezes apenas uma vez ao ano.

Não se pode negar, muita já mudou na televisão brasileira. Antes relegados a papéis de escravos ou empregados na dramaturgia, atores negros conquistaram espaços importantes. Em 1995, em "A Próxima Vítima", Silvio de Abreu criou uma família de classe média vivida por Antonio Pitanga, Zezé Motta, Camila Pitanga e Norton Nascimento. Na mesma novela, Lui Mendes viveu um romance homossexual - ainda que sem toques - com André Gonçalves. Em 2004, Taís Araújo que já havia estrelado "Xica da Silva" na TV Manchete, interpretou a primeira mocinha contemporânea negra em "Da Cor do Pecado". Junto com Camila Pitanga, a atriz viria a entrar para o time de protagonistas da Globo.

É curioso pensar que foi preciso entrar para o século 21 para que atores negros tivessem a oportunidade de ganhar os papéis principais de novela. Basta pensar que até mesmo histórias sobre escravidão acabam estreladas por atores brancos, caso de "Escrava Isaura", grande sucesso de 1976. É preciso reconhecer que, embora avanços tenham ocorrido, discussões desnecessárias - e constrangedoras para quem tem empatia - como o questionamento ao posto de galã oferecido a Lázaro Ramos em "Insensato Coração", de 2011, ocorreram. Na época, ator teve de responder pelo simples fato de ter talento e não ser caucasiano.

Se comparada ao começo dos anos 2000, a televisão brasileira está muito mais diversa. Maju Coutinho assumiu o "Jornal Hoje" e teve passagem pelo "Jornal Nacional". Manoel Soares foi promovido ao time de apresentadores do "É De Casa". Elencos de novelas passaram a apostar muito mais na diversidade e nos ofereceram a sorte de conhecer nomes como Jéssica Ellen, Flávio Bauraqui, Luis Miranda e Davi Júnior. Depois de premiar alguém com discurso altamente tóxico em 2019, o "BBB" celebrou a vitória de uma mulher negra, hoje de inegável sucesso publicitário.

Ainda assim, há que se perguntar: por que reality shows ainda têm maioria esmagadoramente branca em um país tão miscigenado como o Brasil? Por que apresentadores ganham chances em telejornais apenas no Dia da Consciência Negra? Ainda há muito a conquistar e é preciso que pessoas brancas em cargo de chefia exercitem seus olhares: não dá para mais fingir que está tudo bem. É preciso que sejam bons aliados. Está na hora da empatia. E é preciso aumentar a diversidade na televisão brasileira.