Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Em retorno, 'Amor de Mãe' transforma coronavírus em personagem
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Depois de uma longa fase de reprises, a Globo retomou a exibição de capítulos inéditos em sua faixa das nove. Com uma reta final de 23 episódios inteiramente gravados há meses, "Amor de Mãe" voltou com um personagem extra: o coronavírus. A trama de Manuela Dias tratou de usar a pandemia como pano de fundo para sua história. A todo tempo houve menções à covid-19 e aos cuidados necessários para combater a doença.
A protagonista, Lourdes (Regina Casé), por exemplo, passou a confeccionar máscaras com múltiplas camadas de tecido. Pressionada pelos filhos a ficar em casa cumprindo isolamento, higienizou compras de supermercado enquanto obrigou Ryan (Thiago Martins) a comprar o coentro esquecido. No dia de cumprir sua promessa pelo desaparecimento de Domênico (Chay Suede), fez questão de ressaltar que a cumpriu mesmo com a pandemia.
Outros personagens também fizeram a mesma referência. Enfermeira, Betina (Ísis Valverde) decidiu retomar a profissão e ir para a linha de frente. Lídia (Malu Galli) citou o uso de álcool gel. Thelma (Adriana Esteves), por sua vez, se queixou que o filho queira se mudar durante tempos de covid, que, aliás, ela já contraiu. Até mesmo na cadeia os cuidados ficaram claros: os presidiários Marconi (Douglas Silva) e Álvaro (Irandhir Santos) conversaram usando máscara, o vilão mais rico, claro, usando uma sem eficácia comprovada.
Para os espectadores, os artifícios para proteger o elenco durante a gravação também foram explicitados. Na maior parte das cenas, atores surgiam contracenando sem proximidade. Da mesma maneira, o recurso de chamadas de vídeo passou a ser explorado, assim como tem ocorrido no mundo real, com direito a aparição dos diretores do folhetim como figurantes.
Também houve boas viradas, algumas promovidas para enxugar a narrativa. Stella (Letícia Lima) foi assassinada por Belisário (Tuca Andrada), mais um antagonista que usa a máscara errada, dessa vez no queixo. E, se havia dúvidas sobre a obstinação de Thelma, a vilã foi capaz de matar Jane (Isabel Teixeira), sua melhor amiga, para preservar o segredo sobre o paradeiro de Domênico.
Como de costume, "Amor de Mãe" se mostrou uma proeza de texto e seguiu dando mostras de grande delicadeza em sua história. Há que se perguntar, no entanto, se em tempos de mais de 2.000 mortes diárias, o brasileiro gostará de seguir refletindo sobre a pandemia também na ficção. Que a Globo permita que Manuela Dias ganhe o direito de emplacar uma nova trama no horário sem tais sobressaltos.
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