Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
'Pantanal' atualiza trama, mas hesita na maneira como encara homofobia
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Cercado de expectativa desde o anúncio, o remake de "Pantanal" atualizou boa parte da história originalmente exibida pela TV Manchete. Num tempo mais conectado, a internet adentrou a história e o veganismo virou pauta. Nesta segunda-feira (18), Jove, interpretado por Jesuíta Barbosa, virou alvo de chacota por não ter enfrentado peões machistas. Por causa disso, Tenório (Murilo Benício) afirmou que ele podia não ser, mas "levava jeito de mulher", deixando claro que ser gay seria um defeito, enquanto ouvia a filha dizer que o mocinha na verdade "civilizado" e os outros eram "preconceituosos".
Já os peões da fazenda de José Leôncio (Marcos Palmeira) ficaram a todo tempo tirando sarro da possibilidade de o herdeiro ser homossexual. "Se alguém perguntar se ele é, você diz que 'não sei'", brincou um dos boiadeiros. Antes, ao ouvir que o rapaz veio de outro mundo, um deles rebateu: "Perto ou longe, o mundo é um só". Jove não é. Embora sensível, se envolverá com Juma (Alanis Guillen), como previsto na história original.
Embora tenha sido trazida para os tempos atuais, "Pantanal" peca no quesito diversidade. Não há tantos atores negros quanto nos folhetins anteriores da Globo, por exemplo. Da mesma maneira, faltou um enfrentamento mais firme da homofobia propagada em sua história, em tom de "humor". É compreensível que a homossexualidade cause controvérsia no interior do país, mas, numa era conectada, a discussão está bem mais avançada. Nesse sentido, a novela parece ter parado nos anos 90.
Apesar de ser um dos autores mais importantes da teledramaturgia brasileira, Benedito Ruy Barbosa, criador de "Pantanal", não é exatamente um entusiasta da diversidade. Em 2016, durante a festa de lançamento de "Velho Chico", o roteirista declarou: "Odeio história de bicha. Pode existir, pode aceitar, mas não pode transformar isso em aula para as crianças. Tenho dez netos, quatro bisnetos e tenho um puta orgulho porque são tudo macho pra cacete".
E não parou por ai: "Não sou contra, não acho errado. O que acho é que quando eu tenho na mão 80 milhões assistindo minha novela, tenho que ter responsabilidade com as pessoas que estão me assistindo. Tenho que saber que tem muito pai que não quer que o filho veja, porque eles não sabem explicar, não sabem como colocar. Muita gente reclama disso para mim. O que não é justo é você transformar: só é normal o cara que é bicha, o que não é bicha não é normal. A mulher que é sapatona é perfeita, a que não é sapatona não é legal. É assim que estamos vivendo".
Apesar da condução errada no começo do capítulo, Bruno Luperi, autor jovem, atualmente escrevendo o folhetim, parece entender que homofobia não pode ser tratada como brincadeira. É preciso haver uma condenação mais clara.
Isso ocorreu quando, ao ser confrontado pela filha, Guta (Julia Dalavia), Tenório afirmou que um filho homossexual era um castigo. Foi questionado sobre como seria se ela fosse lésbica. A personagem deixou claro que o Brasil é o país que mais mata a população LGBTQ no mundo. Funcionou, mas para os peões de José Leôncio, tudo segue uma grande brincadeira. Não é normal esse tipo de conversa em grupo, LGBTfobia não é "brincadeira".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.