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Margarida Bonetti: Acusação de mãe em cárcere privado e briga pela herança

Margarida Bonetti: em processo, ela afirma que veio ao Brasil cuidar da mãe e ignora acusação nos EUA - Reprodução
Margarida Bonetti: em processo, ela afirma que veio ao Brasil cuidar da mãe e ignora acusação nos EUA Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

08/07/2022 16h36

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Conforme prometido, a coluna deu início à leitura das 2139 páginas do processo (público, diga-se) - e mais 219 folhas de anexos - envolvendo Margarida Bonetti, "a mulher da casa abandonada" e sua irmãs. Como por causa do podcast de Chico Felitti apenas Margarida e seu marido, Renê Bonetti, tiveram seus nomes publicamente divulgados, aqui não nomearemos os outros parentes vivos. Mas há uma grande cizânia na família da mulher que vive uma mansão aos pandarecos em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo.

Desde 2011 corre na Justiça um processo de inventário dos bens de Geraldo Vicente de Azevedo, pai de Margarida Bonetti. Além dela, duas irmãs disputam a herança deixada pelo empresário. E a batalha começou quando Margarida ainda vivia com a mãe, Lourdes, conhecida como Lurditas.

Num documento protocolado na 6ª Vara da Família e Sucessões do Foro da Capital, Margarida não diz ter vindo dos Estados Unidos para evitar responder às acusações de escravizar sua empregada doméstica. Diz o texto: "Margarida, que morava nos EUA, veio por uma semana; encontrou sua mãe, de 84 anos, completamente abandonada pela filha mais velha, a única que morava em São Paulo. A viúva telefonava diariamente implorando por ajuda, mas a filha não atendia o telefone quando via o número da mãe no bina e, desde a morte do pai, recusou-se a visitar sua mãe na Rua Piauí e consequentemente ajudar a administrar os bens".

Na Justiça, a justificativa de Margarida para vir ao Brasil não tem a ver com o crime do qual foi acusada, mas, sim, com a mãe. "Diante dessa situação, Margarida mudou-se dos EUA para dar apoio, cuidar e auxiliar a mãe em tudo, inclusive na administração dos bens", diz o documento.

O argumento, no entanto, é contestado por outra de suas irmãs, que chegou a protocolar um pedido para tirar a mãe da mansão conhecida como "casa abandonada". No texto ela requere a remoção da mãe do imóvel, "em que se encontra em cárcere privado, sem os cuidados e higiene necessários". A intenção da filha é levar a mãe para uma casa de repouso.

No pedido, ela ainda pleiteia, além da remoção imediata, o direito a limpar o imóvel e promover a remoção do entulho e catalogação dos bens móveis. Ela ainda diz que assumirá os custos da limpeza, já que "há bens valiosos (porcelanas, pratas, moedas e joias) que precisam ser cuidados e que apenas ela, única herdeira além da viúva, tem condições de fazê-lo adequadamente".

Uma pausa aqui para entender melhor. Se são três irmãs, por que uma delas se diz única herdeira. A gente explica: para facilitar questões de inventário, as filhas teriam combinado de abrir mão da herança do pai e deixar tudo para a mãe, para, em vida, já resolver a divisão de bens. Uma delas, no entanto, seguiu como herdeira e não atendeu aos pedidos. Temos, portanto, uma cizânia, uma briga por herança.

Voltando à remoção da mãe, em outro documento a irmã que segue herdeira dos bens deixados por Geraldo diz que "a situação é absolutamente crítica". Ela afirma que tem "tentado, todos os dias, falar com a mãe por telefone, em vão. Ninguém atende ao telefone. Por diversas vezes, bateu na casa da Rua Piauí, tocou campainha, bateu palmas e jamais foi atendida". Ela ainda reforça que a "mãe está em cárcere privado. Nem os parentes, nem ela mesma conseguem qualquer contato com ela".

Casado com a outra irmã que abriu mão da herança, um dos cunhados de Margarida chega a atestar em documento de 2011 que sua sogra, aos 97 anos e com dificuldade de locomoção por problema na cabeça do fêmur, está sendo "muito bem cuidada por sua filha Margarida, que se dedica tão somente a cuidar de sua mãe". No mesmo documento, ele diz que a casa tem "problemas de manutenção que não estão sendo sanados por total falta de condição financeira de Dona Lourdes, mas que é seu único abrigo, estando limpa e funcional". O filho de Margarida também diz em outro texto que a casa está em "perfeitas condições de higiene". Diz ainda que a tia, quando morou na casa, chegou a ter 20 gatos lá dentro. Neste post, estão as fotos da casa na época do documento.

A casa abandonada de Margarida Bonetti

No mesmo documento, o filho de Margarida afirma que o avô deixou a casa e mais dois imóveis para a avó. E que joias e uma coleção de moedas "foram furtadas em um assalto (que durou por volta de uma semana)". No final da vida, seu avô complementaria a renda vendendo algumas dessas moedas - para se ter uma noção, parte da coleção era avaliada em 40 mil dólares, na época, em outro documento anexado nos autos. Há, ainda, carta de uma outra sobrinha de Margarida afirmando que haveria um plano da tia herdeira em tomar tudo. Há até mesmo depoimento de dois porteiros de prédios da frente e de um taxista em favor de Margarida.

Nos autos, há até mesmo acusações de uso de fotos antigas da casa abandonada como se fossem novas, com direito a comparações do posicionamento de árvores. Exames também são anexados para justificar a ausência em audiências conciliatórias. Alguns textos chegam a conter diálogos, alguns muito favoráveis a Margarida Bonetti, quase como se tivessem sido escritos por ela. Há briga até mesmo pela abertura de um cofre que estaria na residência.