Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Luisa Mell e Datena erram feio ao espetacularizar casa abandonada invadida
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A invasão da mansão em que vive Margarida Bonetti, que teve a história contada por Chico Felitti no podcast "A Mulher da Casa Abandonada", da "Folha de S. Paulo", virou um grande circo no final da tarde desta quarta-feira (20). A pretexto de saber em que condições vivia a mulher que fugiu dos Estados Unidos sob a acusação de escravizar uma senhora, a polícia estourou uma das janelas do imóvel sob múltiplas lentes, helicópteros, anônimos e famosos fazendo lives. Na rua, pessoas assistindo a tudo, aos berros.
Na televisão, "Cidade Alerta" e "Brasil Urgente" se dividiram na cobertura. O programa da Record vem abordando o caso nas últimas semanas - sem creditar o podcast que trouxe à tona a história, diga-se de passagem - teve uma transmissão mais acertada, ainda que com exageros. Especulou-se, por exemplo, se a casa não poderia desabar a qualquer momento. Já na Band o que se viu foi mais constrangedor. José Luiz Datena, normalmente muito bem treinado para esse tipo de trabalho, não teve quem lhe desse um pano de fundo da história em sua produção.
Nos primeiros minutos da cobertura, foram ouvidas declarações dando conta de que Margarida estaria em condições análogas à escravidão, o que não procede. "Tá todo mundo querendo ajudar a Dona Margarida", afirmou o apresentador, alheio ao fato de que uma multidão a xingava na porta da mansão, que tem muros pixados com palavras como "escravocrata". Além de mostrar imagens externas, o "Brasil Urgente" chegou a entrar na casa de Margarida Bonetti com suas câmeras. Nesse caso, vale lembrar, a imprensa não tem mandado para invadir residências. Errou.
Datena, corretamente, corrigiu-se ao longo da transmissão e desfez parte das desinformações. Fez um discurso sobre os horrores da escravidão e, melhor informado, afirmou que o crime cometido nos Estados Unidos está prescrito. "A ação da polícia foi social, para saber se ela tava bem", afirmou o apresentador, que a classificou como "vítima". Difícil acreditar nisso dado o circo montado.
Luisa Mell, preocupada com bichos, fez uma live para cerca de 18 mil pessoas do lado de fora da casa. Depois, seguiu filmando o quintal e a própria Margarida, que, em dado momento, a questionou, incomodada: "Quem é essa gente me filmando?". Da mesma maneira, na rua, centenas de pessoas passaram a transmitir a invasão da mansão ao vivo. Dentro de uma propriedade privada - ainda que se imagine o contrário - a situação muda de figura. Ninguém questiona o trabalho de proteção animal, mas ele não pode virar pretexto para estimular um circo movido pela curiosidade de uma multidão que quer saber o que há dentro do imóvel. Uma coisa é filmar para garantir a segurança ou lisura do processo. Outra é transmitir para milhares de pessoas sem autorização da dona da casa.
O que se viu nesta tarde foi uma série de exageros e muita desinformação. Apesar das boas intenções, em nome do engajamento e da audiência, perdeu-se a mão. A escravidão, assunto a ser debatido pelo podcast, pouco foi lembrada pela maior parte dos frequentadores desse circo. Um triste espetáculo.
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