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Sem ser chapa-branca, doc mostra por que morte de Daniella Perez parou país

Daniella atuava em novela da mãe, Gloria Perez                              - REPRODUÇÃO
Daniella atuava em novela da mãe, Gloria Perez Imagem: REPRODUÇÃO

Colunista do UOL

21/07/2022 07h00

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Quando anunciado que "Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez" seria produzido com anuência de Gloria Perez, muita gente pensou que poderia se tratar de uma produção "chapa branca", sem grande aprofundamento nos fatos que cercam o crime. Ledo engano. O que se vê na série da HBO Max, que disponibiliza seus três primeiros episódios nesta quinta-feira (21), é um retrato fiel, minucioso e, por vezes, chocante do crime parou o Brasil no final de 1992. Há, por exemplo, a exibição, em diversos ângulos, do corpo da vítima. Até mesmo as genitálias dos assassinos, tatuadas com seus respectivos nomes, aparecem rapidamente.

Daniella Perez era das estrelas de "De Corpo e Alma", novela escrita por sua mãe naquele ano. Acabou brutalmente assassinada por seu parceiro de cena e sua esposa, Guilherme de Pádua e Paula Thomaz, no dia em que os personagens gravaram a cena em que romperiam o romance na trama da Globo. Para entender a dimensão disso tudo, no mesmo dia Fernando Collor renunciou à Presidência do Brasil e essa mudança política acabou ofuscada pela barbaridade cometida contra a jovem artista.

Ao longo dos primeiros capítulos do documentário, é possível entender que houve método por parte do ator, que pedia para amigos que Daniella lhe telefonasse a pretexto de tirar dúvidas de trabalho, o que acabava por despertar ciúme sua cônjuge. Da mesma maneira, houve planejamento para o crime, já que diversos depoimentos mostram o quanto ele a esperava nos bastidores.

Muito baseado nas lembranças de Raul Gazolla, marido de Daniella, o primeiro episódio é completamente angustiante. Ao reconstituir o passo a passo daquela noite, o ator coloca o espectador na mesma expectativa dos familiares, partilha a angústia da época, que parece ainda não ter sido sanada até hoje. Partilha também a raiva de ter abraçado o assassino pouco depois do crime, já que Guilherme de Pádua foi até a delegacia consolá-lo horas depois de tirar a vida de Daniella. O modo como recebeu a notícia sobre o autor do crime e quebrou uma sala de velório inteira também é de partir o coração.

Chama atenção, no entanto, um bastidor até então pouco conhecido. A polícia tentou sabotar por diversas vezes a solução do caso e por pouco não conseguiu, não fosse a pressão de parte da imprensa e da família. A bolsa de Daniella, que continha bilhetes do assassino e também dólares, sumiu misteriosamente e nunca foi encontrada. Um dos delegados do caso não queria indiciar a esposa de Guilherme de Pádua, mesmo havendo fortes indicativos de que ela estava envolvida com o crime. Parte da investigação, pasme, teve de ser feita pela própria família, a partir de uma dica vinda por meio de uma ligação anônima.

Entre os depoimentos, chama a atenção a força de Gloria Perez, que, mesmo em meio ao pior momento de sua vida, teve sangue frio a ponto de convidar o assassino para o velório, mesmo já sabendo que ele era o culpado, para não atrapalhar o flagrante. Sua luta fez com que homicídio qualificado passasse a ser enquadrado como crime hediondo. Até hoje Daniella segue lembrada com carinho por amigos e fãs e merece que assim seja. A grande virtude de "Pacto Brutal" é, além de tudo, colocar fim a rumores infundados envolvendo a atriz. Agora, o documentário põe fim a uma segunda tentativa de matá-la, preservando a história como ela se deu.