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Doc sobre Hebe aponta contradições, mas mostra que ela era insubstituível
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Na televisão, terra do "nada se cria, tudo se copia", volta e meia alguém exagera ao afirmar que determinadas personalidades são "insubstituíveis". No geral, não é verdade, mas, em determinados casos, não há como negar. Alguns espaços nunca mais são ocupados da mesma maneira. É o caso do posto deixado por Hebe Camargo (1929-2012), primeira-dama da TV brasileira, dona do sofá mais famoso e disputado do país. A apresentadora, que já ganhou longa-metragem e série ficcional sobre sua história, agora tem a trajetória contada em uma série documental em quatro episódios do GloboPlay.
Na produção, com direção e roteiro de Carolina Kotscho e Clara Ramos, investiga-se como uma jovem caloura tornou-se uma das maiores celebridades nacionais e também um ícone feminista. Ao longo das décadas, conquistas e contradições de Hebe são apontadas. E é nas incoerências que estão os grandes momentos de reflexão do projeto.
Ao mesmo tempo em que era chegou a abrir mão da carreira em nome do casamento, acordou para o fato de que era dona de si. Conservadora, assumiu ter feito aborto aos 18 anos e bateu de frente com vários políticos da situação. Apoiou Fernando Collor, mas também seu impeachment, pintando a cara na TV. Liberada, admitiu usar vibradores e gostar de sexo, mas criticava as mulheres que mostravam demais o corpo. Hebe era um poço de contradições e era isso que a tornava tão intrigante.
Humilde, tinha constante temor de ser subestimada ou considerada pouco inteligente. No centro do "Roda Viva", considerado um programa feito por intelectuais, acabou aplaudida de pé. Bem-humorada, usava shortinho curto na televisão, gargalhava, mas também ensinava como as famosas deveriam se sentar de maneira elegante. Esbanjava com joias para deslumbrar a audiência, mas não abria mão de uma cervejinha.
Na reta final de sua vida, não se deixava ver triste. Inabalável, dizia que não tinha medo de morrer, tinha "peninha". Foi um exemplo de otimismo em meio a múltiplas adversidades. O que se prova ao longo desses quatro episódios é que não há, hoje, uma apresentadora que vista-se como criança ou drag queen, que dance até o chão ou dê em cima descaradamente de seus ídolos. Hebe Camargo é, sim, insubstituível. E isso não há como negar.
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