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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Cássia Kis se torna um grande problema na mão da Globo

Cássia Kis participou das manifestações nas estradas no Rio de Janeiro                              - Reprodução/Twitter
Cássia Kis participou das manifestações nas estradas no Rio de Janeiro Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

03/11/2022 12h02

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Não bastasse ter dado declarações LGBTfóbicas em uma live na semana passada, Cássia Kis colocou ainda mais polêmica em seus dias conturbados: achou que seria de bom tom juntar-se aos protestos de bolsonaristas inconformados com o resultado da eleição. Dramática, com terço na mão e trajando sobretudo, caminhou entre os arruaceiros que bloqueiam vias e ajoelhou-se no asfalto. De alguma maneira, a atriz considerou que seu papel mais importante está na militância de extrema-direita e não nas novelas.

Sem querer - ou querendo -, Cássia acabou por tornar-se um grande problema na mão da Globo. No ar em "Travessia" como Cidália, a artista verá sua personagem ser ofuscada pelas infelizes declarações e atos dos últimos dias. Num país polarizado como o nosso, tirá-la da trama poderá gerar acusações de censura contra a emissora. Da mesma maneira, a Globo não pode coadunar de maneira alguma com atos antidemocráticos, como os de que sua contratada participa. Seria caso de demissão em várias empresas, baseadas em cláusula de moralidade, ou seja: quando o funcionário não pode trazer danos à imagem da instituição.

Manter Cássia no ar sem reprimenda seria basicamente premiá-la por seu preconceito e por aderir a um movimento que fere diretamente o processo democrático e pede por intervenção militar. A memória da atriz, que certamente é bem informada sobre os horrores da ditadura, parece ter sumido para essa questão. A coluna procurou Gloria Perez, autora de "Travessia", tão logo Cássia fez afirmações LGBTfóbicas. Não recebeu resposta.

A decisão sobre o futuro da atriz parece pertencer mais à Globo que a roteirista. Resta saber se a despedida das novelas, já anunciada pela artista, será abreviada e chegará mais cedo do que antes. De algo já se pode ter certeza: alguém com tamanha responsabilidade na televisão não pode tratar com normalidade atos antidemocráticos e ainda por cima incentivá-los.