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O triste fim de carreira de Regina Duarte
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Quem assistiu televisão nos anos 70, 80 e 90 não passou batido pela carreira de Regina Duarte. Considerada a "namoradinha do Brasil" em seus primeiros trabalhos, a atriz emplacou personagens icônicas como a protagonista de "Malu Mulher", que discutiu divórcio e feminismo quando ainda eram temas tabus. Foi a Viúva Porcina de Roque Santeiro e parou o Brasil com seu furor. Em "Vale Tudo", discutiu corrupção e jeitinho brasileiro como a honesta Raquel. Foi a "Rainha da Sucata". Interpretou três Helenas de Manoel Carlos em "História de Amor", "Por Amor" e "Páginas da Vida". Sua importância na teledramaturgia da época era inegável.
Toda essa influência, no entanto, parece ter vindo por água abaixo nos últimos anos. Após anos em silêncio, Regina decidiu se manifestar politicamente apoiando o governo de Jair Bolsonaro. Junto com conservadores, passou a criticar projetos de fomento a cultura, tratando a lei Rouanet como "mamata", ignorando o modo como ela de fato funcionava. Assumiu a secretaria de cultura e, mesmo sendo expelida após meses e nunca tendo recebido o cargo prometido na Cinemateca, continuou ávida defensora do político.
Mais recentemente, a atriz, que virou uma espécie de influenciadora do conservadorismo, teve publicações em suas redes sociais marcadas como fake news pelo Instagram. Nessa semana, alheia às imagens pavorosas e alarmantes dos yanomamis, que sofrem com fome e envenenamento, foi capaz de fazer uma postagem questionando a realidade. "A infância desamparada dos ianomamis (sic), uma gente criada à base de mandioca, feijão e peixe", escreveu, para choque geral.
A classe artística, em peso, decidiu mostrar repúdio à declaração, mas o problema vai além da óbvia falta de empatia. Ao negar o que ocorre na tribo, Regina mostra não somente desconhecimento do país em que vive, assolado por grileiros e garimpeiros, que contaminam com mercúrio áreas preservadas, como ainda ironiza crianças passando fome. É cruel e devastador, mas, mais do que isso: é contribuir com a desinformação quando já há tanta disseminação equivocada.
Para quem acompanhou sua trajetória e tem carinho por personagens tão icônicas, é difícil entender como a atriz chegou neste ponto. Será difícil dissociar tantos equívocos de qualquer papel futuro - atualmente ela não tem contrato com nenhuma emissora e nem está em cartaz no teatro. Com tanta indiferença, perde a oportunidade de entrar para a história como uma diva, para ser lembrada como alguém que cometeu um enorme equívoco. É um triste fim de carreira para Regina Duarte.
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