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Fim melancólico: editoras correm para tirar seus livros da Livraria Cultura

Livraria Cultura em seu auge: sempre cheia e repleta de lembranças - Shutterstock
Livraria Cultura em seu auge: sempre cheia e repleta de lembranças Imagem: Shutterstock

Colunista do UOL

10/02/2023 17h56

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Cartão postal de São Paulo, a Livraria Cultura fechará suas portas. Em recuperação judicial desde 2018, a empresa teve sua falência decretada na última quinta-feira (9) pelo juiz da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais. No texto, a sentença diz que "é notório o papel da Livraria Cultura, de todos conhecida. Notória a sua (até então) importância, e não apenas para a economia, mas para as pessoas, para a sociedade, para a comunidade não apenas de leitores, mas de consumidores em geral".

De fato, há muitas lembranças vividas no lugar que foi considerado por José Saramago como uma "catedral de livros". Em seu auge, no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, ela chegou a ter quatro unidades - a principal, uma voltada para o mundo geek, uma exclusiva da Companhia das Letras e outra para livros de arte. Em seu teatro, ao longo de anos, uma das mais bem sucedidas peças da cidade ficou em cartaz, "A Alma Imoral", com Clarice Niskier. Histórias de amor começaram e continuaram. Autores foram descobertos e tietados em grandes lançamentos.

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Estante vazia da Livraria Cultura
Imagem: Fefito

A coluna decidiu ir ver com os próprios olhos. Em seu primeiro dia após o decreto de falência, o que se viu foi a grande pressa de editoras famosas para recolher seus livros antes que o espaço fosse bloqueado e lacrado pela Justiça. No térreo, a área dedicada às obras da Companhia das Letras estava completamente vazias. No primeiro andar, caixas e mais caixas da editora Record foram empilhadas e funcionários do espaço infantil começavam a embalar brinquedos e almanaques. Em vão, funcionários tentavam preencher as prateleiras vazias com outros livros. A ordem era tentar "vender o máximo possível antes do fechamento", afirmou um atendente com quem a coluna conversou.

Envolvida em acusações de fraude e alvo de relatos de assédio moral há alguns anos, a Livraria Cultura, que já teve unidades em diversas capitais, estava reduzida apenas a São Paulo e Porto Alegre. Nesta sexta-feira (10), em nada lembrava seus áureos tempos. Curiosos passeavam e faziam fotos para se despedir do local, tão cheio de memórias. No lugar de atendentes, na maior parte dos computadores do salão, funcionárias de TI já tentavam mudar o sistema para finalizar pendências.

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Editoras encaixotaram livros antes do fechamento
Imagem: Fefito

Com vocação para agitar a cena cultural do país, o lugar já sediou lançamentos de nomes como Caio Fernando Abreu, Rita Lee, Drauzio Varela e tantos outros. Para quem entra no Conjunto Nacional em busca de livros, uma outra livraria, chamada Drummond, abriu num dos espaços que pertenceu à agora falida empresa. O que restam são as memórias. E a expectativa de que todos os problemas trabalhistas sejam sanados. É o fim de uma era.