Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Gênio, Paulo Vieira incomoda por fazer humor do ponto de vista da negritude
![BBB 23: Paulo Vieira é destaque da temporada - Reprodução/Globoplay](https://conteudo.imguol.com.br/c/entretenimento/b2/2023/02/08/bbb-23-paulo-vieira-zoa-brothers-ao-citarem-outras-emissoras-no-reality-1675907755636_v2_900x506.png)
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Desde que surgiu com o quadro "Big Terapia", no ano passado, Paulo Vieira tornou-se um dos grandes acertos do "Big Brother Brasil". Rápido e sagaz, o humorista consegue em minutos repercutir as principais polêmicas do programa impulsionadas pela internet e ainda tirar sarro do eliminado da vez. Nesta semana, no entanto, o segmento despertou a fúria da torcida de Gustavo e Key, ao fazer referência às acusações de intolerância religiosa que culminaram na eliminação de Cristian.
A controvérsia surgiu por causa de uma piada que dizia que Cezar e Fred Nicácio não terão bolo de aniversário em suas festas dentro do programa porque Key e Gustavo "têm medo de preto batendo palma na frente de vela", uma clara referência às religiões de matriz africana. Nas redes sociais, houve quem achasse um absurdo o humorista "tomar partido" ou "acusar de racismo". O pensamento, entretanto, tem de ir além desse simplismo.
O que Paulo Vieira faz, de maneira genial e sensível, é mudar o ponto de referência da comédia que pratica. O brasileiro está acostumado a rir sempre do ponto de vista da branquitude. Ao inverter a estrutura, Paulo mostra exatamente como era estar na pele de pessoas pretas ao longo das últimas décadas no país. Ou seja: faz o espectador praticar o exercício da alteridade, de se colocar no lugar de outro - e isso nem sempre é confortável. Num território racista isso é das maiores subversões possíveis.
Não é novidade para ninguém, em um país que depreda terreiros por puro preconceito, que religiões como umbanda e candomblé são vilanizadas. Colégios que contam com a disciplina "ensino religioso" lecionam apenas do ponto de vista cristão, excluindo toda a diversidade em um lugar de tanto sincretismo como o Brasil. Mais do que reclamar que Paulo Vieira usou Key e Gustavo como exemplo, suas torcidas deveriam celebrar a oportunidade de refletir e, quem sabe, ver se seus participantes favoritos aprendem alguma coisa sobre o assunto.
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