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Ao banir beijos homoafetivos, Globo replica LGBTfobia de modo perigoso

Yuri (Jean Paulo Campos) e Vini (Guthierry Sotero): mais um beijo censurado em Vai na Fé - Reprodução/Globo
Yuri (Jean Paulo Campos) e Vini (Guthierry Sotero): mais um beijo censurado em Vai na Fé Imagem: Reprodução/Globo

Colunista do UOL

05/06/2023 16h29

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Não há dúvidas, há cerca de uma década, houve muitos avanços na maneira como a comunidade LGBTQIAPN+ tem sido retratada na dramaturgia brasileira. Especialmente por isso causa tanta estranheza ver a Globo, que parecia ter superado faz tempo o óbvio direito à exibição de afetos homoafetivos, censurando beijos entre homens ou entre mulheres em pleno 2023. Nesta semana, mais uma vez, a emissora tratou de não mostrar o carinho entre personagens de Vai na Fé, sua novela das sete. Na série Aruanas, por duas vezes houve corte da mesma maneira.

O que a Globo, que normalmente pauta a sociedade com discussões tão relevantes em realities e novelas, mostra com esse veto é que está disposta a replicar a LGBTfobia para agradar a um público mais conservador. Ao reconhecer a existência de casais homossexuais, a emissora dá um passo adiante. Ao negar seu direito ao afeto, ela anda dois passos para trás.

Se um beijo fosse algo tão chocante, espectadores certamente já teriam reclamado de cenas em que heterossexuais se beijam com direito a língua aparecendo e grande intensidade, com direito muitas vezes a nudez. Pelo contrário, a vida seguiu normalmente para todos. Beijos homoafetivos na Globo normalmente já são "selinhos expandidos" de tão comportados e ainda assim viram motivo de choque para alguns. Assistir a LGBTs se beijando não torna ninguém homossexual. Da mesma maneira que ninguém se torna heterossexual vendo os protagonistas de novelas se pegando.

No país que mais mata LGBTs em todo o mundo, o veto a algo tão simples e banal é uma mensagem muito perigosa: é um modo de dizer que a comunidade não merece o mesmo respeito e não tem os mesmos direitos que personagens heteronormativos. Nisso, a Globo erra feio. E terá de fazer mea culpa em algum momento.