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Flavia Guerra

REPORTAGEM

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Darín cobra investigação sobre atentado a Cristina: 'Precisamos saber'

Colunista do UOL

06/09/2022 04h00

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Ícone do cinema argentino, o ator Ricardo Darín cobra uma explicação a respeito do atentado sofrido pela vice-presidente do país, Cristina Kirchner: quer saber se se trata de "uma loucura isolada" ou se há um plano maior contra a segunda maior autoridade do seu país.

A fala do astro foi feita com exclusividade a esta coluna de Splash direto de Veneza, onde está para apresentar seu novo filme, "Argentina, 1985", no festival de cinema da cidade italiana. Darín afirmou que se trata de um fato muito grave que nos traz ecos de um tempo em que a violência era arma política em toda a América Latina.

"Necessitamos saber se isso é uma loucura individual ou corresponde a outras coisas. Isso é fundamental", disse o ator (veja a entrevista no vídeo acima). "Suponho que estejam investigando, porque é crucial saber disso. Espero que seja uma loucura individual, porque voltar a passar pelos mesmos lugares e estaria relacionado com como nos custa aprender com os erros do passado", diz o ator.

O incidente levantou comparações com a trama do filme, dirigido por Santiago Mitre, pois "Argentina, 1985" conta a história do "Juicio 1985", o julgamento dos militares responsáveis pelos crimes da fase mais terrível da Ditadura que dominou o país por sete anos e que deixou 30 mil desaparecidos.

A propósito, isso está escrito no lenço usado pelas Mães da Praça de Maio e que foi exibido pela equipe do filme no tapete vermelho da sessão de gala, assim como a bandeira argentina.

Na trama, Darín vive o promotor Júlio Strassera, que, ao lado de Luis Moreno Ocampo (Peter Lanzani), em 1985 liderou uma equipe que investigou e processar militares de alta patente que comandaram as Forças Armadas argentinas no período em que ocorreram milhares de prisões, torturas, violações, assassinatos, entre outros crimes contra a humanidade e contra os que se opunham ao regime ditatorial militar.

Numa semana em que a vice-presidente da Argentina sofreu um atentado e em que os ânimos se acirraram no país, contar a história de como o primeiro julgamento dos ditadores sedimentou o caminho da retomada da democracia argentina nos lembra que a democracia precisa ser constantemente reconquistada e protegida.

Como afirmou o presidente da Argentina, Alberto Fernández, "é o evento mais grave da democracia argentina desde a Ditadura".

"Foi forte e um grande choque para todos nós. Muitos de nós estávamos no avião quando o atentado aconteceu e descobrimos quando aterrissamos. E na verdade é um ato horrível que pensamos que nunca poderia ocorrer porque, se há algo que nós queríamos, era que o Juicio de 1985 tivesse acabado para sempre é o uso da violência como uma possibilidade de se resolver conflitos políticos. Isso é algo que repudiamos energicamente", respondeu Mitre quando questionado sobre a ironia da atualidade que "Argentina, 1985" tem ao estrear mundialmente justamente nesta semana.

O cineasta completou: "Acreditamos que podemos e que podíamos e achávamos que o "Nunca Mais", como disse o promotor Strassera, seria para sempre. Mas a violência segue existindo e acreditamos que o filme cobra uma vitalidade que nós não pensávamos que cobraria".

O filme representa a Argentina no Oscar 2023 e tem estreia prevista para ainda neste ano no Brasil na Amazon Prime Video. Além disso, foi até o momento um dos mais bem recebidos no Festival de Veneza 2022.