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"Filme sobre Lula está quase pronto", diz Oliver Stone em festival saudita
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O documentário que o cineasta norte-americano Oliver Stone prepara há anos sobre Lula está quase pronto e deve ser lançado em breve, provavelmente no primeiro semestre de 2023. "A gente começa a contar o filme desde o início, contamos sua vida toda. Filmamos até o dia da eleição e fizemos muitas entrevistas. O filme está com 90 minutos e está muito bom", disse o diretor ao UOL em conversa neste sábado, durante o Red Sea International Film Festival, evento de cinema realizado na cidade de Jeddah, na Arábia Saudita.
"Houve interrupções por conta da Pandemia, mas estamos filmando desde antes, há aproximadamente três anos", acrescentou o cineasta, que com o filme quer se comunicar com o público internacional e não somente brasileiros. "Sei que há bons filmes sobre o Lula. Eu vi "Democracia em Vertiem", de Petra Costa. É um filme muito bom, gostei muito. Mas é um filme brasileiro e tem detalhes sobre os quais o público norte-americano ou europeu talvez não estejam interessados. Então, meu documentário é um pouco mais amplo e menos detalhado. E ela (Petra) fez um ótimo trabalho", acrescentou o cineasta, que preside o Red Sea International Film Festival e aproveita a viagem para exibir seu novo documentário "Nuclear" fora de competição neste domingo na cidade de Jeddah, sede do evento.
Ainda sobre o filme sobre Lula, Stone declarou: "Estou tentando provar o envolvimento norte-americano na derrubada de Dilma (Rousseff) e Lula. É muito interessante. A gente vai até aí, mas não nos aprofundamos muito sobre onde o Departamento de Estado (norte-americano) se intersecciona com Sérgio Moro e a Direita brasileira. Mas essa foi uma história suja. Mais uma das centenas de crimes que os Estados Unidos cometeram na América do Sul."
Já filmar a posse de Lula em primeiro de janeiro de 2023, segundo o cineasta e o produtor do filme, Max Arvelaiz, a priori, não está nos planos, mas ambos não descartam a possibilidade. "O produtor é quem vai decidir. Eu gosto muito do Lula, nos conhecemos há anos. Ele é a esperança de muita gente", disse Stone ao UOL. "Filmamos quando ele foi solto, na Argentina, no México, fomos encontrá-lo três. Filmamos o processo da eleição também, o dia da vitória, que foi o último dia de filmagem. Acho que para o público internacional vai ser interessante, é um retrato impressionista de Lula", completou o produtor.
Não há data certa ainda de estreia, mas a ideia de exibir o filme em première mundial no Festival de Cannes (que ocorre em maio de 2023) é uma possibilidade, uma vez que o evento é uma das maiores vitrines de cinema do mundo.
Sempre inquieto e polêmico, Stone faz da viagem à Arábia Saudita uma plataforma para falar de sua mais nova cruzada: o uso da energia nuclear como uma das saídas para o combate às mudanças climáticas. Em "Nuclear", ele parte em uma cruzada de entrevistas e viagens com especialistas em energia, ambientalistas e cientistas pelo mundo, discutindo a segurança, os impactos e benefícios da exploração da energia nuclear (em comparação com outras formas de geração de energia) para diminuir os efeitos do aquecimento global e das mudanças climáticas.
Questionado se, ao aceitar não só participar, mas também presidir o júri do Red Sea International Film Festival, que ocorre até o dia 8, ele pode estar sendo usado para validar o controverso regime saudita, Stone afirmou: "Talvez. Há sempre um aspecto político e as pessoas vão ver o que elas querem ver. Se as pessoas já não gostam do regime saudita, vão dizer que eu estou validando. Não estou validando nenhum crime. Todos os crimes de estado devem estar sob nosso escrutínio. Isso acontece. E a gente pode ver que há uma enorme quantidade de reformas sendo feitas. Eu visitei o Irã há três anos, durante o festival de cinema de lá. O regime iraniano tem problemas teocráticos, como sabemos, mas eu fui lá para fazer perguntas, querendo saber e descobrir mais. O mesmo fiz com (Vladimir) Putin. As pessoas me mataram nos Estados Unidos por ter sido audacioso o suficiente para falar com Putin. Mas a verdade é que nós queremos escutar a voz dele por meio de sua própria voz e não por meio da interpretação norte-americana."
Sobre ter encontrado MBS (Mohammed bin Salman, o príncipe herdeiro e premiê saudita), Stone afirmou ao UOL que não só o conheceu como sugeriu a ele que investisse em energia nuclear. "Ele é muito educado, muito inteligente, muito refinado. Isso foi há uns três anos. Fiquei muito bem impressionado. Na verdade, eu estava conversando com ele sobre "Nuclear" e energia nuclear porque eu estava começando a fazer o filme e eu disse para ele: "Você tem uma péssima imagem pública. Por que você não muda a lógica da Arábia Saudita e não adere à energia nuclear e diz para o mundo que não quer mais saber de petróleo?" Há sempre espaço para o petróleo, as pessoas vão comprar. Mas tomara que a gente se livre do petróleo porque ele está acabando com o planeta. Ele está em uma posição muito importante e muito difícil, pois é "lucro versus sobrevivência". O que você faria?"
O fato é que Stone é um diretor de filmes e de causas. E por sua mais nova causa, ou seja, a discussão sobre o uso da energia nuclear em benefício do Planeta, ele está disposto a viajar pelo mundo. "Eu fui criado no pós-Guerra. A gente fazia treinamento antinuclear e achava divertido, não pensava muito nisso. Já nos anos 1970, a gente fez muita coisa boa, mas havia o medo que a energia nuclear fosse destruir o mundo. Como o Dr. George, um dos fundadores do Greenpeace, diz no filme, mas neste quesito tão importante a gente errou. Eu estou preocupado. As pessoas que entendem do assunto estão preocupadas. A energia renovável é ótima, a gente ama, mas é um desvio extravagante. A gente está se matando ao pensar que somente a solução da energia renovável vai funcionar", declarou.
Para ele, e para os especialistas ouvidos em "Nuclear", a exploração responsável da energia nuclear é uma saída menos poluidora, menos arriscada e mais barata que outras opções como usinas hidrelétricas, petróleo e fontes renováveis. "Em algumas décadas, a demanda por energia elétrica, como mostramos no filme, vai aumentar em até cinco vezes. E todos os países mais pobres como Índia, África, todos os países que têm filmes aqui no festival, como Angola, vão sofrer com isso. Os norte-americanos não se importam porque eles se preocupam com o pequeno quintal deles. Eles estão ok com isso porque, no geral, conseguem resolver este problema, mas o resto do Planeta vai sofrer", declarou o diretor de filmes como "JFK" e "Ao Sul da Fronteira".
Para Stone, o cenário futuro não é nada auspicioso. "Vai haver migrações em uma escala imensa, sem contar os impactos das mudanças climáticas. Só de comentar as enchentes no Paquistão este ano, que foram imensas e sérias para o país. A gente não está vendo o quadro geral e só pensando em nós mesmos. Como resultado, todos nós nos ferramos", acrescentou.
Apesar do tema ser de importância crucial, ele contou que ouviu diversos "nãos" de distribuidores por conta da ignorância e do preconceito sobre o tema da energia nuclear. "Nos Estados Unidos a gente também tem dificuldade de encontrar distribuição. A Netflix disse que o filme não é de interesse da humanidade. Se isso não é, eu não sei o que é", observou. Questionado pelo UOL se o filme já tem distribuição no Brasil, respondeu: "Ainda não. Mas você, que é da mídia, pode ajudar. A humanidade tem de pensar em conjunto. A imprensa em geral é contra porque todo artigo que eu leio sobre o filme começa com "Energia nuclear é arriscada". Mas é menos arriscada que carvão e que o petróleo", defende.
Sobre a eterna referência a Chernobyl, o cineasta afirma que, apesar de ser um exemplo legítimo, trata-se de apenas um exemplo e que a crise foi mal administrada pelos russos na ocasião. "Os russos construíram a usina de forma inadequada e não havia recipiente de contenção de concreto, além de todas as razões que nós mostramos no filme. E eles não lidaram bem com a crise no início. O número total de vítimas do desastre é incerto, pelo menos 50 e tantas pessoas morreram como consequência direta do acidente e um número não determinado de câncer depois. Houve consequências sérias. No entanto, a radiação diminui com o tempo e, acima de tudo, a humanidade pode viver com um baixo nível de radiação. É assim desde o início da vida na Terra. A gente é exposto à radiação quando pegamos um avião e até quando nos alimentamos. Arsênico, mercúrio e outros poluentes industriais são tão ou mais perigosos e letais."
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