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Em 'Pinóquio', Ron Perlman é fascista: 'Por del Toro, faço qualquer coisa'
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Quando a gente pensa em Ron Perlman, é impossível não pensar em um ator que tem fama de ser durão e, muito por isso, ser ou o eterno Hellboy (2004) ou Clay Morrow, de "Sons of Anarchy".
Mas por trás da carranca, há um ator disposto a trabalhar com diretores apaixonados por contar histórias emocionantes, sejam eles americanos, mexicanos ou até kuwaitianos. Este é o caso de Zeyad Alhusaini, diretor de "How I Got Here", ou "Como cheguei até aqui", um thriller de ação que se passa no Golfo Pérsico em que Perlman vive um mercenário americano.
O ator apresentou o filme no festival Red Sea Film Festival, que ocorreu em Jeddah, na Arábia Saudita, em dezembro de 2022, e aproveitou a viagem para lançar no país um dos mais belos filmes desta temporada de premiações do Oscar, a animação "Pinóquio", do mexicano Guillermo del Toro.
A primeira vez que Perlman trabalhou com del Toro foi no terror "Cronos", em 1992. De lá para cá, vieram sucessos como o já citado "Hellboy", "Hellboy 2", "Blade 2" e até "Beco do Pesadelo", de 2021. Mas é como o militar Podestà de "Pinóquio", um pai autoritário e oficial fascista, que Ron Perlman vem ganhando as melhores críticas da temporada.
Aposta certa no Oscar de melhor animação, "Pinóquio", como bem observou o ator, traz o estilo incomparável do diretor mexicano, a magia que a Disney deu para a história criada pelo italiano Carlo Collodi e acrescenta o teor político, ao fazer um paralelo com o fascismo e a brutalidade da guerra (no caso, a Segunda Guerra Mundial).
Com uso primoroso da técnica de stop motion, "Pinóquio" fala do amor que, apesar de tudo, une pais e filhos imperfeitos. Como observou o próprio del Toro, o filme não é uma animação apenas para o público infantil.
Engenhoso e ousado, o roteiro transita do tom de fábula, mas tem momentos sombrios que podem até mesmo impressionar as crianças, mas não necessariamente assustar. É por meio das figuras que encarnam os vilões, e que representam a ganância, a exploração, a violência, a intolerância, a desonestidade, que Pinóquio aprende a se defender e a se posicionar em um mundo que ensina a mentir. É também por meio de seus questionamentos, aparentemente ingênuos, que ele questiona o próprio público.
A banalidade da guerra e da violência ganharam destaque nesta temporada do Oscar com o rigoroso "Nada de Novo no Front", que se passa na Primeira Guerra Mundial, mas o mesmo espírito crítico do longa alemão também permeia cada frame de "Pinóquio".
São dois filmes aparentemente opostos. Um infantil, animado em stop motion, que nos leva para o universo lúdico. Outro duríssimo, com fotografia e direção de arte primorosas, que nos jogam no epicentro da realidade brutal e banal de um campo de batalha.
Mas são duas histórias que acabam por se complementar em um ano em que a Guerra da Ucrânia, com seus reflexos que vêm da Primeira Guerra e da Segunda Guerra, assombra corações e mentes.
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