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Flavia Guerra

REPORTAGEM

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Sônia Braga e Pixote: Benício Del Toro se rende ao cinema brasileiro 'raiz'

Peter Lanzani e Ricardo Darín recebem prêmio por "Argentina, 1985", o grande vencedor dos Prêmios Platino 2023 - Divulgação
Peter Lanzani e Ricardo Darín recebem prêmio por "Argentina, 1985", o grande vencedor dos Prêmios Platino 2023 Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

23/04/2023 04h00

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O ator porto-riquenho Benício Del Toro recebeu o Platino em homenagem à sua carreira no Prêmios Platino 2023 e contou a Splash que é fã de cinema brasileiro. Ele admitiu que assiste desde os filmes clássicos de Glauber Rocha até os mais recentes, passando pela filmografia de Hector Babenco.

"Eu acabei de rever "Pixote", um grande filme. Sou muito fã de "O Beijo da Mulher Aranha", de Sônia Braga, sem contar que filmei "Che" (longa de Steven Soderbergh ) com Rodrigo Santoro, que é meu amigo."

Benício também se prepara para se tornar diretor e quer investir em histórias latino-americanas. "Os países latinos não são todos iguais, temos histórias diferentes, mas a cultura nos une, o cinema nos aproxima. Quero investir em nosso cinema, filmar em espanhol, contar nossas histórias", declarou.

O Oscar Ibero Americano

Considerada o "Oscar Ibero Americano", a premiação celebra a produção audiovisual da Espanha, Portugal e toda a América Latina, concedendo troféus aos melhores filmes e séries do ano anterior e entregou seus prêmios na noite do último sábado, 22, em Madri, Espanha.

"Argentina, 1985" foi o grande vencedor dos Prêmios Platino 2023. E se no Oscar de fato o longa dirigido por Santiago Mitre "perdeu" a estatueta de Melhor Filme Internacional para o alemão "Nada de Novo no Front", entre os ibero-americanos a vitória foi inevitável. O filme estrelado por Ricardo Darín levou o principal prêmio da noite, o de Melhor Ficção segundo o júri, formado por profissionais da área, Melhor Ator (para Darín), Melhor roteiro, Melhor Direção de Arte e o de Educação e Valores. Mas também é verdade que a justiça foi feita e que a Argentina, único país latino a concorrer ao Oscar 2023, mereceu os prêmios que levou na décima edição dos Prêmios Platino 2023.

Equipe de "Argentina, 1985" celebras os vários trófeus recebidos na noite de entrega dos Prêmios Platino 2023 - Divulgação - Divulgação
Equipe de "Argentina, 1985" celebras os vários trófeus recebidos na noite de entrega dos Prêmios Platino 2023
Imagem: Divulgação

O longa dirigido por Santiago Mitre e estrelado por Ricardo Darín levou também os troféus de Melhor Filme do Público e Melhor ator segundo o Público (para Darín).

Os prêmios do público sinalizam principalmente que, ainda que seja uma história complexa e dolorosa, "Argentina, 1985" conseguiu romper a barreira de "filme para cinéfilos mais rigorosos" ou "filme somente para a audiência argentina" e conquistar os públicos mais variados do mundo.

"Ainda que trate de uma história que ocorreu na Argentina, acredito que é um tema universal. Afinal, não só a América Latina sofreu com ditaduras. Países em todo o mundo sofreram e ainda sofrem. É um assunto universal e urgente", declarou Darín a Splash.

Ricardo Darín recebe o prêmio de Melhor Ator por "Argentina, 1985" nos Prêmios Platino 2023 - Divulgação - Divulgação
Ricardo Darín recebe o prêmio de Melhor Ator por "Argentina, 1985" nos Prêmios Platino 2023
Imagem: Divulgação

Para o ator, que vive no longa o promotor Julio Strassera, encarregado do primeiro processo que a sociedade civil argentina promoveu contra os criminosos da Ditadura Militar no país, os Prêmios Platino foi uma forma de fechar com muito afeto a trajetória de sucesso do longa, que começou em setembro de 2022, quando fez sua estreia mundial no Festival de Veneza.

"Este filme é a prova de que há sim interesse do público sobre histórias políticas. Ouvimos 'nãos', ouvimos que ninguém se interessaria por um filme sobre ditadura, tortura, julgamento. E o resultado comprova que muita gente quer ver, quer saber. É importante que se façam filmes como este, que se fale em justiça", Axel Kuschevatzky.

Como conquistar de vez o público?

Por falar em interesse do público, esta questão é crucial quando se fala no cinema ibero-americano. Afinal, não é preciso ser cinéfilo ferrenho e nem especialista para enxergar o óbvio. É muito maior a presença de filmes norte-americanos do que argentinos nas salas e também no streaming e na TV do Brasil. O mesmo ocorre com filmes brasileiros na Argentina, filmes argentinos no Chile, chilenos no México, mexicanos na Espanha etc. Ampliar a carreira dos filmes sobretudo latino-americanos em todo o continente é tema mais que urgente.

"Eu mesma, que moro nos Estados Unidos, tenho dificuldade de ver cinema mexicano lá. Eu queria ver todos os filmes do Platino este ano e foi difícil de encontrar até mesmo em um mercado como o americano. E sei que isso também ocorre em toda a América Latina e na Europa", comentou a mexicana Karla Mercedes Luna, uma das produtoras de "Bardo", de Alejandro González Iñarritu, que concorria a Melhor Filme e Melhor Comédia.

"Temos de ampliar não só as coproduções, mas também investir mais na distribuição, na divulgação das produções, tanto entre os países latinos de língua espanhola entre si, mas principalmente das produções brasileiras neste imenso mercado", disse a distribuidora brasileira Eloísa López-Gómez, que é uma das votantes do País nos Prêmios Platino.

"Este ano não tivemos brasileiros finalistas, mas nossas produções avançaram bem desde a primeira etapa da votação. Só que para chegar às finais é preciso que o filme esteja com grande destaque, tenha invariavelmente passado por uma grande festival, como nosso "Marte Um" passou e foi pré-finalista. Mas ainda é preciso mais, mais divulgação, que mais gente conheça, que veja. É um assunto crucial para todos da América Latina e Europa também", completou.

Em tempo, o Brasil não emplacou indicados entre os finalistas neste ano, mas o ator Alejandro Claveaux e a cantora Letrux representaram o País e cantaram "País Tropical", de Jorge Benjor em um número que contou com arranjos mais "latinizados" da canção, com direito a capoeirista e passista no palco.

A espanhola Laia Costa recebe o Platino de Melhor Atriz pelo filme "Cinco Lobitos"  - Divulgação - Divulgação
A espanhola Laia Costa recebe o Platino de Melhor Atriz pelo filme "Cinco Lobitos"
Imagem: Divulgação

Foi do cinema europeu, mais especificamente o espanhol, que saíram outros vencedores em categoria importantes, como Melhor Direção, Edição de Som, Melhor Montagem Montagem, que foram entregues para o surpreendente "As Bestas", de Rodrigo Sorogoyen. Passado na região da Galícia, o longa conta a história de um professor francês (Denis Ménochet) que compra uma pequena propriedade rural onde quer cultivar produtos orgânicos e viver em paz com sua mulher. O filme ainda garantiu o Platino de Melhor Ator Coadjuvante para Luis Zahera.

Da Espanha também foi a Melhor Atriz em longa de ficção. Laia Costa foi premiada por sua bela atuação em "Cinco Lobitos", de Alauda Ruiz de Azúa. Um filme intimista, feminino e, ao mesmo tempo, universal.

Equipe de "1976", de Manuela Martelli (ao centro, de azul) comemora o Prêmio Platino de "Melhor Filme de Estreia" - Divulgação - Divulgação
Equipe de "1976", de Manuela Martelli (ao centro, de azul) comemora o Prêmio Platino de "Melhor Filme de Estreia"
Imagem: Divulgação

Outra diretora também prova que mulheres não precisam, e nem devem, contar somente histórias de personagens femininas, mas que quando o fazem, quase sempre trazer um olhar e uma nova abordagem criativa. Este é o caso do chileno "1976", de Manuella Martelli, que levou o Platino de Melhor Primeiro Filme.

"Nós mulheres em geral não ocupamos o centro de histórias que tratam das Ditaduras, de períodos de luta contra regimes totalitários, principalmente nos filmes da América Latina. Poder dar mais destaque a personagens que vimos pouco também nos livros de História é muito importante", comentou Martelli a Splash pontuando que a presença das mulheres na direção cresce, ainda que em menor velocidade do que é necessário, em toda a América Latina.

Equipe de "Notícias de um Sequestro", de Andrés Wood, recebe o Platino de Melhor Série de Ficção - Divulgação - Divulgação
Equipe de "Notícias de um Sequestro", de Andrés Wood, recebe o Platino de Melhor Série de Ficção
Imagem: Divulgação

Já na categoria séries, o grande vencedor foi "Notícia de Um Sequestro", do chileno Andrés Wood. Coprodução entre Colómbia e Chile, a série é a adaptação da obra homônima de Gabriel García Márquez e tem o filho do autor colombiano, Rodrigo Garcia, como um dos produtores.

"Agradeço muito a Rodrigo por ter confiado e embarcado nesta jornada comigo. As séries, o streaming, têm colaborado para que nosso audiovisual viaje mais e seja mais visto tanto na América Latina quanto em outros continentes. Fazer esta série foi uma grande responsabilidade e fico muito feliz que tanto o júri quanto o público tenham também dialogado com a obra e nos premiado", Wood.

"Notícia de Um Sequestro", que no Brasil está em cartaz na Amazon Prime Video, ainda levou os prêmios de Melhor Série do Público, Melhor. Criador de Série para Wood, Melhor Atriz para a colombiana Cristina Umaña, Melhor Atriz Coadjuvante para a também colombiana Majida Issa.