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Idris Elba é negociador incansável em 'Sequestro no Ar': "Sou bom nisso"
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Uma série de sete episódios que se passa quase toda em um avião que viaja de Dubai para Londres, em um voo de sete horas.
Como grande ponto dramático, o avião — cuja maioria dos passageiros são britânicos, é sequestrado por um grupo de terroristas que não deixam claro o que exatamente querem, a que chefe e causa servem, mas que se revelam ansiosos, violentos e falhos. Para piorar, o wifi é cortado, o sistema de diversão (mais conhecido como a TV do avião) é desligado e ninguém pode sair de seus lugares.
Assim é "Sequestro no Ar" ("Highjack"), novíssimo projeto de Idris Elba que acaba de estrear na Apple TV+ e já vem ganhando os corações tanto dos fãs de séries de ação, quanto dos fãs do astro britânico, famoso por produções como "Beasts of no Nation", "The Wire", "Luther", entre tantas outras.
A premissa da série pode parecer enfadonha. Afinal, como manter a tensão e a atenção do público, por quase sete horas, em uma série que, a exemplo da antológica "24 h" (com a qual ela tem sido comparada), a ação ocorre praticamente em tempo real e em um único espaço exíguo — no caso, o avião?
"Sequestro no Ar" surpreende
Além de um roteiro bem construído, com pontas que não ficam soltas e que causa e efeito são bem trabalhados, só mesmo um Idris Elba com todo seu talento, carisma e poder de persuasão para nos convencer que vale a pena sofrer por sete horas com a tripulação e os passageiros do voo.
Elba, aliás, interpreta Sam Nelson, um negociador do mundo corporativo que trabalha em fusões e aquisições de empresas. Ele viaja na primeira classe, está ansioso para chegar em Londres e reencontrar o filho adolescente e a ex-mulher, que, ainda que esteja namorando um policial, Sam está decidido a reconquistá-la.
Ao se ver diante da possibilidade de nunca mais voltar a encontrar a família, ele usa toda a lábia e o talento de negociação para persuadir e manipular a tripulação, os passageiros e até os sequestradores, para que todos sobrevivam no final.
A despeito do que poderia se imaginar, "Sequestro no Ar" segura a tensão ao longo de seus episódios e se revela um thriller que, ainda que não tenha a missão de passar nenhuma mensagem, nos faz entender que, em tempos tão brutalizados e de violência mais do que banalizada nas telas, a arte de negociar vale tanto, ou mais, que a força.
"Isso é tão verdade! Há uma questão sobre como a vida te dá todos os tipos de coisas. Você pode aceitar esse destino, ou pode negociar com a vida", comentou Elba em conversa com Splash.
"Você pode só dizer "vamos pensar sobre isso." Porque, às vezes, alguma coisa vai acontecer com você e é algo ruim. Então, você apenas aceita. Mas não. Nesta história, Sam decide tomar um pouco de seu destino em suas próprias mãos. Não acho que ele sabe o que está fazendo no começo, mas ele vai tentar."
Teimoso e empático
É este "não saber exatamente o que está fazendo", em vez de ser mais um exemplar de galã "duro de matar", que faz de Sam um personagem verossímil em uma trama que tem tudo para ser inverossímil.
Ele é grosseiro às vezes, confuso, desajeitado, mas também incansável, teimoso, inteligente, astuto e empático. Flavia Guerra
Criada por Jim Field Smith (de "Criminal") e George Kay (da ótima "Lupin"), "Sequestro no Ar" não aprofunda — como é do gênero ação, o psicologismo dos personagens. Nem há tempo e proposta para isso. No entanto, traz figuras humanas e reais o suficiente para deixarmos de lado alguns pontos não tão bem amarrados que a trama traz.
Além de Elba, um elenco bem entrosado é também ingrediente importante. No ar, destacam-se nomes como:
O ótimo Ben Miles (que vive um piloto tão emotivo quanto cerebral, que também está em "Andor")
O sequestrador Neil Maskell ( de "Utopia")
Zora Bishop (a comissária de bordo Deevia)
Eles não são os únicos. Agora, já em solo, mais nomes como:
Eve Myles (de "Torchwood") vive uma controladora de vôo brilhante
Christine Adams (de "Raio Negro") é a a ex-mulher de Sam
Archie Panjabi (de "The Good Wife") é uma agente de segurança firme e carismática.
Mas é Elba, sem dúvida, quem atrai quase toda a atenção e faz a trama avançar com seu carisma inconfundível. Ainda que arriscada, a escolha de também ser produtor executivo da série e, como ele mesmo observa, traçar seu destino em projetos diferentes (enquanto nosso sonhado Elba como James Bond não chega), sinaliza que o ator não fica à espera de papéis perfeitos e está cada vez mais disposto a ir atrás dos personagens que quer.
"Acho que sou um bom negociador. Sou justo. Alguém me disse esta manhã que sou muito gentil. Não sou. Sou atencioso. Ter consideração faz parte do tipo de negociação aqui. Se alguém não é razoável, e você for, como resposta, também não é razoável, não se chega em lugar nenhum", observou ele, quando questionado sobre o fato de ser justamente um ator que investe em vários projetos, tanto no cinema, na música quanto nos negócios.
Se você for um pouco atencioso, com o que quer que seja, seja lá o que for, então, você pode chegar em algum lugar. E você começa a negociar. Então eu acho que, sim, na verdade, sou um bom negociador completou ele.
Se depender do carisma e do poder de persuasão de Elba, "Sequestro no Ar" tem tudo para ter uma segunda temporada. A propósito, o projeto faz parte da parceria entre a Apple TV+ e sua produtora, a Green Door Pictures. Resta saber se há história para continuar um sequestro no ar. Quem sabe, da próxima vez, no mar. Ou, por que não, projetos diferentes, ousados e que tragam o afrofuturismo (tema caro a Elba), por exemplo, no centro da ação.
Por ora, os dois primeiros episódios de "Sequestro no Ar" já estão disponíveis e um novo episódio estreia toda quarta na Apple TV+.
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