Flavia Guerra

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Grazi Massafera: 'Hoje trabalho por prazer de trazer questionamentos"

Usar seu carisma e o cinema para tratar de temas como maternidade, puerpério, depressão pós-parto, a busca da perfeição e a cultura do cancelamento, do linchamento, entre outros temas. Este é o objetivo que Grazi Massafera traz ao Festival de Gramado 2023, onde participou da première mundial do filme "Uma Família Feliz".

"Já trabalhei por dinheiro e sem emoção, sofrendo. Já trabalhei por vaidade. Hoje eu trabalho pelo prazer de trazer esses questionamentos de cunho social. Vamos olhar para isso? E a escolha dos personagens tem sido bem minuciosa porque também estou cuidando muito da minha vida pessoal", contou a atriz em conversa com o UOL Splash.

No filme dirigido por José Eduardo Belmonte, Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini formam uma família aparentemente perfeita, que vive uma vida confortável e feliz em um condomínio seguro e conservador no Rio de Janeiro. Ela está grávida do primeiro filho do casal e cria como mãe as filhas gêmeas de dez anos do primeiro casamento do marido. Tudo vai bem até que, logo após o bebê nascer, é acusada de machucar as meninas e o menino. É então que passa a ser linchada moral e quase fisicamente pela vizinhança, que a julga e a condena imediatamente.

Reynaldo Gianecchini, Juliana Bim, José Eduardo Belmonte, Grazi Massafera e Raphael Montes
Reynaldo Gianecchini, Juliana Bim, José Eduardo Belmonte, Grazi Massafera e Raphael Montes Imagem: Divulgação

Thriller que mescla drama de família e cinema de gênero, "Uma Família Feliz" é um suspense que revela crueldades escondidas nas entrelinhas de um cotidiano quase normal. O roteiro é assinado pelo autor Raphael Montes, da série "Bom Dia, Verônica" (em que Gianecchini também atua), e romances de sucesso como "Dias Perfeitos" e "Jardim Secreto".

"O filme tem muitas camadas e os personagens não podem deixar a desejar. Esta profundidade de todos, que o Zé (Belmonte, diretor) exige dele, mas que também fala do momento feminino que a gente está em relação a tudo, em relação a personagens femininos que sempre existiram. A gente sempre foi isso que a gente é. A gente não está mostrando nem 5% da nossa força e das nossas histórias", analisou a atriz, que, com a estreia de "Uma Família Feliz", acredita fazer uma espécie de estreia, ou reestreia, no cinema. Antes, ela atuou em "Didi, O Caçador de Tesouros" (2006), "Billi Pig" (de 2012, também dirigido por Belmonte).

"Venho de um lugar em que me sinto mais madura para poder aproveitar este momento. E num lugar de trazer essas reflexões como: "Somos felizes na maternidade. É um momento divino. Para mim é um grande milagre gerar uma vida. Ser absolutamente apaixonada por aquele ser e não existir mais nada naquele momento", observou.

"Mas também existem muitas questões hormonais e psicológicas que vêm junto e que a gente nega porque a gente tem que ser perfeita. Para a sociedade, em questão de beleza, de emoções e tem que dar conta de tudo", comentou Grazi.

Grazi Massafera e Gianecchini em "Uma Família Feliz"
Grazi Massafera e Gianecchini em "Uma Família Feliz" Imagem: Divulgação
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Sendo um suspense passado em um núcleo familiar que simboliza a busca da perfeição da "família de comercial de margarina" e explorar justamente as contradições e dramas que permeiam a vida das mulheres, "Uma Família Feliz", como comenta o José Eduardo Belmonte, "contrabandeia" estes temas que muitas vezes não são abordados nem mesmo no drama.

"Acho que trazer estas reflexões humaniza e faz também com que as pessoas tenham mais humanidade em relação a todo o universo feminino. Hormonalmente, durante uma gravidez, você tem uma explosão. Cabelo mais bonito, toda pele fica mais bonita, você está gerando uma nova vida nas suas entranhas. Depois disso, o bebê nasce, falando de uma maneira bem geral, pois quem pode falar disso melhor é um médico, mas depois que o bebê nasce a gente tem este boom hormonal inverso. Como que a gente lida com isso? A gente não está preparado. Ninguém fala disso", completou a atriz sobre o fato de poder tratar de questões sobre a maternidade, a depressão pós-parto, o puerpério e os desafios que toda mãe enfrenta por meio de um filme de gênero.

Os aspectos sombrios, não só dos indivíduos, mas também da sociedade, ganham contornos soturnos na obra de Raphael Montes, mas as discussões que um filme como "Uma Família Feliz" traz podem e devem extrapolar o cinema de gênero. "Para onde a gente caminha como sociedade? Que julgamento é este que a gente faz hoje? Pequenas mentiras ou dúvidas se tornam grandes verdades, linchamentos e crimes sem nenhum tipo de avaliação. Só pelo fato do efeito manada ou até mesmo pelo fato de se prospectar a própria sombra no outro. Você precisa linchar aquela pessoa porque parece que a sua sombra vai sumir ou diminuir através disso. É um projetar. O filme fala de tudo isso", observa Grazi.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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