Flavia Guerra

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Plano Geral: de Pinochet vampiro a Ferrari, quais os favoritos de Veneza?

O Plano Geral desta semana traz um especial sobre o Festival de Cinema de Veneza 2023, que chega à sua 80ª edição com filmes que abrem a temporada do segundo semestre e abre a corrida ao Oscar 2023.

Ainda que desfalcado de estrelas por conta da greve dos atores de Hollywood, o evento traz uma seleção forte com filmes que serão, mais que motivo de indicações ao Oscar, foco de muita discussão.

Exemplo dos longas que vão gerar muito debate é "Ferrari", de Michael Mann, que há oito anos não lançava um novo trabalho. A cinebiografia do piloto e criador da Ferrari, Enzo Ferrari foi bem recebida no festival, que pôde contar com a presença de seu protagonista, Adam Driver, que conseguiu uma autorização do SAG para representar o filme no festival, uma vez que o filme é produzido por um estúdio independente.

"Ferrari" retrata não só a faceta de empreendedor de Enzo, além da crise de seu casamento com Laura Ferrari, com quem fundou a empresa e a escuderia, mas também a lendária corrida de Mille Miglia, em que ocorreu um sério acidente, em 1957. A trama traz ainda Shailene Woodley (de "Big Little Lies", no papel Lina, com quem ele teve um caso e um filho, Piero). Destaque importante vai para o brasileiro Gabriel Leone, que vive o piloto espanhol Alfonso de Portago, que tem importância crucial para a trama.

Além de "Ferrari", que se passa em 1957, Leone passa uma temporada na Argentina, onde filma atualmente a série "Senna", em que vive o icônico piloto, que tem estreia prevista para 2024 na Netflix.

"São três grandes pontos de interesse: a história de Enzo, é do Michael Mann, amado por todo e qualquer cinéfilo, que há vários anos não filmava e volta com um filme de bastante apelo comercial", comentou Thiago.

"Não tenho um filme preferido dele, mas acho que ele tem a capacidade de trazer filmes com grandes personagens masculinos e, ao mesmo tempo, de forma que entretem muito. "Ferrari" é um belo caso. A gentão não pode falar de automobilismo sem falar da Ferrari. Ao mesmo tempo, é uma história que nos causa empatia pelo Enzo, que é um homem dividido entre suas paixões e seus dramas", analisou Flavia Guerra, que está em Veneza cobrindo o festival para Splash.

"El Conde", de Pablo Larraín, traz o ditador Augusto Pinochet como um vampiro que jamais morre, em competição no Festival de Veneza 2023
"El Conde", de Pablo Larraín, traz o ditador Augusto Pinochet como um vampiro que jamais morre, em competição no Festival de Veneza 2023 Imagem: Divulgação

Outro filme de destaque que interessa particularmente os latino-americanos é "El Conde", do chileno Pablo Larraín. O diretor de sucessos com "NO", "Spencer" e "Jack" desta vez traz o ditador Augusto Pinochet como um vampiro, cujas origens datam da Revolução Francesa. Depois de séculos predando o sangue dos europeus, ele decide "se mudar" para a América Latina e escolhe o Chile como seu novo refúgio. Ele odeia o sangue latino, que afirma que é ocre e "fica na boca" por semanas, mas adora a energia do latino-americano e a suga principalmente dos corações. Quanto mais jovens as presas e os corações, mais energia e mais rejuvenescido ele se torna. As metáforas com o neo-fascismo, o autoritarismo se alimentando das mentes e corações das novas gerações dos países latinos é tão óbvia que chega a ser genial.

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"Eu adorei. Como latino-americana, acho corajoso, ousado criativamente e muito oportuno 'El Conde'. Larraín tem um estilo muito particular, uma assinatura própria e muita criatividade para contar uma das faces mais medonhas das décadas que assolaram nosso continente com Ditaduras Militares, que são filhas de monstros que, no filme, são genialmente transformados em metáforas divertidas e, ao mesmo tempo, muito reais, em um diálogo muito direto com a História, com H maiúsculo e oficial", apontou Flavia.

Um dos favoritos de Veneza 2023 até o momento é "Pobres Criaturas", de Yorgos Lanthimos. O longa é estrelado por Emma Stone. Ela vive Bella, uma espécie de invenção do Doutor God Bexter, um médico e cientista tão maluco quanto genial. (ouça em 15:00)

Vivido por Willem Dafoe, Dr. God faz de Bella um experimento. Ela é uma jovem anônima praticamente sem vida que ressuscita, em um experimento complexo, com o objetivo de investigar sua evolução. Cirurgião exímio, filho de um médico também genial e sádico, que fazia do filho sua cobaia, ele contrata um aluno, Max McCandles (Ramy Youssef) para anotar todos os avanços de Bella.

Ela é uma criança em um corpo de uma jovem mulher. Seus movimentos, maneiras, andar, pensar e falar são puros e cheios de encantamento pelo mundo. Têm a magia e a violência das descobertas e dos caprichos infantis. Ela vive protegida na casa de Baxter até que evoluiu tanto que sonha com sua independência e em conhecer o mundo.

Flavia aposta em várias indicações do filme ao Oscar 2023 e destaca, principalmente, o trabalho de Emma. "É o melhor papel da carreira dela. Certamente é forte candidata a uma vaga na indicação de Melhor Atriz. Ela não tem pudor e nem medo de viver uma mulher em busca de sua independência, inclusive e sobretudo sexual. As cenas de sexo do filme são bem realistas, mas incrivelmente leve e até com humor", comenta.

Nas estreias da semana nos cinemas, o Plano Geral destaca "As Oito Montanhas", da dupla Felix van Groeningen (Querido Menino) e Charlotte Vandermeersch, de "Alabama Monroe". Premiado no Festival de Cannes 2023, o longa conta a história de dois amigos que, ao longo de várias décadas, se encontram, desde a infância até a fase adulta, em um vilarejo nos Alpes Italianos. Com as idas e vindas, um novo reencontro traz novos atritos, dramas mas também a renovação da amizade.

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Entre outros destaques desta edição, Thiago traz a mostra dos filmes de Charles Chaplin na MUBI, como "Tempos Modernos" e outros clássicos. Do Festival de Cannes 2022, a seleção da plataforma é "EO"" do polonês Jerzy Skolimowski, que foi premiado no festival francês. "Pacifiction", de Albert Serra, eleito o melhor filme de 2022 pela revista francesa Cahiers du Cinéma e indicado à Palma de Ouro em Cannes, traz a atmosfera de mal-estar e a paranoia que envenenam a calma do paradisíaco Taiti, na Polinésia Francesa. Imerso em ambiguidade moral, a impressionante atuação de Benoît Magimel incorpora o poder corruptor do estado imperial.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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