'Eu vendo carros para correr': a adrenalina e drama do filme 'Ferrari'
"Ferrari", novo filme de Michael Mann, estreia em circuito somente em 8 de fevereiro de 2024, mas a expectativa já é imensa desde que o diretor norte-americano anunciou que filmaria a história do criador da lendária escuderia, o magnata e ex-piloto Enzo Ferrari, vivido na trama por Adam Driver.
Na noite desta quarta-feira (1), o público de São Paulo tem a chance de assistir a uma première especial de "Ferrari", que será o filme de encerramento da 47ª Mostra Internacional de Cinema e será exibido logo após a cerimônia de premiação no Espaço Petrobras, na área externa da Cinemateca Brasileira.
O evento conta com a participação do ator Gabriel Leone, que vive um personagem carismático e destemido, o piloto espanhol Alfonso de Portago, e a festa começa a partir das 19h30, apresentada pela diretora do festival, Renata de Almeida, e por Serginho Groisman.
Para quem não conseguiu comprar ingresso para a cerimônia online, alguns ingressos serão disponibilizados para venda no próprio local pouco antes da cerimônia, que conta com a presença de profissionais do cinema, além dos jurados desta 47ª edição que entregam o Troféu Bandeira Paulista aos filmes escolhidos da seção Competição Novos Diretores. Também serão entregues os prêmios Netflix, Paradiso, o 2º Prêmio Brada de Direção de Arte, da crítica e da Abraccine.
Distribuído no Brasil pela Diamond Films, "Ferrari" fez sua première mundial no Festival de Veneza, em setembro, e é o primeiro trabalho internacional de Gabriel Leone, que está em uma fase automobilística na carreira e filma atualmente a série "Senna", com estreia prevista para 2024 na Netflix.
Ainda que não seja o personagem principal de "Ferrari", Leone tem papel crucial na trama, protagonizando a sequência mais dramática e eletrizante do longa de Michael Mann. Para além da adrenalina, tal sequência marcou não só a história da Mille Miglia de 1957, mas mudou o automobilismo para sempre.
Mais que o esporte em si, Mann, que assina produções como "O Informante", "Colateral" e "Fogo Contra Fogo", está interessado no drama humano que permeia a F1 e a trajetória de figuras como Portago e Enzo. Mestre em construir narrativas com personagens complexos e muitas vezes polêmicos, desta vez, o diretor mira principalmente nas contradições de um dos nomes mais ilustres não só do automobilismo ou da Itália, mas do mundo dos negócios. Enzo Ferrari é um verdadeiro mito contemporâneo. E Mann está interessado não só em sua faceta lendária e pública, mas sim em sua vida privada e motivações pessoais.
Enzo, por si só, é um personagem perfeito para o cinema. Um homem que traz dentro de si oposições dignas de um épico. Ao lado da mulher Laura (vivida por Penélope Cruz), ele fundou a Scuderia Ferrari e com ela viveu o auge dos primeiros anos, mas encarou a crise do verão de 1957, quando a empresa, já uma potência da Fórmula 1, corria o risco de falência por conta do gasto imenso que o ex-piloto tinha com sua paixão, as corridas. Em certo momento, Enzo diz: "Eles [os rivais Maserati] correm para vender carros. Eu vendo carros para correr".
Para além da escuderia da F1, da marca bilionária, uma das mais valiosas e prestigiadas do mundo, o que mais o interessava o cineasta na saga de Enzo era justamente a dimensão humana. "Por mais operística que possa parecer, quanto mais a gente se aprofunda na história do homem, mais universal se torna", respondeu o diretor Michael Mann ao conversar com a imprensa no Festival de Veneza 2023.
"Eu e Michael nos conhecemos um ano antes de começar a filmar. Ele me mandou o roteiro. Todo mundo tem uma opinião e uma versão de quem o Enzo Ferrari era. Mas o motor da história do Michael era basicamente movido pelo luto e as diferenças entre sua relação com Laura e Lina Lardi, em contraposição com sua mãe. Era uma história que eu não sabia muito sobre e me pareceu assustadora e, ao mesmo tempo, instigante", comentou Adam Driver.
Enquanto encara a crise financeira, Enzo enfrenta também, ao lado de Laura, uma crise profunda no casamento que começou com a morte do único filho do casal, o jovem Dino. O ex-piloto e empresário, ou "O Comendador", como era chamado, encontra algum alívio e alegria nos braços de Lina Lardi (Shailene Woodley), com quem tem secretamente um filho, o pequeno Piero. Na verdade, não tão secretamente assim. Em Modena, onde vivem, todos sabem da história. Menos Laura. Drama maior não há.
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Quero receberQuem chega para ganhar a corrida e a atenção de Enzo é o piloto espanhol Alfonso De Portago (Gabriel Leone). Jovem, destemido, filho de uma família de aristocratas da Espanha, nascido em Londres e criado na França, Portago surge como mágica em um momento crítico, em que o piloto oficial da escuderia morre em um teste. Pronto para assumir o cargo e vencer, o personagem é decisivo na trama e Leone o interpreta com competência e carisma.
Seu papel é crucial para a trama e para a história da Ferrari e do automobilismo, mas alongar-se na história é, ao menos para os que não a conhecem, tirar o prazer de descobrir ao assistir ao filme.
Adaptado do livro "Enzo Ferrari: O Homem por trás das Máquinas", de Brock Yates, por Mann e pelo roteirista Troy Kennedy Martin, "Ferrari" tem cenas de velocidade e corrida, além dos tantos acidentes, que impressionam pela veracidade. Acidentes, luto e morte faziam parte não só da vida de Enzo, que também perdeu o irmão na Primeira Guerra, dois amigos cruciais nas pistas, entre outros, mas são intrínsecos ao automobilismo.
Adam Driver (que viveu Maurizio Gucci) está mais confortável com o sotaque italiano em "Ferrari". Obviamente, não deve ser regra que uma história deva ser sempre falada no idioma do personagem histórico (o Napoleão de Joaquin Phoenix está aí para provar isso). Sem contar que estrelas como Penélope Cruz e Driver sempre ajudam a alavancar um projeto caro como "Ferrari". No entanto, talvez o papel de Lina Lardi poderia ser de uma atriz como Jasmine Trinca, por exemplo, ou Piero Taruffi poderia ser vivido por Pietro Castellitto, jovem e promissor ator e diretor italiano. Shailene Woodley e Patrick Dempsey são competente e ótimos atores, mas seria ao menos simpático ter ao menos um nome italiano forte no casting de um filme que já entrou para a história.
Resta aguardar fevereiro e conferir como o público, tanto o aficionado por automobilismo e pela Ferrari quanto o que quer "apenas" embarcar em uma ótima história, vai embarcar nesta saga única.
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