'Perda, traição e corrupção': Gary Oldman expõe o drama de 'Slow Horses 3'
A terceira temporada de "Slow Horses", que estreou há pouco na Apple TV+ e cujo último episódio vai ao ar hoje, quebra a tradição da série, que funcionou nas duas primeiras temporadas como uma espécie de antítese das grandes histórias de espiões à la James Bond, Jason Bourne e Missão: Impossível, com seus agentes fracassados, rejeitados, que trabalham em um escritório que mais parecer pública empoeirada.
Desta vez, começamos com uma história de amor e traição, grandes perseguições cinematográficas pela belíssima Istambul e um assassinato muito suspeito, que serve de gatilho para que a trama volte a Londres e os "slow horses" entrem em cena, em uma temporada que envolve agora um inimigo interno, que corrompe e ameaça não só os "slow horses" como o próprio serviço secreto inglês, que guarda um segredo obscuro a sete chaves.
Em tempos de descrença nas instituições, "Slow Horses" ajuda a gente a rir do sistema. "Esta temporada é sobre perda, perda pessoal, traição e corrupção", comenta Gary Oldman, o chefe dos "Slow Horses", em entrevista exclusiva para Splash.
Se o início desta temporada é grandioso e com ares de 007 e Trilogia Bourne, não se engane, pois é uma cena do segundo episódio da série que resume perfeitamente o quão distante do clichê das histórias de espiões internacionais estão seus protagonistas.
O agente River Cartwright (Jack Lowden) tenta sair de The Park (o QG dos prestigiados agentes do MI5, o serviço secreto de segurança britânico), onde entrou sem exatamente uma permissão e acabou sendo surrado e perseguido por velhos inimigos. Ele se esgueira, corcunda, atrás do carro de uma funcionária e, todo desajeitado, quase engatinha para se esconder dos guardas da portaria.
É tão constrangedor quanto engraçado assistir ao atrapalhado, ainda que inteligentíssimo River, tentar fazer o papel de um agente do nível de James Bond, mas, no máximo, ser um "Slow Horse".
Sim, ele é um MI5, mas é um agente rejeitado que trabalha justamente divisão dos "Slow Horses" os "cavalos lentos", que ficaram para trás na carreira, pois cometeram erros crassos (o caso de River), têm problemas de disciplina, de dependência em drogas, e outros problemas afins.
Quem comanda a trupe é o ensebado Jackson Lamb, um agente tão brilhante quanto flatulento, mal-ajambrado e de gostos duvidosos. Vive à base de kebab, bebidas e destilando seu mau humor peculiar, além de seus gases. No entanto, ele é de longe o mais perspicaz, inteligente e estrategista dos MI5, mas os despreza na mesma medida de seu talento.
Tanto que, de certa forma, prefere ficar à margem, comandando a Slaugh House (a Casa Pântano), o "departamento" para onde os "fracassados" são mandados, uma espécie de repartição pública empoeirada, desorganizada e desbotada em Aldergate Street, bem em frente ao metrô do Barbican em Londres. Mais longe do glamour de 007, impossível.
Quem já assistiu às duas temporadas de "Slow Horses" já sabe de tudo isso, mas é sempre interessante pontuar como o roteiro (baseado na série de livros de sucesso de Mick Herron) se apropria da mítica clássica das histórias de agentes secretos e a subverte com humor, crítica e uma dose boa de humanidade.
Nesta terceira temporada, o livro "Real Tigers", o terceiro da série de Herron, Lamb e seus pupilos têm de resgatar um membro de sua própria equipe. No caso, Catherine Standish (Saskia Reeves), assistente e faz tudo de Lamb, foi levada por um grupo misterioso formado por agentes secretos. Entender o que querem e como a própria corporação está corrompida é um dos desafios dos "Slow Horses" desta vez.
Lamb está mais ácido, entediado e irritado com o sistema de poder do que nunca. Em suas conversas com a chefona de The Park, Diana Taverner (Kristin Scott Thomas, sempre genial), Lamb destila puro sarcasmo e desprezo. É um duelo de titãs delicioso de se assistir.
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Quero receberEla é a antítese dele, domina o sistema e está sempre impecável. Ele poderia ser chefe de tudo, mas prefere expor o quão também ridículos são os que se levam a sério demais e vivem em sua frágil torre de arrogância.
"E eu realmente gosto disso porque as instituições estão meio corrompidas por dentro hoje em dia. Isso é bastante sintomático.E ele viu muitas coisas terríveis na vida dele, sabe, que aconteceram com ele, não apenas pessoalmente. A corrupção dentro do sistema. Isso é o que ele realmente despreza", responde Oldman.
Eu não sei se a Slough House existe ou poderia existir. Existir alguém que é do MI5, nas que não está realmente do MI5. Mas com certeza é uma invenção crível de Mick Herron. Acho que ele nos dá esse tipo de profundidade estranha. Essa ramificação do ramo principal. E há uma espécie de grupo justo disfuncional contra esse edifício corrupto (The Park), esta organização. E isso é inteligente porque isso tudo é bom para o drama e para o humor. Gary Oldman
De fato, é este grupo justo desfuncional, tão patético quanto genial que cativa nossa atenção e nosso coração. Em um mundo que vangloria os vencedores o tempo todo, principalmente em tempos de redes sociais e jogos de aparência sem fim, é impossível não amar e não torcer pelos cavalos lentos da corrida.
"Sim. Eles são idiotas. Mas ele e a equipe têm realmente um talento maravilhoso. Para os 'Slow Horses' desta vez e para Jackson Lamb desta vez, é porque é um dos nossos que corre perigo. Então, é mais perigoso, mais pessoal. Nós gostamos de estar na companhia desses perdedores", diz Oldman.
Quero dizer, a história pode ser o que quer que seja. Mas adoramos vê-los discutindo um com o outro. E é como se tivéssemos que passar um tempo. Com esta espécie de família uma vez por ano. Podemos passar um tempo, sabe, seis episódios, com esse tipo de Família disfuncional de espiões. Eu acho que esse é o apelo.
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