De olho no Brasil, fórum Cinéma du Monde destaca cinema do país em Cannes
"Basicamente, queremos focar em questões ou temas que são muito queridos ao coração dos cidadãos, como a mudança climática, uma sociedade inclusiva, a democracia, a liberdade de expressão." Assim resumiu a presidente do Institut Français, Eva Nguyen Bin, ao contar para Splash sobre as expectativas para a área cultural do Ano do Brasil na França, em 2025, durante evento do Cinémas du Monde Pavilion (Pavilhão Cinemas do Mundo).
Reciprocamente, 2025 também será também o Ano da França no Brasil e diversas atividades em todas as áreas estão sendo organizadas, mas o setor cultural, e, principalmente, o audiovisual são interesses crucial para ambos os países.
"E eu acho que esta será uma ferramenta muito boa para jogar uma nova luz na relação entre nossos dois países. Não apenas entre nossos dois governos, a nível político, mas entre as pessoas", completou Eva durante a conferência "Focus on Brazil - A Política Cinematográfica e Audiovisual do Governo Brasileiro", realizada em parceria com o Ministério da Cultura, o Instituto Guimarães Rosa e a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção e Exportações e Investimentos).
Além de apoiar as indústrias criativas e culturais internacionais, com o Pavilhão, o Institut Français oferece no espaço de encontros e trabalho uma série de painéis, mesas redondas, conferências, masterclasses, e, claro, sua menina dos olhos, o programa La Fabrique Cinéma, que reúne uma lista seleta de 10 projetos em desenvolvimento selecionados a dedo.
Para dar um panorama do atual audiovisual brasileiro no Cinéma du Monde, estavam no "Focus on Brazil" Joelma Gonzaga, secretária do Audiovisual do Ministério da Cultura, Eros Ramos Tomaz da Silva, da ApexBrasil, Igor Trabuco Bandeira, diplomata e chefe da Divisão de Ações de Promoção da Cultura Brasileira do Ministério das Relações Exteriores, e Matthieu Thibaudault, adido cultural e audiovisual na Embaixada da França no Brasil, além de Anne-Sophie Braud, diretora-adjunta de Mobilidade e Eventos Internacionais do Institut Français, que abriu a conversa.
"Acho que tivemos a chance de ter oficiais brasileiros que puderam vir e explicar o que é o audiovisual, como vai o cinema no Brasil e também o que estará em pauta no festival cultural entre o Brasil e a França em 2025", acrescentou Eva ao final do painel brasileiro. Vale lembrar que o Institut Français é agente fundamental na política cultural externa da França e está sob a dupla autoridade do Ministério da Europa e dos Negócios Estrangeiros e do Ministério da Cultura.
De olho nas suas missões primordiais, a de promover a cultura e a língua francesa e também a diversidade cultural em todo o mundo, o Institut Français trabalha sempre em colaboração com a rede cultural francesa no exterior. Neste sentido, a temporada Brasil-França 2025 é tema de primeira ordem já nesse ano.
"Quando falamos sobre o Brasil, na verdade, estamos no processo de organizar o Festival Cultural entre o Brasil e a França, que acontece em 2025. Então, aqui em Cannes, aproveitamos esta oportunidade para apresentar este projeto a todas as pessoas que queriam vir, como os produtores, os diretores, os criadores, os escritores. Então, fizemos uma mesa redonda sobre o que vai acontecer em 2025 entre os dois países no campo do cinema e estava lotado!", analisou Eva.
Sobre as relações entre a cultura, e principalmente o audiovisual, brasileira e francesa, o Splash também conversou com Joelma Gonzaga, secretária audiovisual, e com Vinícius Gurlter, coordenador geral da assessoria especial de Assuntos Internacionais do Ministério da Cultura, em Cannes.
"A França é um dos principais parceiros de coprodução do Brasil desde sempre. Então a temporada França-Brasil e Brasil-França passa por não só retomar nossas relações internacionais, mas recriar, inovar e ampliar essas relações. Esta temporada cruzada passa por isso. Repensar o é positivo da nossa relação, ampliar e entender o que mais nós podemos fazer juntos", declarou Joelma.
Já Vinícius pontuou que a missão de 2024 em Cannes foi marcar sobretudo que "o Brasil voltou". "O Ministério da Cultura, a Secretaria do Audiovisual e o Ministério da Cultura e a ministra (Margareth Menezes) têm um carinho muito especial pelo audiovisual. Então, viemos para mostrar que estamos aqui para apoiar os produtores, distribuidores, os agentes de mercado, os artistas. É um prazer muito grande poder se reconectar", declarou Gurlter.
Sobre os preparativos para o Ano da França no Brasil, adiantou: "A gente pretende apoiar uma série de áreas e, isso é importante, a gente quer ter um olhar não apenas para Paris, mas para toda a França. Da mesma forma, no Brasil, a gente quer que o Ano da França seja percebido por toda sociedade e não apenas em algumas capitais. Queremos apoiar valores como democracia, juventude e novos talentos. Temos esse olhar e estamos construindo uma programação bem interessante", concluiu.
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Quero receberLa Fabrique Cinéma - A concorrida Fábrica de Cinema
O Brasil também teve um dos concorridos dez lugares no programa La Fabrique Cinéma 2024. Organizado pelo Institut Français (Instituto Francês) há 16 anos, o La Fabrique Cinéma (Fábrica de Cinema) foi criado para apoiar diretores e produtores do Sul Global em seus primeiros ou segundos filmes. Em 2024, a edição do projeto dedicou atenção especial ao Brasil já como parte das atividades do já citado Ano do Brasil na França e do Ano da França no Brasil, que ocorre em 2025.
Como já dito, entre as tantas atividades que serão realizadas entre França e Brasil em diversas áreas, um festival cultural irá trazer artistas franceses ao País e também levar artistas brasileiros ao território francês. Além disso, parcerias entre os dois países, que já possuem um acordo de coprodução, utilizado em diversos projetos já existentes, ganham foco especial nesse ano.
Ao todo, todo ano o La Fabrique Cinéma recebe cerca de 120 inscrições e apenas dez projetos são selecionados. A cada edição, 20 diretores e produtores vão a Cannes participar de reuniões, rodas de conversas, masterclasses, negócios e mentorias.
Neste ano, a África recebeu também atenção especial. Quem representou o Brasil foi "Moa", de Marcel Beltrán, produzido por Paula Gastaud (Mediocielo Films) em coprodução com Cuba. Segundo filme da parceria entre Gastaud e Beltrán, que realizaram "La Opción Zero" (Opção Zero) juntos, "Moa" é o primeiro longa de ficção do diretor e se define como um drama ambiental misterioso. Segundo matéria da revista Variety, também tem produção da brasileira Maria Farinha Filmes ( da série "Aruanas") e já levou outros prêmios importantes, como o Open Doors do Festival de Locarno (na Suíça), uma espécie de hub que reúne produtores e talentos dedicada a projetos da América Latina e Caribe.
"Moa" conta a história de Solange, uma mulher que luta para se livrar de um relacionamento tóxico que a conduziu também à se conectar com povos ancestrais. Quando ela volta para sua terra natal, percebe que a cidade que deixou mudou muito e começa a sentir um imenso desconforto neste novo cenário.
A premissa de "Moa" vem bem a calhar com a análise que o cineasta Philippe Lacôte, natural da Costa do Marfim e tutor da Fabrique 2024, comentou em conversa com Splash sobre a edição deste ano. "Eu estava aqui há seis anos com o meu segundo longa-metragem, "Night of the Kings" ("A Noite dos Reis"). Foi uma edição muito boa para mim porque Cristian Mungiu (cineasta romeno) era o mentor. Agora, eu tento continuar essa jornada com esses novos participantes, como mentor, mas sempre fiquei impressionado com a energia de todos os diretores, que vêm de todo o mundo e têm estilos diferentes de filmar, de cinematografia e visões diferentes. Portanto, é importante para mim ter essa diversidade", observou o diretor, que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2021 por "A Noite dos Reis".
Do total neste ano, nove foram ficções e um documentário. Entre os dez cineastas, quatro são mulheres e seis homens. Já na produção, seis mulheres e quatro homens estão à frente dos projetos. Entre os dez, sete também foram os segundos longas e três são primeiros. Além do Brasil, Costa do Marfim, Macedônia do Norte, República Dominicana, Ucrânia, Tailândia, Peru, Jamaica, Algéria, Filipinas foram selecionados. Ainda que projetos diferentes não só geograficamente, mas em proposta de linguagem e temática, um ponto une os projetos: a vida complexa no mundo contemporâneo.
De olho nos temas que movem não só o cinema, mas também o mundo contemporâneo, Lacôte observou que a identidade e o senso de pertencimento são pontos cruciais nas histórias que os jovens têm contado. "A identidade não fala somente aos corações de jovens, na verdade, mas acho que é uma questão muito sensível. De onde eu venho? A que lugar pertenço? Os filmes, os projetos que tocam neste tópico estão muito no centro das atenções porque eles falam do que importa para as pessoas hoje. Não é o único assunto que importa, mas é um tema muito importante", completou o diretor.
Desde sua criação, La Fabrique Cinéma Desde 2009, ja apoiou 154 projetos de países em desenvolvimento e emergentes e acompanhou 282 participantes (43% destes, são mulheres) de 65 nacionalidades diferentes. 30% dos projetos são de países africanos. Entre os projetos apoiados até 2023 já foram realizados 58 filmes, cerca de 40% do total. 52% desses filmes foram lançados na França, o que sinaliza que participar da Fabrique também é uma certeza de poder exibir seu filme em sala, um desafio para muitos cineastas que assinam seus primeiros e segundos filmes.
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