Bonito CineSur abre com 'Selva Trágica', clássico de Roberto Farias
O cenário já é perfeito e tem tudo a ver com a questão sócio-ambiental. Bonito, no Mato Grosso do Sul, coração da América do Sul e do Brasil, faz parte do Parque Nacional da Serra da Bodoquena e é um dos pontos de ecoturismo mais importantes do País. Em 2023, realizou pela primeira vez seu festival de cinema, o Bonito CineSur - Festival de Cinema Sul-Americano, focado, claro, em histórias que trazem as questões culturais, sociais e do meio ambiente para o centro de sua ação.
Em sua segunda edição, que ocorre de 19 a 27 de julho na cidade de Bonito, o Bonito Cinesur traz 42 filmes; entre eles, 30 filmes selecionados para as mostras competitivas. O filme de abertura cumpre a tripla missão de celebrar o cinema hoje já clássico brasileiro, com a exibição de "Selva Trágica", que Roberto Farias dirigiu em 1963, além de homenagear o ator Reginaldo Farias, que integra o elenco e está presente à sessão.
O longa denuncia as desigualdades sociais no campo ao retratar a exploração dos trabalhadores no cultivo da erva-mate, tema que merece mais atenção da sociedade e do público de cinema brasileiro. Na trama do filme, baseado no romance de Hernani Donato, Reginaldo é Pablito, homem que vive em condições precárias, trabalhando quase em regime de escravidão na exploração da erva-mate na fronteira com o Paraguai. Sua mulher Flora (vivida por Rejane Medeiros) também é praticamente uma escrava e se prostitui para sobreviver. É um dos grandes filmes do diretor de outros clássicos como "Pra Frente Brasil" e "Assalto ao Trem Pagador".
Entre outros filmes, o festival terá pré-estreias e sessões especiais de "Ainda Somos os Mesmos", "Placa-Mãe", "Invisível," e "A Filha do Pescador", "Luiz Melodia - No Coração do Brasil", vencedor dos festivais É Tudo Verdade e In-Edit 2024, além do peruano "La Assistente", entre outros.
"É a segunda vez que participo, com o maior prazer, da curadoria do Bonito CineSur. Este ano fiquei na curadoria da competição de longas-metragens sul-americanos, e contei com a parceria de duas colegas preciosas, a Andréa Cals e a Marcela Lordy. Foi um trabalho difícil, porque tínhamos mais de cem longas para escolher os seis concorrentes. Nossa intenção, além de valorizar a qualidade dos filmes, foi a de contemplar a maior diversidade possível de países, de temas e de gêneros cinematográficos, sem perder de vista o interesse do público de Bonito. Por isso, na seleção final há documentário, comédia, policial, drama, animação", declarou o crítico e curador José Geraldo Couto.
"A ideia era compor um painel amplo e diversificado da melhor produção contemporânea no continente. Acredito que essa intenção se completa com os seis curtas selecionados para a competição sul-americana, além dos títulos que compõem as mostras de cinema ambiental e de animação infantil. O Bonito CineSur está só na sua segunda edição, mas já se firma como evento culturalmente relevante no panorama regional, nacional e continental", concluiu o curador.
A programação também inclui diversas mostras competitivas de filmes sul-mato-grossenses, ambientais e sul-americanos, além de sessões infanto juvenis e pré-estreias no Cine Bonito, espaço novo no centro da cidade que vai permitir que bonitenses e o público possam ver filmes gratuitamente. Oficinas e debates sobre cinema, com a participação de cineastas e especialistas, também trazer trocas de experiências sobre a produção cinematográfica na América do Sul.
No dia 27 de julho, haverá uma homenagem ao cartunista Ziraldo, com a exibição do filme "Menino Maluquinho" no Cine Bonito. No mesmo dia, será exibido o filme de encerramento: "Terceiro Milênio" (1981), outro clássico dirigido por Jorge Bodanzky. O filme aborda a potencialidade econômica do Amazonas e seus desvios, incluindo a corrupção na política indigenista e a presença de fábricas poluidoras. Em seguida, a atriz Dira Paes entrega os prêmios aos vencedores do festival.
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