Filme de Walter Salles concorre ao Leão de Ouro do Festival de Veneza

O longa também integra a competição do Festival de Toronto, que ocorre logo após Veneza, e faz no evento que é considerado, assim como italiano, uma prévia da corrida ao Oscar 2025.

"Estamos felizes de ir a Veneza com um filme tão pessoal. O livro de Marcelo me marcou profundamente, e nos convida a olhar essa história do ponto de vista de sua mãe, Eunice. No centro desse relato há uma mulher que teve que se reinventar e romper com os laços patriarcais das famílias brasileiras. Eunice, em sua contenção, traça uma forma de resistência incomum. O livro e o filme podem ser vistos como um relato sobre a reconstrução de uma memória individual conduzida por essa mulher, que se sobrepõe à busca pela reconstrução da memória de um país, o Brasil. Essa sobreposição entre o pessoal e o coletivo é uma das razões pelas quais quis fazer este filme. A busca da família Paiva se confunde com a luta pela redemocratização do Brasil", declarou o diretor Walter Salles.

Marcelo Rubens Paiva pontuou que a participação de "Ainda Estou Aqui" no Festival de Veneza é um presente à sua família, descendente de italianos. "Ter um livro adaptado por Walter Salles, que conheceu minha família e viveu aquele período como testemunha, honra a nossa família", declarou o escritor.

Ainda sem data de lançamento no Brasil, "Ainda Estou Aqui" tem produção da VideoFilmes, da RT Features e da Mact Productions, além de coprodução com Arte France Cinéma e Globoplay. O roteiro é assinado por Murilo Hauser e Heitor Lorega.

Competição equilibra bem filmes aguardados como "Coringa 2" e novos diretores

A lista de filmes em competição traz ainda outros longas aguardados. Depois de levar o Leão de Ouro em Veneza 2019 com "Coringa", Todd Phillips volta ao festival com "Joker: Folie à Deux", o "Coringa 2", com Joaquim Phoenix e Lady Gaga. Da Argentina, concorre "Kill the Jockey", de Luis Ortega.

A competição ganha força com "The Room Next Door", de Pedro Almodóvar, que, segundo Barbera, montou o longa a toque de caixa para poder estar em Veneza. Outro filme aguardadíssimo, "Maria", de Pablo Larraín, traz Angelina Jolie no papel da soprano Maria Callas, também concorre ao Leão de Ouro 2024. "Neste filme, afronta os últimos dias do exílio de Maria Calles em Paris, com uma performance incrível de Angelina Jolie", declarou Barbera.

Depois de concorrer em Veneza 2023 com "Até os Ossos" ("Bones an All"), Luca Guadagnino volta ao festival com "Queers", estrelado por Daniel Craig. Entre as diretoras, destaque para "Vermiglio", de Maura Delpero. "Wolfs", de Jon Watts, com Brad Pitt, George Clooney, Amy Ryan e Austin Abrams. Pitt e Clooney são dois agentes que se detestam e são obrigados a trabalhar juntos em uma missão em que têm de fazer desaparecer os traços de um crime.

O filme de abertura será "Beetlejuice Beetlejuice", ou "Os Fantasmas Ainda se Divertem", de Tim Burton, que vai garantir um tapete vermelho badalado.

Mais Brasil - "Apocalipse nos Trópicos", de Petra Costa

"Apocalipse nos Trópicos", quarto longa de Petra Costa, integra a seção Fora de Competição (Fuori Concorso). Um filme em que Petra "dedicou aos vertiginosos eventos dos últimos anos da História de seu país." "Aqui a investigação se organiza em torno de oito capítulos segue a prepotente ascensão de Bolsonaro, favorecida da igualmente rápida e crescente influência politica dos movimentos fundamentalistas religiosos de seu país", afirmou Alberto Barbera.

O cineasta Kleber Mendonça Filho integra o júri oficial que vai escolher o Leão de Ouro e os principais prêmios desta edição, ao lado de Isabelle Huppert, que vai presidir a equipe formada também por James Gray (Estados Unidos), Zhang Ziyi (China), Andrew Haigh (Reino Unido), Agnieszka Holland (Polônia), Abderrahmane Sissako (Mauritânia), Giuseppe Tornatore (Itália) e Julia von Heinz (Alemanha).

A atriz e diretora Bárbara Paz também estará em Veneza como jurada da mostra que escolhe o "Leão do Futuro - Luigi De Laurentiis", que homenageia o melhor filme estreante exibido no festival, incluindo tanto a mostra competitiva e a mostra Orizzonti (Horizontes).

Na seção paralela Jornada dos Autores (Giornate degli Autori), a cineasta Marianna Brennand concorre com seu primeiro filme, o longa "Manas". Protagonizada pela estreante Jamilli Correa, a produção traz no elenco nomes como Dira Paes, Fátima Macedo e Rômulo Braga, além de atores e atrizes locais da região amazônica, onde foi filmada. O roteiro vencedor do Sam Spiegel International Film Lab tem assinatura de Felipe Sholl, Marcelo Grabowsky, Marianna Brennand, Antonia Pellegrino, Camila Agustini e Carolina Benevides.

"Manas" narra a história de Marcielle/Tielle (Jamilli Correa), uma jovem de 13 anos que vive na Ilha do Marajó (PA) com o pai, Marcílio (Rômulo Braga), a mãe, Danielle (Fátima Macedo) e seus três irmãos. Ela cultua a imagem de Claudinha, sua irmã mais velha, que teria partido para bem longe após "arrumar um homem bom" nas balsas que passam pela região. À medida que amadurece, Tielle vê ruírem muitas das suas idealizações e se percebe presa entre dois ambientes abusivos. Preocupada com a irmã mais nova e ciente de que o futuro não lhe reserva muitas opções, ela decide confrontar a engrenagem violenta que rege a sua família e as mulheres da sua comunidade.

"Ver 'Manas' nascer para o mundo no Festival de Veneza é um sonho. É muito gratificante ter o meu primeiro filme de ficção entre os dez selecionados para a Giornate degli Autori, uma mostra que todos os anos revela novos talentos do cinema. Além do reconhecimento de um trabalho de dez anos, traz grande visibilidade para o filme e sua temática tão urgente", declarou Marianna.

Mostras paralelas com teor político e sobre o estado do mundo

Fora de Competição, a seleção de Veneza se mostra forte e com ficções e documentários que se voltam para os temas mais relevantes da atualidade, como o conflito Isral - Gaza, imigração, tecnologia e crise climática, política e econômica, como "Why War?", do israelense, e sempre crítico e contundente, Amos Gitai.

"One to one - John e Yoko", de Kevin McDonald, traz o universo musical e a política dos EUA dos anos em que o casal também estava no topo das notícias. Destaque também para "Separated", do premiado e também contundente Errol Morris, volta a Veneza com a reconstrução sobre a separação dos filhos dos imigrantes de seus pais imposta por Donald Trump há alguns anos.

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Clássicos de Veneza