Flavia Guerra

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'Ainda Estou Aqui' leva o prêmio de Melhor Roteiro do Festival de Veneza

"Ainda Estou aqui", de Walter Salles levou o prêmio de Melhor Roteiro do Festival de Veneza 2024. Murilo Hauser e Heitor Lorena receberam o prêmio pelo roteiro inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva.

A Splash, com exclusividade, os roteiristas definiram o momento como: "Inacreditável, a coisa mais maluca que eles nunca esperaram que ia acontecer".

A gente já estava muito feliz de ter passado aqui, o filme foi recebido muito lindamente. A sessão foi muito emocionante. Ver o filme aqui nessa sala com a Nanda, com o Walter, com todo mundo já foi uma emoção maior do que imaginável. E hoje ganhar esse prêmio foi realmente uma honra total. Esse prêmio é para o cinema brasileiro, para quem luta pelo cinema brasileiro, para todos os roteiristas. Esse é para a gente para o Brasil todo.

Fernanda Torres era umas das favoritas ao prêmio de melhor atriz, mas quem levou foi Nicole Kidman por "Babygirl". Murilo e Heitor dedicaram o prêmio à atriz, que má das mais elogiadas pela crítica que segue o festival.

A chegada dela fez a Eunice renascer. A gente viveu muitos anos com ela só na página, na nossa cabeça e no nosso coração. A Fernanda chegou e já na primeira leitura tomou nossos corações.

"Ela também é roteirista, escritora, atriz. Ela é uma colaboradora incrível durante todo o processo. Foi uma das maiores honras que a gente poderia ter, trabalhar com, além do Waltinho", comentou Murilo. "E a generosidade com que ela fez esse papel foi um aprendizado todos os dias. A Eunice não existiria sem a Nanda", completou Heitor.

O fato de se tratar de um roteiro baseado em um livro também ressalta a importância da obra que originou o filme. "Esse prêmio também é dividido com o Marcelo e com todos os Paivas, as irmãs todas que nos receberam e contaram todas as histórias, dividiram todos os segredos e histórias dessa família e nos deixaram contar essa história na tela", comentou Heitor.

Com a premiação, o Brasil deixa sua marca em Veneza 2024 e inicia a carreira do filme em direção ao Brasil de Oscar 2025. Ainda que o prêmio para Fernanda, altamente defendido pela crítica internacional que segue o festival ao longo da semana, não tenha vindo, "Ainda Estou Aqui" sai forte para a candidatura de Melhor Filme Internacional e deve fazer carreira de sucesso em outros festivais internacionais deste semestre, como o Festival de Toronto, que ocorre nesta semana.

Sobre a premiação, Isabelle Huppert, presidente do júri, declarou que o prêmio se deu porque se trata de um roteiro que vai na contramão do que se espera. "Achei que o filme é o retrato de uma mulher e, ainda que a gente saiba os eventos, o que está acontecendo, a história nunca nos leva onde a gente acha que vai levar. A gente espera que a história se desenrole do jeito que ela evolui. E quanto mais avança mais a gente se importa com os personagens", comentou.

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"E as sequências sobre a importância de sorrir nos falam muito sobre o que acontece. É uma forma forte de dizer muito sobre as condições que as pessoas têm de enfrentar", concluiu.

'Ainda Estou Aqui' leva o prêmio de Melhor Roteiro do Festival de Veneza
'Ainda Estou Aqui' leva o prêmio de Melhor Roteiro do Festival de Veneza Imagem: Flávia Guerra/Splash UOL

A história

"Ainda Estou Aqui" conta a história de Maria Lucrécia Eunice Facciolla Paiva. Eunice Paiva, mãe do escritor Marcelo Rubens Paiva e esposa do deputado e engenheiro Rubens Paiva, morto em 1971 pela ditadura militar. Rubens Paiva foi levado da casa da família no Leblon, no Rio, em janeiro de 1971, para onde nunca mais voltou.

O filme foi exibido em uma sessão de gala no Festival de Veneza no último domingo (1º), com muita emoção, e levou o público de Veneza às lágrimas. Marcelo Rubens Paiva, autor do livro que serviu de base para a obra, chorou muito. Após o fim da sessão, o filme foi aplaudido por 10 minutos e se tornou um dos favoritos desta edição.

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Fernanda Torres vive Eunice na meia-idade que encara a longa jornada que começa com uma vida de dona de casa de uma família não rica, mas com vida confortável, cuidando de seus cinco filhos e do marido engenheiro.

É Fernanda quem dá a veracidade suave e legítima à dor que Eunice contém diante dos filhos e do mundo quando é também presa por 12 dias junto da filha adolescente e interrogada sistematicamente. A filha voltou um dia depois, mas Eunice passou a vida tentando saber o que de fato havia acontecido com o marido.

Quando questionada como foi viver a mulher que simboliza tanto a luta não só pela justiça no caso do assassinato do marido, mas também dos direitos primordiais em uma democracia, pois se formou em direito e foi um nome pioneiro na defesa dos direitos indígenas, Fernanda Torres declarou:

O Brasil ia ser um grande país. Um país da Tropicália, da arquitetura de Oscar Niemeyer e todo o modernismo. E esta geração foi repentinamente calada por um golpe de estado. E ela teve de aprender e a se reinventar e é engraçado como ela passou de viúva do Rubens Paiva a mãe de Marcelo. E a gente nunca soube dela. Fernanda Torres

Confira outros premiados

  • Leão de Ouro - "The Room Next Door", de Pedro Almodóvar
  • Grande Prêmio do Júri - "Vermiglio", de Maura Delpero
  • Leão de Prata de Melhor Diretor - Brady Corbet, por "The Brutalist"
  • Copa Volpi de Melhor Ator - Vincent Lindon, por "The Quiet Son"
  • Copa Volpi de Melhor Atriz - Nicole Kidman, por "Babygirl"
  • Melhor Jovem Ator - Paul Kircher, por "And Their Children After Them"
  • Melhor Roteiro - Murilo Hauser e Heitor Lorega, por "Ainda Estou Aqui"
  • Prêmio Especial do Júri - "April", de Dea Kulumbegashvili

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