'Wolfs': Clooney e Pitt voltam em 'dois homens, alguns segredos e humor'
A diversão de ver dois grandes atores e/ou estrelas de Hollywood passarem quase duas horas literalmente trocando farpas, socos, correndo, e, nitidamente, se divertindo em uma trama que é quase um anti-bromance, quase um thriller, quase um suspense, quase uma comédia, quase um filme de ação.
Assim é "Wolfs" ("Lobos" no Brasil) , mais nova empreitada de Brad Pitt e George Clooney que fez estreia nos cinemas internacionais na semana passada, mas que no Brasil estreia nesta sexta-feira (27) diretamente na AppleTV Plus. Com um roteiro simples, mas divertido e repleto de reviravoltas, o filme, escrito e dirigido por Jon Watts (da mais recente trilogia de "Homem Aranha") é para ver sem teorizar, sem esperar por algo mais complexo. É nostalgia e diversão para o público adulto e isso basta. Pelo menos para os que são fãs da dupla e estavam com saudade da atmosfera de humor debochado da franquia "Onze Homens e Um Segredo" e que esperavam ansiosamente para vê-los juntos novamente nas telas, o que não ocorria há 16 anos, desde "Queime Depois de Ler" (2008), de Ethan Coen.
Desta vez, são dois homens, alguns segredos e muitas trapalhadas. Há um quê das comédias de erros, pense em Buster Keaton e suas intermináveis sequências de confusões. Há um quê de Tarantino e "Pulp Fiction" (não por acaso o "wolf", com o plural errado, em vez de "wolves") e há muito da Nova York dos anos 1970 e seus filmes com lentes de bordas borradas e um clima noir contemporâneo. E há também a nostalgia de homenagear outras grandes duplas que se amavam e se odiavam no cinema como Robert Redford e Paul Newman em "Butch Cassidy", por exemplo.
Mas vamos à trama. Clooney é um "lone wolf", um lobo solitário, um respeitado "fixer", palavra que não tem tradução direta para o português, mas que pode ser interpretada como um "conserta tudo" ou "solucionador". No audiovisual, por exemplo, "fixer" é o profissional que trabalha desde a preparação de uma viagem de uma equipe e da produção, além de resolver questões de logística e de fazer contato com fontes, entrevistados e até tradução. Já no filme de Pitt e Clooney, ser fixer significa ser um "cleaner" ou um agente meio secreto que arruma tudo, ou some com tudo, inclusive com o corpo de uma cena de um crime.
Aqui voltamos a Tarantino e o fixer Winston Wolfe, ou The Wolf, o personagem de Harvey Keitel em "Pulp Fiction", para quem se deve ligar se precisar que uma cena de crime seja limpa. Curiosamente, Michael Clayton, personagem de Clooney no premiado "Conduta de Risco" (2007), também é uma espécie de fixer ou cleaner, pois o advogado também "limpa e conserta" as sujeiras que os clientes da firma em que trabalha cometem.
De volta à trama, tudo começa quando Clooney é chamado por Margaret (Amy Ryan), procuradora pública proeminente de meia idade que precisa que uma cena seja limpa. Depois de bater papo com um cara bem mais jovem do que ela no bar de um luxuoso hotel de Nova York, ela foi para o quarto com o garoto, chamado assim de Kid (Austin Abrams). Só que um acidente acontece e ela entra em desespero. Ela liga, então, para o personagem de Clooney, que vai ser chamado apenas de "Margaret's Man", o cara da Margaret.
Ele chega, sem perguntar muito e vai começar o trabalho. Só que bate à porta do quarto outro fixer, Brad Pitt, contratado por Palm, a dona hotel que, por motivos óbvios, não quer escândalos envolvendo seu novo empreendimento.
"Não há ninguém que faça o que eu faço", diz o "wolf" Clooney. Mas não só há alguém como ele, que faz tudo igual a ele ou, quem sabe, até melhor. Pitt é tão estiloso, solitário, preciso e eficiente quanto Clooney. Quando eles, acostumados a trabalharem sozinhos muito por conta da discrição que o trabalho envolve, são obrigados a trabalharem juntos, a confusão começa. É a rivalidade e o bromance que nasce inevitavelmente do atrito entre os dois que está a força motriz de "Wolfs".
A cada ação, uma farpa, uma situação meio ridícula em meio ao charme de "smooth operators" deles (repare bem na canção de Sade que eles adoram ouvir no rádio do carro). No meio do caminho dessa estrada maluca, o Kid "ressuscita" e os dois agentes têm que realmente aprender a trabalhar juntos para entender o que ocorre e solucionar uma trama que vai ficando cada vez mais rocambolesca.
Como nenhum dos dois astros falam seu próprio nome na trama e como são praticamente o espelho um do outro e têm uma química que ganha força, apesar da rivalidade, a sensação é de que estamos vendo realmente Clooney e Pitt aprontarem as maiores trapalhadas e se divertirem muito em sequências em que têm de correr em plena Nova York gélida e nevada, "fazer todo um teatro" em uma grande festa de casamento para não serem descobertos pela máfia croata, perseguir um jovem de cuecas e meias. Enfim, para quem está disposto a embarcar na aventura milionária dos amigos e de Watts, "Wolfs" / "Lobos" é um refresco em um mar de filmes violentos demais. Não passa de bom entretenimento. E os atores e a equipe não têm nenhum problema em admitir isso.
"O John veio com esta ideia e me pareceu realmente divertida. A gente entendeu que precisava de um bom motivo pra voltar a fazer um filme juntos, depois de tudo que construímos. Mas eu tenho que dizer que, conforme eu vou ficando mais velho, trabalhar com quem eu realmente gosto, com quem gosto de passar o tempo, é algo realmente importante para mim", comentou Pitt sobre porquê fazer "Wolfs" / "Lobos", em conversa com a imprensa no Festival de Cinema de Veneza, onde o filme fez sua pré-estreia mundial.
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Quero receber"Quando John veio com esta ideia de a gente ser dois 'cleaners', que acham que são os melhores no que fazem, a gente gostou da ideia, ele escreveu o primeiro tratamento do roteiro e a gente disse: 'É ótimo! Isso nunca acontece, filmar o primeiro tratamento'. Em geral, são anos desenvolvendo a história. E aqui estamos!", completou o ator.
"Nós dois somos produtores também e sempre recebe propostas e nunca são para atuarmos, mas sim para produzir. E o primeiro tratamento chega e a gente sempre pensa: 'Meu Deus, como vamos filmar isso?'. E este roteiro chegou e já de primeira pensamos: 'É ótimo'! E fora que eu adoro 'A Viatura', de 2015. E Jon é um diretor muito interessante. Trabalhar com ele foi ótimo. Assim como foi trabalhar com Amy e Austin. Eu não queria muito trabalhar com Austin, mas com Amy sim", completou Clooney, com seu humor costumeiro.
Por que voltar a filmar juntos e o futuro do cinema e do streaming
É justamente esta dobradinha que os atores fizeram na conversa com a imprensa, regada a muitas piadas e bom humor, que se vê em "Wolfs". O filme não vai muito além de uma ótima ação entre amigos? Não. Mas, a priori, Jon, Clooney e Pitt estavam e estão bem conscientes disso.
Por outro lado, o longa, que teria um lançamento global nos cinemas, teve sua estreia em salas, como já observado, limitado aos Estados Unidos, em parceria com a Sony, e nos outros territórios fica na tela do streaming. Quando questionados sobre o que acham justamente do futuro do cinema, Clooney foi realista, mas otimista como sempre.
"Quando eu era um jovem ator, havia 64 séries de TV. Na segunda de manhã, você abria o ranking do jornal para ver se a série em que você estava era uma das 20 melhores da semana e se ainda ia continuar tendo um emprego. Hoje tem 700 séries ou um número maluco tipo este hoje. Tem muito trabalho para atores. É sobre como a gente os encontra e como encontra as pessoas", respondeu Clooney.
"Precisamos do streaming. Nossa indústria precisa disso. É parte do que fazemos. Mas eles também se beneficiam quando os filmes são lançados no cinema. É por isso que eu e o Brad trabalhamos duro para ter este filme nos cinemas. A gente ainda está entendendo, não entendemos tudo. Essa é uma revolução na nossa indústria", observou o ator e produtor.
"Mas precisamos da Apple e da Amazon, e eles realmente precisam dos distribuidores. Eles precisam da Sony e da Warner Brothers que estão fazendo isso há 100 anos. Então, estamos entendendo isso ainda. Mas o que eu realmente acho é que eu vejo muito mais trabalho para os atores. A gente precisa ter uma curadoria diferente. Vamos entender, não chegamos lá ainda. A gente vai sentir isso por um tempo. A covid realmente complicou as coisas, mas estamos chegando lá. Tem muito trabalho a ser feito", concluiu.
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