Flavia Guerra

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Reportagem

'Baby' e 'Malu' vencem festival de olho nas famílias contemporâneas

Com prêmio duplo, "Baby", de Marcelo Caetano, e "Malu", de Pedro Freire, foram os grandes vencedores da Première Brasil do Festival do Rio 2024 e levaram o Troféu Redentor 2024. Em um ano em que a seleção dos brasileiros trouxe uma safra de filmes que trazem olhares e realidades diversas de um Brasil contemporâneo complexo em que a família, as biológicas e as famílias escolhidas, que formamos ao longo da vida, estão no centro de questões que passam pelas dificuldades sociais, de gênero, de preconceito, mas também de afeto, amor e delicadeza.

"Baby", de Marcelo Caetano, fez sua estreia mundial na Semana da Crítica do Festival de Cannes, em maio, quando levou o prêmio de Ator Revelação para Ricardo Teodoro. Desta vez, foi o protagonista João Pedro Mariano quem foi premiado com o troféu Redentor de Melhor Ator. Na trama, ele vive Wellington, o Baby, que acaba de sair de um centro de detenção juvenil, está sozinho e perdido nas ruas de São Paulo, sem nenhum contato com os pais ou recursos para reconstruir a vida.

Entre andanças, ele conhece Ronaldo (Ricardo Teodoro), um homem mais velho, com quem se envolve e que ensina a ele novas formas de sobreviver na grande cidade.

"Baby" fala das famílias que formamos ao longo da vida, principalmente em cidades como São Paulo, que muitas vezes distanciam as pessoas, principalmente as que não se encaixam nos padrões. "Dedico esse prêmio a todos os Babys, aos jovens privados de suas escolas, de suas famílias, de sua infância, de seus amores. Jovens que têm que romper seus laços biológicos para buscar a felicidade, fugir e ir para longe, fugir para o final, descobrir que a felicidade é luta diária e que não se luta sozinho", agradeceu o diretor Marcelo Caetano, que não estava presente, em declaração lida pelo produtor do filme, Ivan Melo.

Ilda Santiago, diretora-executiva do Festival do Rio, declarou na cerimônia de entrega dos prêmios, realizada na noite de domingo: "A gente sabe que os Redentores vão ser para alguns e não para todos, mas para nós, o importante é ter aberto esse momento de convívio. A gente sempre pensa que cinema é a maior diversão, e cinema é a maior conversão, é isso que a gente quer fazer. Converter todos para o cinema, fazer com que eles estejam cheios o ano inteiro, e que a gente esteja aqui no ano que vem com mais filmes e com vocês", declarou, agradecendo os patrocinadores do festival e os diretores que inscreveram seus filmes.

Já "Malu", de Pedro Freire, foi o único longa brasileiro em competição no Festival de Sundance em janeiro, e traz Yara de Novaes vivendo uma mulher de meia idade enfrentando várias crises.

Ela é uma atriz apaixonada pelo teatro, que vive das memórias de seu passado glorioso nos palcos e do sonho de acabar de construir sua casa na região periférica do Rio, que também vai ser um centro cultural e um teatro. Ela mora com a mãe Lili, uma senhora conservadora interpretada pela grande Juliana Carneiro da Cunha, com quem tem vários problemas. Um dia, sua filha Joana (Carol Duarte), também atriz, volta do exterior e a retomada do relacionamento também vai trazer atritos e emoções.

"Queria dedicar esse prêmio a todas as atrizes de teatro do Brasil", declarou Pedro Freire ao receber o troféu por "Malu". Não à toa, Yara de Novaes levou o Redentor de Melhor Atriz e Carol Duarte e Juliana Carneiro da Cunha dividiram o Redentor de Melhor Atriz Coadjuvante.

"Esse prêmio é de uma alegria. É para a Malu Rocha, pela Malu Rocha, por causa da Malu Rocha. Para mim, é uma honra muito grande que o Pedro Freire tenha confiado essa personagem a mim. Eu gostaria muito que as pessoas pudessem ir ao Google para procurar as fotos da Malu Rocha e verem as fotos maravilhosas dela em cena porque ela era uma grande atriz. E eu acho que o mais bacana do filme é exatamente entender quando uma atriz fica sem gravar o que é que acontece. Então, viva Malu Rocha e ela está agora espiritualmente comigo recebendo esse prêmio", declarou Yara.

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"Malu" é inspirado na vida da atriz Malu Rocha, que é mãe do diretor Pedro Freire, mas não é uma biografia. Pedro, que com o filme estreia na direção de longas, trouxe muito de sua vivência e da irmã Isadora com a mãe para as dinâmicas de Joana e Malu. É no encontro entre as memórias e o roteiro construído que Malu fala das relações, dos conflitos de geração e das expectativas e do amor em família.

"Manas", de Marianna Brennand, premiado na seção Giornate degli Autori do Festival de Veneza 2024, foi um dos filmes também mais festejados deste Festival do Rio e deu a Jamily Correa o Prêmio Especial do Júri.

No longa, rodado no Pará, ela é uma menina que vive com a família em uma casa simples na beira do rio no Amapá. Quando chega à puberdade, começa a despertar os olhares de cobiça do próprio pai (vivido por Rômulo Braga). Com delicadeza e força, "Manas", que é a estreia na ficção de Marianna, é um filme forte, seguro e que emociona sem nunca explorar a realidade das tantas meninas que sofrem violência intrafamiliar.

Destaque também para Luciano Vidigal, que por " Kasa Branca" levou o Redentor de Melhor Direção. Esta foi a primeira vez que um realizador negro recebeu este prêmio. "O Nós do Morro está completando 38 anos de resistência. Quando eu estou aqui eu não estou sozinho. Quando um homem preto sobe aqui, ele não está sozinho. É importante ressaltar que eu sou o único diretor preto da Première, de ficção e não ficção, mas eu estou com meus ancestrais, porque quando a gente escolhe a narrativa preta é com cuidado, com respeito, com carinho, com poesia. É buscar isso que aí a glória vem. É isso que está acontecendo", agradeceu Vidigal.

"Então, eu agradeço muito o festival, ao júri, pela sensibilidade por ter entendido esta busca pela poesia. Eu gosto de falar do povo porque o povo brasileiro é muito rico. E aí eu lembro de uma frase muito legal, que é um africano, que diz assim: 'O amor sempre encontra o caminho para casa.' Então é sobre isso, é falar da pele preta com amor, com sutileza, com afeto, porque a gente é isso. E aí quebra os estereótipos, tá. Viva o povo brasileiro, viva o cinema brasileiro. E a gente está aí para isso: Quebrar estereótipos!", completou o diretor.

Kasa Branca conta a história de Dé, um adolescente negro da periferia da Chatuba, no Rio de Janeiro, que recebe a notícia de que sua avó, Almerinda, está na fase terminal da doença de Alzheimer. Ele conta com a ajuda de seus dois melhores amigos, Adrianim e Martins, para enfrentar o mundo e aproveitar os últimos dias de vida com ela.

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