Leone sobre 'Senna': 'Lado familiar será uma das coisas mais emocionantes'
"Pure racing, pure driving." Com esta frase de Ayrton Senna, o ator Gabriel Leone define bem uma das forças motrizes que sempre impulsionaram o piloto e que o impulsionaram também para vivê-lo em "Senna", aguardada série ficcional sobre sua vida que estreia em 29 de novembro na Netflix.
A frase ficou famosa quando Senna falou do início de sua carreira internacional e sobre um piloto com quem adorava correr, no final dos anos 1970 e início dos 1980, quando começou a disputar o campeonato de kart, ao lado do britânico Terry Fullerton (campeão mundial de kart), que, assim como Senna, focava no esporte, na corrida e não na política, no dinheiro e nos jogos de bastidores. "Pilotagem pura, puro automobilismo", disse ele para falar do companheiro de equipe.
É este "drive", esta paixão pelas pistas, pelo esporte, pela família e, claro, pelo Brasil, que Leone também teve como força motriz para criar o seu Senna. "Ele tinha um prazer em correr. Ele tinha um prazer em competir, em obter vitória. Então, acho que isso está presente desde o início, desde sempre. E ele manteve isso até o fim. Esse nível dele, de competitividade, de determinação, de foco. São os pontos principais, eu diria, da essência do Ayrton Senna", comentou o ator em entrevista ao Splash UOL e outros poucos veículos que tiveram a oportunidade de visitar o set da série no autódromo de Buenos Aires Oscar y Juan Gálvez, em final de julho/início de agosto de 2023.
Composta de seis episódios, "Senna" traz a história de Ayrton, entre vida pessoal e carreira, do início da carreira automobilística do tricampeão de F1, do kart à sua mudança para a Inglaterra para competir na Fórmula Ford, e segue até o trágico acidente em Ímola, na Itália, durante o Grande Prêmio de San Marino, em 1994.
"Até hoje não se fala de F1 sem se falar do Ayrton e não só o corredor, o piloto, mas, enfim, tudo que ele representava fora da pista. Depois de todo o trabalho que foi feito com o Instituto (Ayrton Senna)... Então, para mim é uma responsabilidade muito grande como brasileiro interpretá-lo, mas, ao mesmo tempo, é uma alegria, uma honra", declarou Leone.
Em Buenos Aires, foram rodadas muitas sequências de pista, pois a conservação do autódromo, que não sofreu tantas interferências e modernização ao longo do tempo, como Interlagos e outros pelo mundo, facilitou que a fase da pós-produção fosse otimizada. Afinal, essa é uma série de época e tudo tem de ser fiel ao período. Mais especificamente, no dia da visita da imprensa, cenas dos GPs do Brasil, em Interlagos (1991); Canadá, no Autódromo Villeneuve (1990); Inglaterra, em Silverstone (1990); e Bélgica, Spa Francorchamps (1990), eram rodadas e réplicas perfeitas circulavam pela pista, assim como uma réplica da lendária Lotus 98T de Senna, que ele pilotou na temporada de 1986, a última Lótus preta e com a qual ele fez história ao conquistar sete pole positions e duas vitórias memoráveis.
Entre uma filmagem e outra, Leone, além do francês Matt Mella (que vive Alain Prost, companheiro na McLaren e seu grande rival), os produtores da série (Caio e Fabiano Gullane) e a equipe de maquiagem, figurino, réplicas e efeitos especiais, sem esquecer dos diretores Vicente Amorim (também showrunner) e Júlia Rezende, conversaram com jornalistas sobre os desafios e expectativas para a série, com certeza a maior já produzida para streaming pelo Brasil e com apelo internacional já garantido.
Do início do processo até essa estreia tão aguardada, foram vários anos, mais de uma década de um projeto tocado pela Gullane Filmes, acompanhado de perto pela família Senna e preparado com muito cuidado por uma equipe que inclui os diretores Vicente Amorim e Júlia Rezende, uma equipe técnica de nomes tarimbados e um elenco que vai estar na berlinda quando o grande público finalmente conferir "Senna".
Por público, entenda-se o internacional, afinal, é mais do que sabido que o piloto brasileiro era e é amado por plateias do Japão à Itália, passando pela Inglaterra e França. Haja vista a homenagem que Lewis Hamilton prestou a Senna no último GP do Brasil em 2 de novembro, pilotando a McLaren MP4/5B, com a qual Senna conquistou o bicampeonato da F1 em 1990.
Gabriel Leone também pilotou a McLaren e outros carros de Senna ou, pelo menos, réplicas fiéis aos carros oficiais, criados pela célebre família Crespi. Tulio Crespi, veterano do automobilismo argentino, e seus filhos Luciano (que também é o dublê de Senna nas pistas) e Sandro foram os responsáveis por reconstruir 25 modelos, o que consumiu quase dois anos de trabalho meticuloso.
Gabriel, que disse adorar dirigir, mas para quem "carro é só para passear", teve a seu favor o fato de já ter aprendido a conduzir um monoposto durante sua preparação para o longa "Ferrari", de Michael Mann, lançado em 2023, em que vive o piloto espanhol Alfonso de Portago. "Foi uma coincidência ter mergulhado quase que em seguida nesse mundo do automobilismo. Até porque "Ferrari" fala de F1, claro, mas nos anos 50", ponderou ele.
"Há um distanciamento temporal enorme. Os personagens não têm nada a ver um com o outro, mas quando eu estava lá filmando, já sabia que eu faria o Senna e foi uma preparação interessante nesse sentido porque lá a gente já teve um período de preparação no autódromo, dirigindo os carros que a gente dirigiria em cena. Claro que a gente tinha dublê, mas tem pedaços de cena que eu estou dirigindo os carros mesmo", contou o ator.
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Quero receberNascido em julho de 1993, Leone era bebê quando Senna faleceu em 1º de maio de 1994, mas, por conta da paixão de sua família e dos brasileiros, sempre se sentiu muito próximo do piloto. "Mesmo não tendo acompanhado sua carreira, tenho dentro de mim a idolatria. Tenho total a noção, a dimensão do que o Ayrton representa para o povo brasileiro. E ano passado, com a experiência filmando fora, na Itália ("Ferrari). E foi muito interessante ver como é muito maior do que o Brasil. Ele é idolatrado na Itália e a gente sabe que ele é idolatrado no Japão, na França, no mundo inteiro", declarou.
Muito por isso, sua relação com Senna começou há tempos em conversas com a Gullane, mas sua escolha só foi definitiva após uma aprovação internacional. "Uma grande amiga minha, que é produtora de elenco, diz que os personagens escolhem os atores. Então, acho que era pra ser realmente para eu interpretar o Senna", contou. "Eu fiz um teste porque, enfim, é uma série gigantesca da Netflix e que é produzida no Brasil, uma série brasileira, mas enfim, que certamente fala com toda a Netflix."
Gabriel conta que, além da aprovação internacional, houve a da família Senna "pela relação que eles têm com a série e pelo cuidado que eles têm com a imagem do Ayrton, que sempre tiveram." "Houve esse teste no ano passado e acho que foi uma das notícias mais felizes da minha vida de ter sido aprovado para fazer esse personagem, esse ídolo brasileiro."
Fase de aprovação superada, Leone passou por um mergulho profundo na vida, no universo Senna. No entanto, além dos carros, do capacete e do macacão, dos fatos públicos, a vida privada e, principalmente a psique do piloto, eram cruciais para que ele desse forma ao personagem.
Para Leone, é exatamente a faceta pessoal de Senna, ou do Ayrton, um dos pontos novos e fortes da série. "Vai ser muito importante a gente trazer o Ayrton. Ele permanece claro sempre com a gente, mas de trazer essa história dele e trazer momentos e se aprofundar na história dele, em lugares onde as pessoas não o conhecem. As pessoas conhecem muito Ayrton das pistas, o tom das entrevistas, mas todo o lado familiar dele, toda a construção do que ele veio a ser, isso acho que vai ser uma das coisas mais emocionantes tanto para o povo brasileiro, mas também de maneira geral, para quem assiste a série", aposta o ator.
Para ele, foi justamente se abrir e se emprestar para ser o Ayrton Senna um dos grandes desafios, que marca qualquer seu. "É um privilégio poder trabalhar como ator, mas ao mesmo tempo, não é. Não tem só a parte glamourosa. Tem muita ralação, tem muito suor. Tem um processo de você se abrir para dar vida a outra pessoa, para sentir os sentimentos daquela pessoa. É desafiador ao mesmo tempo que é prazeroso, que é maravilhoso, mas é desafiador e, por isso, é importante você cuidar. É importante estar próximo de pessoas que cuidem de você", concluiu.
O resultado poderá ser conferido em breve e, enquanto isso, Leone observa o que para ele foi o maior legado de Senna, sem proselitismo, mas com real honestidade:
"Fica muito claro como, como ele era determinado, como era focado nos objetivos dele, como ele se dedicava a isso, como ele se entregava. Isso, além da força física dele, passando de seus limites, inclusive. Disso vêm todos os feitos, todos os momentos antológicos da carreira dele. Tem uma mensagem muito bonita sobre acreditar nos seus sonhos e de se dedicar de ir atrás deles", declara Leone, que com Senna também aprendeu muito sobre autocontrole.
Foram estes aprendizados que o ator incorporou e pelos quais se deixou tomar para realmente "pensar como Senna". "Às vezes eu estou em cena ou um pouco antes de entrar em cena e me dá um estalo, me vem uma lembrança de uma conversa, de uma história que me dá algo que me encaminha para o sentimento do que eu preciso naquela cena", revela.
O ator cita como exemplo disso um momento já antológico em que o Senna "sai muito injuriado, com raiva de um briefing dos pilotos por conta da maneira que estão tratando e lidando com com ele, por conta da diferença de tratamento.
"Existe essa imagem, inclusive. Só que não existe a imagem da cena seguinte, que a gente faz, que é ele chegando no motorhome dele, ainda sob aquela energia, ainda com aquela raiva."
Neste momento, Leone se lembrou da conversa que teve com Viviane Senna. "Foi quando ela me falou sobre como, ao longo da carreira dele, ele foi trabalhando o autocontrole e, através disso, de várias atividades, tem um momento de virada na vida do Ayrton em que ele entende a importância de cuidar do corpo dele, de cuidar da mente dele."
Lembrar, pouco antes de rodar a cena, da conversa e de como Senna aprimorou temperamento ao longo do tempo ajudou muito Leone. "Eu precisava dessa curva naquela cena. É claro que a gente está buscando se aproximar o máximo possível do Ayrton, mas ao mesmo tempo a gente está fazendo uma série, né? Então existe a dramaturgia, existe a construção das cenas também, do que do que a nossa história ali precisa, da conta totalmente calcada, totalmente baseada na história dele. E acho que da mesma forma, para mim, enquanto ator, foi esse o processo de construção, de estudar ele, de me aproximar dele."
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