De Senna a Vini Jr.: Netflix anuncia novidades com foco em histórias locais
"Quando se tenta fazer algo para agradar a todos, acaba-se criando algo que não agrada ninguém." Com essa frase, Bela Bajaria, vice-presidente global de conteúdo da Netflix, definiu bem o atual objetivo da plataforma: agradar primeiro o espectador local dos principais países em que o streaming está presente para, então, alcançar o mundo.
"As pessoas gostam da autenticidade das histórias locais", disse Bela durante o primeiro Netflix International Showcase, realizado em Los Angeles. O evento reuniu jornalistas de todo o mundo para apresentar as próximas apostas da Netflix, com foco especial nas produções em língua não inglesa.
O sucesso global de séries como a sul-coreana "Round 6" —cuja nova temporada estreia em 26 de dezembro—, as brasileiras "Sintonia" e "DNA do Crime", e a espanhola "La Casa de Papel" exemplifica essa estratégia. "Autenticidade é universal", pontuou Bela, destacando como narrativas locais podem transcender fronteiras culturais.
Produções brasileiras em destaque
Entre as novidades brasileiras, a série "Senna" é uma das grandes apostas. Estreando em 29 de novembro, a produção mergulha na vida pessoal e na carreira do lendário piloto Ayrton Senna. "A série dosa muito bem a história pessoal e as cenas de corrida.
Esse é um grande ponto da produção", disse Elisabetta Zenatti, vice-presidente de conteúdo da Netflix Brasil. O showrunner Vicente Amorim e Júlia Rezende assinam a direção da série, que foi exibida para jornalistas durante o evento.
Outras produções brasileiras mencionadas incluem a quinta temporada de "Sintonia" e o documentário "Vini Junior", que está em fase de montagem. Dirigido por Andrucha Waddington e Emílio Domingos, o filme acompanha um ano da vida de um dos principais jogadores de futebol, revisitando sua trajetória desde a saída do Flamengo, aos 16 anos, até o estrelato no Real Madrid, em uma negociação recorde para um jogador menor de 18 anos.
O documentário também aborda os episódios de racismo enfrentados por Vini Jr. e sua luta antirracista. Todas essas facetas do jogador serão abordadas no documentário, que promete ter alcance mundial.
Além disso, a Netflix Brasil trabalha em outros projetos, como a segunda temporada de "DNA do Crime", "Caramelo", "Vicentina Pede Desculpas", "O Filho de Mil Homens", com Rodrigo Santoro e baseado na obra de Valter Hugo Mãe. Também terá a nova comédia de Leandro Hassum. Em fase de desenvolvimento está "Diário de um Mago", baseado na obra de Paulo Coelho.
O Brasil é um dos territórios mais importantes de consumo de produções internacionais em língua não inglesa. A cada gráfico, o Brasil se destaca em produções francesas, espanholas, coreanas e afins. Isso torna o país estratégico nas duas frentes: produções locais e lançamentos globais.
Uma estratégia global bem definida
A Netflix investe pesado na dublagem e legendagem, com cerca de 70% do conteúdo assistido mundialmente disponível nesses formatos. "Isso não é ótimo apenas para o público -- é ótimo para os criadores. As histórias podem ter um impacto ainda maior no mundo", pontuou Bela.
Em conversa com Splash, Elisabetta Zenatti ressaltou o ótimo trabalho dos dubladores brasileiros, que contribuem para o sucesso das produções internacionais no país. "O trabalho que a equipe de dublagem brasileira faz, em tantas diferentes frentes, é incrível. A dublagem de 'Senna' está surpreendente."
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Quero receberJá nas produções internacionais, séries aguardadas como a japonesa "Até O Último Samurai", a segunda temporada da alemã " A Imperatriz" e a espanhola " El Refugio Atómico. Criada por Álex Pina, que também criou o fenômeno "A Casa de Papel", " El Refugio Atómico" imagina um mundo em que a Terceira Guerra Mundial está prestes a acontecer e um grupo de bilionários se refugia em um bunker subterrâneo que simula uma vida quase normal, o Kimera Underground Park, em que tensões antigas vão vir à tona em conflitos que talvez sejam tão catastróficos quanto a guerra em si.
Entre as mais aguardadas, está o anime "Sakamoto Days", a colombiana "Cem Anos de Solidão", baseada na obra-prima de Gabriel Garcia Marquez que estreia em 11 de dezembro, a já citada "O Leopardo", baseada na obra de Giuseppe di Lampedusa, também foram anunciadas.
No caso das três últimas acima, como ponto em comum, seja em qual território for, a confiança de quem detém os direitos das obras de que a capacidade de produção e a qualidade das adaptações serão garantidas com um nome como a Netflix à frente dos projetos. No caso de "Senna", Elisabetta pontuou que a série é uma realização da produtora Gullane Filmes e que a Netflix veio junto, sempre ao lado em um trabalho em parceria.
A estratégia de entender que os públicos querem ver suas histórias contadas na tela com o DNA de suas culturas é certeira, uma vez que nomes fortes do audiovisual de cada país têm tradição de levar para as telas narrativas que revelam os temas que movem cada público. "As séries mais amadas na Inglaterra são inglesas, como "Eastenders", exemplificou Bela.
Neste sentido, a aposta em novelas, que o streaming chama de "série de melodrama", foi um acerto. "Pedaço de Mim" foi sucesso não só no Brasil mas também internacionalmente ao trazer 17 episódios, em uma trama muito mais condensada que as novelas tradicionais, seduziu um público que admira a tradição brasileira no formato.
"No caso de 'Pedaço de Mim', com certeza o que mais chamou atenção é que é um produto que as pessoas não conseguiam parar de assistir, que para a gente é o melhor elogio que existe. Acho que a premissa também é muito forte, que é tão rara no mundo, com 25 casos apenas em todo o mundo", observou Elisabetta. "Mas a premissa não é suficiente, o que realmente funcionou foram as reviravoltas, os ganchos, a trama em si", completou a executiva.
É também esse potencial de trazer uma história local, mas com diálogo global que move as novas produções. "Senna" obviamente é assunto primordial para o público brasileiro, mas certamente tem ressonância global, tanto que foi uma das produções mais aplaudidas no showcase. "Vini Jr.', prevista para estrear em 2025, certamente será de interesse para fãs de futebol e do jogar em todo o mundo. "O Leopardo", obra incontornável tanto para italianos quanto para cinéfilos em todo o mundo, tornou-se um clássico dirigido pelo mestre Luchino Visconti em 1963, mas, como observou Tinny Andreatta, vice-presidente de conteúdo para a Itália. "Esse foi o primeiro projeto que eu realmente quis produzir por causa de sua amplitude e ambição. 'O Leopardo' captura um momento icônico da história italiana", declarou. "É uma obra que os italianos leem na escola e que Luchino Visconti levou para o cinema, mas há muitas outras camadas e assuntos para serem abordados e que, em uma série, ganham o espaço que merecem", completou.
Se as séries de mercados como França, Índia, Espanha, Coreia, Itália, Colômbia, México, Brasil, ganharam maior destaque, os filmes também não deixam de ser produzidos. Além dos já citados brasileiros e de "Vini Junior', "Emilia Perez", candidato da França ao Oscar de Melhor Filme Internacional 2025 é um exemplo. Além dele, ganham destaque o japonês " Bullet Train Explosion", o mexicano " Los Dos Hemiferios de Lucca" e os coreanos "Mantis" e "Revelations", de Yeon Sang-ho, com produçao executiva do mexicano Alfonso Cuarón (que com "Roma" deu várias indicações ao Oscar para a Netflix em 2019, levando os Oscars de Melhor Filme Internacional, Direção e Fotografia).
"Revelações" aposta no drama e no policial para construir uma trama que une um pastor e uma detetive. O pastor acredita que é seu chamado divino punir o responsável pelo desaparecimento de uma pessoa, enquanto a detetive designada para o caso continua assombrada por visões de sua irmã falecida.
A Coreia, aliás, chega com o novo "Round 6" e com diversas novas séries, como "Se a Vida te der Tangerinas?", "A Batalha dos Cem: Ásia", além da comédia romântica "All the Love You Wish For", uma versão de " gênio da lâmpada" com o astro Kim Woo-bin.
Paraíso dos doramas, o país se tornou um fenômeno do audiovisual que ganha, inclusive, o público brasileiro a cada produção desde "Parasita", mas que já tinha fnas mais cinéfilo desde "Old Boy", que Park Chan-Wook dirigiu em 2003, e de " Invasão Zumbi', que Yeon Sang-ho realizou em 2016 e se tornou um fenômeno. Não por acaso, hoje, como Minyoung Kim, vice-presidente de conteúdo na Ásia e Pacífico, "mais de 80% dos assinantes da Netflix ao redor do mundo assistem a conteúdo coreano" e este número tende a aumentar.
Prova disso é o time de executivos que integraram o showcase, que também contou com Paco Ramos, vice-presidente de conteúdo na América Latina, Monika Shergill, vice-presidente de conteúdo na Índia e Larry Tanz, vice-presidente de conteúdo na Europa, Oriente Médio e África. Todos destacaram que a Netflix tem o compromisso de produzir séries e filmes em idiomas locais, além de estabelecer parcerias sólidas com mais de 1.000 produtores de mais de 50 países fora dos Estados Unidos.
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