Réplicas e adrenalina: Os segredos por trás das corridas de Senna na série
Recriar as provas mais emblemáticas da carreira de Ayrton Senna exigiu uma combinação impressionante de talento e recursos. Mais de 20 carros, incluindo modelos de Fórmula Ford, Fórmula 2 e Fórmula 1, foram usados para reproduzir com precisão histórica as provas mais emblemáticas que Senna disputou em sua genial carreira.
As réplicas, perfeitas em cada detalhe, protagonizam cenas de corrida tão eletrizantes que chegam a confundir o público, levando-o a se perguntar se Gabriel Leone, que interpreta o piloto brasileiro, não estaria realmente ao volante. Entre os carros reconstruídos está a icônica Toleman usada por Senna no GP de Mônaco de 1984, quando, debaixo de uma chuva torrencial, quase superou Alain Prost antes de a prova ser suspensa.
Nos bastidores, o trabalho de recriação ficou a cargo dos Crespi, uma lendária família argentina de pilotos e construtores de automóveis. Liderado por Tulio Crespi, o clã acumula mais de 60 anos de experiência restaurando veículos históricos, com um portfólio que inclui carros que disputaram mais de 230 mil corridas e foram expostos em eventos renomados como o Salão de Paris, entre outros importantes do circuito internacional.
Durante as filmagens no autódromo de Buenos Aires, em 2023, Tulio e Luciano Crespi —que também foi o dublê de Senna na série— se uniram ao brasileiro Rodrigo Monte, diretor de performance de Senna, para conversar com Flavia Guerra, colunista de Splash, e com jornalistas de vários países.
Tão importante quanto fabricar veículos idênticos aos que Senna, Prost e outros pilotos guiaram nos anos 1980 e 1990, era preciso que os carros realmente funcionassem nas pistas e pudessem receber as estruturas para abrigar as câmeras acopladas, entre outras particularidades. Estudar o estilo de pilotagem de Senna era um ponto crucial. Afinal, Luciano teria de reproduzir duelos que entraram para a história, como o de Senna e Prost, no GP do Japão de 1989.
Nós, como fábrica de automóveis Crespi, contamos com algumas instalações criadas por Tulio há muitos anos, quando ele começou seus trabalhos com monopostos. Temos muita experiência, especialmente a de Tulio. E nossa equipe é formada por irmãos. Sou diretor geral, Sandro é o chefe de design. Matías é o chefe de produção. Luciano Crespi
Luciano Crespi explica que eles foram montando uma nova equipe para poder abordar este projeto, pois, "obviamente, era muito complexo". "Contamos com muita colaboração em tecnologia da empresa Racer, que nos deu muito do que são os elementos 3D para recriar u todos os modelos que tiveram que ser recriados, este era o maior desafio."
Depois o projeto foi se tornando mais complexo e os F1 foram entrando e o desafio aumentando. "Foi tudo passo a passo. Começamos com os modelos mais simples, os Fórmula Ford. Depois passamos para a Fórmula Ford 2000, que eram similares, depois a Fórmula 3. Depois veio a construção dos Fórmula 1, em que lá já havia o trabalho de 3D, de fotografias, de vídeos. Todo o estudo foi tentar unir e detectar quais são as diferenças entre cada modelo porque eram tantos que precisávamos abranger tudo ao mesmo tempo", completa o piloto e construtor.
Além de réplicas perfeitas, os carros funcionam bem e tinham um nível de segurança crucial para as filmagens, em que andariam em torno de 80 km/h. "Com todas as conversas com o pessoal da Gullane e todos os profissionais, fomos entendendo que precisávamos de uma velocidade moderada. Isso nos permitiu avançar com algumas ideias muito simples que, por sua vez, jogam a favor para o que é o ritmo de uma filmagem, muito diferente das competições", diz Luciano.
Por diferente, entenda-se fazer cerca de 40 largadas por dia de filmagem, e estar na pista por muito mais que as duas horas de uma prova ou de treinos e dias de classificação. "Fizemos um Guinness record de largada. Incrível! Isso foi graças à simplicidade que encontramos no design, que é um pouco o DNA de Tulio neste tipo de trabalho", completa o piloto.
Se com as réplicas o trabalho foi sendo ajustado, para as tomadas que captam justamente os carros era necessário ter o chamado "camera car", em que uma câmera acoplada acompanha os veículos. O veículo permitiu seguir de perto e registrar a minúcias de cada manobras e ultrapassagens nas pistas.
"Os F1 que fabricamos são dinâmicos. Ou seja, eles mudam. Hoje uma McLaren era do campeonato de 1988. E amanhã pode ser de 1989. Já da Fórmula Ford são quatro carros, da Fórmula 3 são dois carros e o restante os F1", explica Luciano. "O que muda um pouco nos F1 são suas carrocerias e designs, que vão se adaptando", completa ele, que não soube especificar o valor de cada veículo, uma vez que o projeto teve um orçamento geral e não houve um cálculo para cada carro.
Fato é que o valor é realmente imensurável e as réplicas produzidas pelos Crespi estão com a Netflix e sendo expostas em eventos da série. Na terça (26) passada, na première para convidados de "Senna", que contou com a presença da família, do elenco, além dos diretores Vicente Amorim e Júlia Rezende e dos produtores Caio Gullane e Fabiano Gullane, uma réplica da McLaren era exibida em frente ao Auditório do Ibirapuera, onde o evento foi realizado, e outra no saguão, casando perfeitamente com as curvas da rampa vermelha de acesso à sala do projeto de Oscar Niemeyer.
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Quero receberJá as curvas de Senna também foram estudadas pelos Crespi, que conversaram com pilotos que disputaram provas com o brasileiro. "Tivemos a visita de Victor Rosso (piloto argentino) que foi um rival muito importante para ele. E estávamos testando em Balcarce carro de Ayrton Senna e o dele. Ouvimos a história dele sobre quem era Senna. E ele sabia que podia se classificar à frente de Senna, mas ganhar não. Não podia vencê-lo. Isso já estava em sua mente", diz Tulio.
Balcarce, na verdade, San José de Balcarce, também é a terra natal de Juan Manuel Fangio e abriga o museu dedicado ao pioneiro piloto argentino e também um autódromo que leva seu nome, onde os Crespi testam seus veículos e também testaram e pilotaram os carros de "Senna".
O estudo minucioso do estilo do piloto, dos automóveis misturado à paixão pelo automobilismo resultou de fato em uma frota impecável, que agora pode ser encomendada pelos apaixonados por F1 e por Senna. Os Crespi inauguraram há pouco a Crespi Concept F1 Cars, novo departamento da fábrica dedicada à construção de réplicas de Fórmulas 1. Quem quiser levar para casa uma das McLarens, Ferraris ou até a Lotus da série, é só ter orçamento para tanto.
Já para viver a emoção, basta acessar a Netflix e conferir a sincronia perfeita entre o trabalho dos Crespi e de Monte, o de Marcelo Siqueira, supervisor de efeitos visuais e diretor de segunda unidade, e o de Javier Lambert, coordenador de ação. Isso tudo, claro, sem contar o de Julia Rezende e do showrunner e diretor Vicente Amorim, além o das figurinistas Cris Kangussu e Luíza Fardin, pois os detalhes dos macacões e capacetes foram também cruciais para a veracidade das cenas de competição.
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