Trauma, violência: 'As Polacas' expõe exploração sexual de judias no Brasil
Após a Primeira Guerra Mundial, centenas de imigrantes, muitos do Leste Europeu, aportaram no Brasil em busca de uma vida melhor. Desses, centenas de mulheres judias eram enganadas e, em vez de condições dignas de vida, elas encontravam redes de exploração que as obrigavam a se prostituírem. Em troca, recebiam o mínimo para sobreviver, o julgamento de sua própria comunidade e o estigma de "polacas", em referência ao país de onde muitas vinham.
É a história de uma delas, Rebeca, que é contada em "As Polacas", dirigido por João Jardim e com produção de Iafa Britz, da Migdal Filmes. Fugindo da perseguição aos judeus, dos horrores da guerra e da fome na Europa, a polonesa, vivida por Valentina Herszage, chega ao Rio de Janeiro com o filho pequeno pronta para reencontrar o marido, que viajou antes para preparar o terreno.
Aqui, descobre que ele morreu e cai na lábia do ardiloso Tzvi (Caco Ciocler), que praticamente rouba a criança dela, a força a trabalhar no prostíbulo dele e restringe suas visitas ao próprio filho. Violento, ele conta com a conivência e a corrupção da polícia local para manter seu negócio. Mas Rebeca conhece outras mulheres no bordel e faz aliadas cruciais para conseguir a liberdade e lutar por justiça.
Aparentemente, "As Polacas" trata de uma história do passado, mas nada mais atual do que o tráfico de mulheres e a exploração sexual em um mundo em que conflitos, crises econômicas, guerras e miséria obrigam milhares de pessoas a deixarem suas terras em busca de uma vida mais digna e segura.
"Na comunidade judaica é um assunto um pouco escondido. É uma história que mexe em feridas muito profundas. Então não é uma história que a gente escuta, uma história que todo mundo sabe. Até porque elas não eram aceitas pela própria comunidade judaica na época. Talvez por isso seja uma história tão forte, tão importante de ser tocada. Não existe outra maneira de você resolver um trauma. Por que não olhar pras coisas?", disse Caco Ciocler sobre atualidade e relevância do tema.
O ator continua: "Acho que esse filme tem essa função: 'olhem para isso!' E é um filme esperançoso. É um filme muito violento, de uma situação terrível, mas ele é também o filme de muita esperança, de muita sororidade, de muita potência das mulheres. Acho bonita essa volta que o filme dá."
Valentina, que é bisneta de poloneses, concorda e comenta que a sororidade entre a personagem dela e a de Deborah (Dora Freind) "foi muito interessante, pois quando li o roteiro pela primeira vez achava que a Deborah ia vir para antagonizar. E achei tão mais interessante que o início do filme tem quase esse blefe". A atriz, inclusive, é amiga de infância de Dora, com quem filmou longas como "Mate-Me, Por Favor", de Anita Rocha da Silveira.
"A Deborah começa muito endurecida, muito selvagem, e vai se fragilizando. E com a Rebeca é o contrário. Ela começa mais frágil e vai encontrando esse lugar selvagem", explica Valentina. "Essa construção foi muito interessante, achei um roteiro não óbvio e muito complexo em construir a relação entre essas duas e essa intimidade", completou.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.