Flavia Guerra

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Opinião

'Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa' é 'bão', atual e fiel ao personagem

Um causo divertido, aparentemente ingênuo, mas muito astuto e engraçado, sobre o dia em que quiseram derrubar a goiabeira do Nhô Lau. Assim é "Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa", que estreia nesta semana e amplia o universo de Maurício de Sousa nos cinemas.

Dirigido por Fernando Fraiha, produtor dos longas "Laços" e "Lições", que levaram a Turma da Mônica para os cinemas e têm direção de Daniel Rezende, "Chico Bento" é tão delicioso quanto as goiabas que o menino ama e rouba do sítio do Nhô Lau (Luís Lobianco).

O próprio diretor Fernando Fraiha, Raul Chequer e Helena Altheman assinam o roteiro e acertam em cheio no tom de causo (ou fábula) que o filme tem. Um desses causos deliciosos de ouvir e de imaginar, mas aqui a imaginação ganha corpo com uma direção de arte cuidadosa (assinada por Marinês Mencio) e uma direção de fotografia que retrata essa vila com poesia na medida certa (assinada por Gustavo Hadba). Tudo é lúdico, mas sem perder o realismo.

A sala de aula e as casinhas da Vila Abobrinha são quase de fábula, mas são reais. Tão reais quanto o problema que Chico Bento (vivido pelo genial Isaac Amendoim) ganha quando descobre que o ardiloso Dotô Agripino (Augusto Madeira) planeja passar uma estrada pela vila toda e derrubar a goiabeira.

Débora interpreta a professora Marocas em 'Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa'
Débora interpreta a professora Marocas em 'Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa' Imagem: Divulgação/Fábio Braga

É nesse momento que a vidinha divertida, idílica e quase perfeita de Chico, Zé Lelé, Rosinha e toda turma vira um pesadelo. Os adultos acham ótimo que o progresso vai passar pela vila e, seduzidos por Agripino, não escutam o alerta das crianças. Chico Bento, desesperado porque pode perder uma grande amiga, a Dona Goiabeira, é tomado pela ansiedade e não escuta mais os amigos, que têm ideias boas para abrir os olhos e ouvidos dos adultos, mas todos estão surdos.

Mas é a própria natureza quem vai mandar seu recado e abrir a cabeça de Chico. Em um diálogo cheio de metáforas, com direito, aí sim, a um mergulho na fantasia, com animações que enchem os olhos e o coração, Taís Araújo divide com Isaac uma das sequências mais lindas do filme. Sem detalhar muito, é um mergulho no coração da natureza e em ouvi-la está a própria resposta para o drama que o garoto vive. Destaque especial para as sequência em animação, que reforçam o tom lúdico e de imaginação, mas também remetem ao universo dos quadrinhos.

É este jogo esperto entre a realidade contemporânea, que derruba goiabeiras e florestas a troco de um troco a mais, e a fábula e o bom causo (quase uma farsa, a teatral, em que se faz o público morrer de rir para se tratar de assuntos muitos sérios) que faz de "Chico Bento" um filme delicioso. É engraçado e ingênuo na medida certa, mas não trata nem as crianças e adultos do filme, os caipiras, como bobos e muito menos o público.

"Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa" é tão delicioso quanto as goiabas que Chico tanto ama e sabe que é na simplicidade, feito essa fruta tão acessível e brasileira, a chave para se atingir algo ambicioso: o diálogo com o próprio público brasileiro.

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