É Tudo Verdade: festival de docs celebra 30 anos de olho no futuro e na IA
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O É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários completa 30 anos com uma programação que celebra a história e também mira o futuro, com filmes que trazem olhares diversos sobre o estado do mundo atual e também sobre o por vir, como "About a Hero", de Piotr Winiewicz. A coprodução entre Dinamarca, Alemanha e Estados Unidos mistura o uso de Inteligência Artificial e documentário para criar uma história baseada no universo dos filmes do cineasta alemão Werner Herzog.
"Um computador não vai fazer um filme tão bom quanto os meus nem em 4.500 anos", diz Herzog na abertura do filme. Mas é justamente tentar entender como a IA se comporta e até mesmo cria que o longa propõe. Um mergulho fascinante nas inquietações sobre o futuro da humanidade e do trabalho criativo que não dá necessariamente respostas, mas que nos deixa, como muitas vezes o cinema deve fazer, questões que não podemos evitar.
Trazer questões, inquietações e provocações é uma qualidade que permeia toda a programação do ETV 2025. Entre longas, médias e curtas-metragens, o festival exibe 81 produções, de 30 países, como anunciado pelo diretor-fundador, Amir Labaki, em entrevista coletiva realizada neste sábado no IMS (Instituto Moreira Salles), em São Paulo.
A programação inclui ainda conferências, debates e sessões em streaming, de 3 e 13 de abril, simultaneamente em cinco salas em São Paulo e em três salas no Rio de Janeiro.
"O fato deste festival alcançar neste ano sua 30ª edição confirma, antes de tudo, nossa confiança inicial: o documentário estava a exigir uma janela anual especifica no país, que propiciasse o acesso do público das salas à excelência e à originalidade da produção não-ficcional brasileira e internacional. O documentário pedia uma janela anual específica no país que propiciasse o acesso do público das salas à excelência e à originalidade da produção, para muito além da limitada visibilidade deste cinema no mercado desde sempre", avaliou Amir Labaki.

Neste ano, foram mais de 2100 inscritos, em um sinal claro da vitalidade do formato, que cada vez mais revela as histórias reais, seus desafios e complexidades. Nas já tradicionais sessões de abertura realizadas nas duas cidades, terão pré-estreia mundial dois documentários brasileiros que narram a trajetória de duas estrelas da cultura brasileira, Rita Lee e Marília Pêra. "Ritas", de Oswaldo Santana, será exibido aos convidados no dia 2 de abril, às 20h30, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. No Rio, a abertura para convidados exibe "Viva Marília", de Zelito Viana, no dia 3, às 20h30, no Estação Net Botafogo.
"Nas aberturas, teremos dois filmes que celebram duas artistas essenciais, das mais marcantes da cultura brasileira. É muito bacana ver que o documentário brasileiro tem se sofisticado, esses dois filmes são muito diferentes e é uma alegria e uma honra exibir esses filmes pela primeira vez no Brasil e no mundo", comentou Amir.
Já que o ano é de celebração, a programação conta com o Especial 30!, com projeções e encontros especiais. Serão exibidos três documentários marcantes da história do evento. "O Velho - A História de Luiz Carlos Prestes", de Toni Venturi, e "Noel Field - A Lenda de Um Espião", do suíço Werner Schweizer, foram os primeiros vencedores das mostras competitivas da segunda edição, em 1997 —não houve premiação no evento inaugural, em 1996. Ganha também nova sessão especial "Cabra Marcado Para Morrer" (1984), de Eduardo Coutinho, que inspira a capa do catálogo da 30ª edição.
Ainda como parte do Especial 30!, o CPF Sesc-SP sedia, nos dias 10 e 11, um seminário com quatro cineastas brasileiros que venceram a mostra competitiva do É Tudo Verdade: Eliza Capai, Joel Zito Araújo, Paulo Sacramento e Roberto Berliner. Nos dias 8 e 9 acontece a 22ª edição da Conferência Internacional do Documentário, em co-realização com a Cinemateca Brasileira, em São Paulo, cuja programação será posteriormente anunciada.
Mostras
A programação do ETV se divide em Mostras Competitivas de Longas Médias-Metragens Brasileiros e Internacionais e Curtas-Metragens Brasileiros e Internacionais e nas mostras não-competitivas Programas Especiais, O Estado das Coisas, Foco Latino-Americano e Clássicos É Tudo Verdade.
Entre os destaques internacionais, "Culpar" (Blame), de Christian Frei, retoma a pandemia de covid-19, para retratar a luta de três cientistas que há muito previram sua chegada não só contra o vírus, mas também contra uma onda de desinformação.
Já "Crônicas do Absurdo", de Miguel Coyula, mergulha no cotidiano de Cuba para tratar das complexas contradições da dinâmica social e política do país, reveladas em uma narrativa construída principalmente a partir de gravações de áudio clandestinas, captadas por celulares escondidos.
"A Invasão" (The Invasion), do premiado Sergei Loznitsa, que sempre traz um olhar sobre a Ucrânia, seu país natal, e suas relações conturbadas com a Rússia, dez anos após o lançamento de seu épico, "Maidan", retoma suas crônicas ucranianas retratando a resistência da população civil - uma nação determinada a defender o seu direito à existência - contra a invasão russa.
Já na seleção nacional, Eryk Rocha volta ao festival com "Bruscky: Um Autorretrato", que faz um retrato do artista pernambucano, passando pelas reminiscências da ditadura e seus trabalhos artísticos. Enquanto Bruscky caminha por Recife, exercita seu olhar libertário e experimentador sobre o mundo.
Destaque também para "Copan", de Carine Wallauer, que revela um dos edifícios mais lendários do Brasil. Projetado por Oscar Niemeyer, o Copan é um microcosmo do Brasil, com cerca de 5 mil moradores e mais de cem funcionários que representam uma diversidade de personagens e pontos de vista que revelam contrastes e desigualdades estruturais do país.
Homenagem

Comprometido desde a sua criação a revisitar os autores fundamentais no desenvolvimento da arte do documentário, o festival homenageia em 2025 o cinema de Vladimir Carvalho (1935-2024), um dos cineastas mais marcantes na história do É Tudo Verdade, com a exibição dos nove longas-metragens que dirigiu em mais de meio século.
A retrospectiva internacional destaca, por sua vez, a obra do diretor britânico Humphrey Jennings (1907-1950), considerado o primeiro poeta da produção não-ficcional inglesa. O ciclo apresenta oito de seus clássicos, como "Fires Were Started" (1943) e "Family Portrait" (1950), e um documentário sobre a sua obra, dirigido por Kevin Macdonald (vencedor do Oscar 1998 com "Um Dia Em Setembro).

A cerimônia de premiação será realizada no sábado, 12 de abril, às 19h30, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. As produções premiadas pelos júris oficiais terão reapresentações especiais em ambas as cidades no dia 13 de abril. Os filmes vencedores dos prêmios oficiais dos júris nas Competições Brasileiras e Internacionais de Longas/Médias e de Curtas-Metragens são automaticamente classificados para apreciação à disputa pelo Oscar 2026.
Em 2025, o circuito de exibição em São Paulo é formado pelo Cinesesc, a Cinemateca Brasileira, o Instituto Moreira Salles e o Centro Cultural São Paulo. No Rio de Janeiro, as sessões ocorrem na Estação NET Botafogo e Estação NET Rio e na Sala José Wilker, do recém-inaugurado CineCarioca.
Ampliando o acesso ao público, a programação em streaming apresenta no Itaú Cultural Play, entre 14 e 30 de abril, sete dos curtas-metragens da competição brasileira deste ano. A programação será divulgada no site https://etudoverdade.com.br/br/home/.
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