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Pioneirismo sem elitismo de Eva Wilma foi muito além da TV
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Resumo da notícia
- Uma das particularidades de Eva Wilma foi sua sólida formação cultural, mas sem se tornar elitista
- Quando a TV chegou ao Brasil nos anos 1950, muitos intelectuais esnobaram a novidade. Mas Eva se sentiu atraída pela televisão logo no início
- Eva foi uma das fundadoras do Teatro de Arena, integrando o primeiro elenco profissional do grupo
- Em 1968, ao lado de outras atrizes, marchou contra a censura do governo em plena ditadura militar
- Atriz chegou a fazer testes com o cineasta Alfred Hitchcock para atuar no filme Topázio
Em 70 anos de TV brasileira Eva Wilma sempre foi uma presença constante. Da tragédia à comédia, a atriz esteve presente em alguns dos momentos mais importantes da teledramaturgia nacional. Mas no teatro e cinema também teve contribuições essenciais, com papel relevante em acontecimentos históricos como a marcha das atrizes contra a ditadura e a criação do Teatro Arena.
Uma das particularidades de Eva Wilma foi sua sólida formação cultural, mas sem se tornar elitista. Eva contava que uma de suas memórias de infância era cantar com a família, em torno do piano de cauda, músicas do folclore alemão, argentino e brasileiro. A mãe de Eva era pianista, e o pai também gostava de tocar e cantar.
Eva teve aulas de canto e de piano com a mestra Inesita Barroso e estudou balé clássico. Em 1953, com 19 anos, conquistou uma das disputadas vagas para o Ballet do IV Centenário de São Paulo. Depois, levou a disciplina do balé para o trabalho nos palcos e na TV.
Vivinha, como era chamada pelos amigos, começou a atuar no Teatro de Arena e seguiu para a TV Tupi, onde foi a estrela de muitas produções. Um dos programas mais icônicos da TV brasileira, Alô Doçura!, que ficou no ar por 11 anos na TV Tupi, tinha Eva como uma de suas estrelas. Detalhe importante, o programa estreou em 1953 e acontecia ao vivo nos primeiros seis anos. O elenco ensaiava horas e horas antes da atração ir ao ar.
Quando a TV chegou ao Brasil nos anos 1950, trazida por Assis Chateaubriand, muitos intelectuais esnobaram a novidade. Mas Eva se sentiu atraída pela televisão logo no início. Dizia que a TV era, e continua sendo, uma janela para o mundo.
Eva foi uma das fundadoras do Teatro de Arena, integrando o primeiro elenco profissional do grupo. Em 1953, nos salões do Museu de Arte Moderna (MAM), estreou em "Esta Noite é Nossa", de Stafford Dickens. O grupo teatral se tornou o mais ativo divulgador da dramaturgia nacional que dominou os palcos nos anos 1960 e reuniu diversos profissionais comprometidos com o teatro político e social.
Em 1968, ao lado das atrizes Eva Todor, Tônia Carreiro, Leila Diniz, Odete Lara, Cacilda Becker e Norma Bengell, marchou contra a censura do governo em plena ditadura militar. A caminhada foi registrada em uma foto histórica.
Nos anos 1970, Eva se tornou uma das principais estrelas da TV brasileira. Mas nunca perdeu a capacidade de transitar por diferentes meios, do popular ao erudito, do teatro à TV. Sempre se manteve uma pioneira multifacetada.
Teste com Hitchcock
Ano passado, ao participar do programa "Conversa com Bial", a atriz relembrou o convite que recebeu para fazer um teste para trabalhar com o diretor de cinema Alfred Hitchcock, no filme Topázio, de 1969. "Eu estava almoçando nos estúdios da Universal [Pictures] quando um agente veio me perguntar se poderia me fotografar, pois o Hitchcock estava procurando uma atriz latino-americana para fazer o papel de uma cubana em um filme muito importante"
Após ser fotografada, retornar ao Brasil e esperar um tempo, veio a resposta de que Hitchcock a queria nos testes para o longa. "Fui para Hollywood no dia seguinte. No estúdio, Hitchcock tinha uma casa só para ele e que parecia mais uma casa de filme de terror mesmo. Eu estava apavorada só de pensar na possibilidade de conhecê-lo", disse a atriz.
"Quando fui colocada no cenário para o primeiro teste, as pessoas [da produção] pararam o que estavam fazendo e começaram a aplaudir. Era o Hitchcock entrando no estúdio. Ele era extremamente vaidoso e tinha o 'prazer da maldade' (risos)", lembrou Eva.
Eva fez três testes e no último teve que dialogar diretamente com o diretor britânico, o que os levou a terem um pequeno desentendimento. "Essa parte foi inesquecível. Ele ficava sentado bem pertinho da câmera, me fazia perguntas e queria que eu improvisasse bem as respostas, que foi o mais difícil", contou. "Me lembro que ele me disse: 'Você está querendo me irritar falando em uma língua que não é a minha, fala na sua língua, fala em português'".
Ao final, quem ficou com o papel foi a atriz alemã Karin Dor. "O meu consolo, para me conformar, é que 'Topázio' não foi um dos bons filmes do Hitchcock. Eu assisti e dizia para mim mesma: 'Esse papel não era para mim'. Mas era para me conformar mesmo, pois eu queria ter feito".
Vaidoso, Hitchcock era notório por querer ser o centro das atenções. Tivesse escolhido Eva, teria competição à altura. Pior para ele e seu "Topázio".
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