Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Estreia da HBO Max foi um fiasco e mostra desafios das TVs no digital
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Resumo da notícia
- Após anos de atraso em relação aos concorrentes de streaming, a HBO Max finalmente chegou ao Brasil e outros 38 territórios na América Latina
- A estreia teve problemas de pagamentos dos assinantes, falhas de acesso ao sistema em diferentes plataformas e quedas súbitas das transmissões
- A WarnerMedia, dona da HBO Max, vive uma situação delicada. Seu futuro é incerto enquanto aguarda uma fusão com a concorrente Discovery
- Crescer na América Latina é essencial para a plataforma que enfrenta dificuldades no mercado americano e europeu por limitações contratuais
- A divisão de streaming da WarnerMedia acumula prejuízos e precisa reduzir custos para melhorar as margens da AT&T
- A Globo também enfrentou problemas no Globoplay durante o Big Brother Brasil, a solução foram altos investimentos e parceria com a nuvem do Google
A HBO Max, após muita espera dos brasileiros, estreou nesta terça-feira no país. A expectativa era grande. O novo serviço de streaming traz clássicos como Game of Thrones, Friends, Harry Potter, além de novidades como Liga da Justiça, de Zack Snyder, The Flight Attendant, Raised by Wolves e a nova versão de Gossip Girl.
Mas a expectativa rapidamente se transformou em frustração. Nas redes sociais, se multiplicaram as reclamações. Ocorreram diversos problemas com o sistema de proteção de fraude que bloqueou cartões de crédito de usuários, dificuldades para acessar a plataforma de dispositivos Samsung, reclamações para baixar o app no iOS da Apple e quedas ao longo do dia. Segundo o site DowDetector, que monitora a atividade de sites e apps, os problemas dispararam a partir das 8h da manhã e seguiram ao longo do dia. A HBO Max inclusive era um dos destaques na home do DownDetector como um dos líderes de reclamações.
O que explica a essa altura as emissoras de TV ainda patinarem para operar suas plataformas de streaming? Netflix e Amazon Prime funcionam sem grandes contratempos, enquanto nos últimos meses, gigantes tradicionais de mídia como Globoplay (durante o "Big Brother"), ViacomCBS (final do SuperBowl"), e agora a WarnerMedia com a HBO Max, enfrentaram dificuldades.
Hoje, se uma empresa não consegue entregar uma experiência digital de qualidade, basicamente há duas explicações: limitação da capacidade técnica da equipe ou falta de investimento, e possivelmente, um pouco dos dois. Amazon, Google e Microsoft oferecem soluções de nuvem escaláveis capazes de atender a qualquer demanda de streaming. A Netflix, por exemplo, há anos usa a nuvem da Amazon e mesmo suas mais aguardadas estreias acontecem sem grandes problemas. O mesmo acontece com relação às áreas de pagamentos e demais atividades, os fornecedores são basicamente os mesmos para todos.
É o futuro, mas por enquanto, só prejuízo
Uma estrutura digital adequada demanda altos investimentos. Tecnologia de transmissão, sistemas de pagamento, detecção de fraude e marketing, além de bilionários orçamentos para criação de conteúdo entram na conta. Praticamente todos os grandes serviços de streaming operem no prejuízo. A Netflix, por exemplo, somente reportou seu primeiro lucro no ano passado, após ultrapassar 200 milhões de assinantes.
Os serviços de streaming podem ser a grande aposta das emissoras tradicionais para sobreviverem no futuro, mas por ora, são um grande problema. Além do desafio financeiro, há o desafio de mão de obra. Emissoras de TV tradicionais além de competirem para recrutar desenvolvedores e especialistas em tecnologia altamente demandados no mercado, precisam realizar uma completa mudança da cultura organizacional.
Para a HBO Max o desafio é ainda maior. A WarnerMedia, dona da HBO, foi fundida com a Discovery para melhorar os resultados da AT&T. A WarnerMedia por anos depreciou os resultados financeiros do grupo AT&T. O objetivo da fusão da WarnerMedia com a Discovery é buscar R$ 15 bilhões em sinergias (cortar custos e realizar demissões) e ganhar escala para competir no setor. A nova estrutura acionária da empresa, que se chamará Warner Bros. Discovery, inclusive foi pensada para facilitar uma nova fusão da nova empresa com outro competidor como NBCUniversal (dona do Peacock) ou mesmo uma venda para a Apple ou outro player.
Um futuro incerto
Sarah Lyons, EVP de gerenciamento de produto global direto ao consumidor e uma das executivas responsáveis pela HBO Max, ilustra o desafio da plataforma. Lyons trabalhava na DirecTV quando a empresa foi adquirida pela AT&T e na AT&T quando comprou a Time Warner. Agora, ela lidera uma equipe de 150 funcionários da WarnerMedia por outro período de mudanças significativas com a fusão com a Discovery.
"Não sei o que esperar", disse Lyons no início de junho ao Insider quando perguntada sobre como seria o futuro pós-fusão da WarnerMedia com a Discovery, acrescentando que foi franca com sua equipe sobre não ter todas as respostas.
Agora, a aposta da WarnerMedia é trazer publicidade para a HBO Max, primeiramente nos Estados Unidos e depois nos demais países. A ideia é oferecer um pacote de assinatura mais barato para quem assistir a comerciais. A expectativa é que exista um comercial a cada 4 minutos. A HBO, em princípio, não teria publicidade durante sua programação, seguindo o modelo da HBO na TV a cabo, mas as demais atrações teriam.
Além do desafio tecnológico e cultural, existem desafios do negócio tradicional. Boa parte dos atuais contratos da HBO com empresas de TV proíbem que a WarnerMedia comercialize a HBO por um valor inferior ao que as TVs a cabo pagam para a WarnerMedia por assinante. Assim, realizar promoções e ofertas como a Disney+ tem feito é mais difícil para a HBO Max.
A HBO Max pode inclusive não chegar a alguns dos maiores mercados da Europa, incluindo Reino Unido, Alemanha e Itália, até 2025, quando um acordo exclusivo entre a HBO e o provedor europeu de TV paga Sky expira.
Com a Europa e outros mercados bloqueados, crescer na América Latina é essencial. A HBO está na região desde 1991 e é reconhecida pelos latinos. A HBO Max se comprometeu a fazer 100 produções originais na América Latina nos próximos dois anos e transmitirá os jogos da Liga dos Campeões da UEFA ao vivo para assinantes no Brasil e no México.
Mas não será uma tarefa simples. A Netflix é o player de streaming dominante na América Latina, com cerca de 38 milhões de assinantes na região. O Disney+ lançado em novembro avança rapidamente. O Paramount + chegou em março. O Star+, que terá esportes ao vivo da ESPN, será lançado em agosto. Um serviço da Televisa-Univision, um novo empreendimento de mídia em espanhol, será lançado no próximo ano.
No Brasil, o desafio é ainda maior, porque além de todos os concorrentes estrangeiros existe o Globoplay, uma marca estabelecida que concorre com a HBO Max por assinantes, mas também por anunciantes.
Efeito rajada
O Globoplay também enfrentou sucessivos problemas nas primeiras semanas do Big Brother Brasil. O número de acessos simultâneos em seu streaming era tão alto que a plataforma caia para boa parte dos usuários. O fenômeno ganhou o apelido de efeito rajada.
A coluna entrou em contato com a Globo para entender como solucionaram o problema. "A Globo adotou medidas de médio e curto prazo para mitigar o efeito rajada. As de curto prazo envolveram ações emergenciais, como aumento de infra-estrutura, otimizações de código, mudanças na arquitetura dos serviços, e o desligamento de sistemas como o que alimenta o trilho de 'Continue Assistindo' nos horários de picos. No âmbito da TV, também tomou ações para 'deslocar' a rajada, atrasando o final do programa em algumas regiões", informou a emissora por meio de sua comunicação.
A Globo também realizou investimentos massivos em sua infraestrutura de distribuição e CDN ("Content Delivery Network"). Essa tecnologia deixa o conteúdo mais "próximo" do usuário, melhorando a performance. A previsão é ter mais de 100 desses pontos de presença ativos até meados de 2022, melhorando particularmente o acesso fora do eixo Rio-São Paulo. Além disso, a empresa fechou um acordo de cooperação com a nuvem do Google.
A boa notícia para o HBO Max é que as soluções já estão disponíveis no mercado, como mostra a Globo. A má notícia é que não são baratas. Para piorar, em pouco mais de um ano, tudo o que for feito pela WarnerMedia e HBO pode não valer nada quando a Discovery chegar.
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