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Por que a família Marinho voltou à presidência da Globo e o que pode mudar
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Resumo da notícia
- Após liderar uma longa reestruturação com corte de salários, saída de estrelas e redução de custos, Jorge Nóbrega deixou a Globo mais enxuta e digital
- Mas as grandes transformações trouxeram uma imagem de instabilidade e desgastaram relacionamentos em diversas áreas
- A volta de um membro da família Marinho ao comando busca transmitir o retorno à estabilidade dentro e fora da empresa
- O movimento não se limita à Globo, grandes grupos de mídia tradicional têm trocado líderanças para acelerar a entrada no streaming
- Uma figura de consenso no topo facilita a tomada de grandes decisões pelos acionistas, como parcerias e até uma eventual venda ou fusão da empresa
- Reverter o prejuízo do primeiro semestre e voltar a dar lucro será fator decisivo para o futuro da empresa
A saída de Jorge Nóbrega da presidência da Globo para a entrada de Paulo Marinho, hoje diretor de Canais da Globo, aponta para uma nova fase da empresa. A mudança marca o retorno da família Marinho ao comando e aponta potenciais grandes mudanças, a exemplo de seus pares internacionais.
Desde o ano passado, grupos de mídia tradicional como Comcast, WarnerMedia, Disney e Univision trocaram seus presidentes. Além de novas lideranças, essas empresas têm em comum a aposta no streaming e realizaram grandes reestruturações nos últimos anos. Assim como a Globo, essas gigantes de comunicação sofrem com a migração da audiência e da verba publicitária para os meios digitais.
Apostar no streaming pode ser a chance de reinventar o negócio das empresas de TVs e cair nas graças dos investidores, como aconteceu com a Netflix, que vale mais de R$ 1,5 trilhão (US$ 280 bilhões). Mas é uma aposta arriscada e cara, até um gigante como a WarnerMedia teve de jogar a toalha diante do tamanho da conta. O Disney+, apesar do sucesso e recorde de crescimento, só deve parar de dar prejuízo em 2024. Enquanto o lucro não chega, melhor cortar custos e economizar em outras áreas para investir no streaming.
Em agosto, Jorge Nóbrega declarou ao jornal Valor Econômico que a primeira fase de reorganização do grupo Globo havia sido concluída. Disse ainda que "a tarefa de virar uma 'mediatech' exige tornar mais eficientes as operações tradicionais para manter uma boa gestão de caixa e apoiar novos produtos digitais, como o Globoplay, que têm alto crescimento, mas ainda requerem investimento pesado".
Trabalho duro realizado
Os veteranos da mídia tradicional, a exemplo de Nóbrega no Brasil, deixaram seus cargos após décadas de atuação em suas empresas. E nos Estados Unidos, como aqui, sofreram desgaste ao realizar cortes e reestruturações nos últimos anos para tornarem suas empresas mais capacitadas a investir no digital. Um agravante na Globo foi a saída de Faustão, Tiago Leifert e Lázaro Ramos e de outras estrelas da casa, gerando uma percepção de instabilidade na empresa. Para piorar, a Globo terminou o primeiro semestre com um prejuízo de R$ 144 milhões mesmo com um corte de R$ 281 milhões em salários.
Como se comentava em um grupo de WhatsApp de funcionários da Globo, colocar um Marinho na presidência passa um recado de estabilidade para os acionistas. Além disso, uma mudança de comando oferece a possibilidade de reconstruir pontes, seja com as confederações e times de futebol, que tiveram as relações desgastadas com a emissora nos últimos anos à medida que a Globo reviu os contratos e reduziu valores, e até mesmo uma reaproximação com o Governo Federal, maior anunciante do país se levarmos em conta as empresas estatais.
"A transformação em mídia tech certamente não foi um plano da cabeça do Nóbrega. Ele tinha o consentimento da família. Portanto, sacá-lo após o registro de prejuízo me parece ilógico", diz um executivo de TV. "Era previsível que essa estratégia mais a pandemia iria gerar um resultado ruim. A perda de direitos da F-1, Libertadores, Regionais, saída do Faustão, tudo somado, começou a transmitir uma sensação de vulnerabilidade inédita para quem se acostumou a décadas de liderança incontestável".
Um novo mundo, com salários mais baixos
Os CEOs que saíram criaram a base para um novo mundo de mídia, desenvolveram as plataformas de streaming, definiram metas de investimento para os próximos anos e romperam com tradições como pagar para reter grandes estrelas, reduzir salários, realizar massivos cortes de custo e sucessivas demissões. Nesse sentido, parte do trabalho mais "duro" já foi feito.
Outra possível razão para o êxodo desses executivos experientes pode ser a idade. Bob Iger, que deixou a Disney, tem 70 anos. Stephen Burke, ex-Comcast, 63. John Stankey, ex-WarnerMedia, 59. Jorge Nóbrega tem 67 anos e atua nas empresas do Grupo Globo desde 1996. Mais do que estarem próximos da aposentadoria, o novo público que essas empresas buscam no digital é mais jovem.
Nas maiores empresas de tecnologia ligadas a consumo, lideranças como Mark Zuckerberg, do Facebook; Evan Spiegel, do Snap (ex-Snapchat) e Brian Chesky, do Airbnb, estão todos na casa dos 30 anos. Jack Dorsey, do Twitter, tem 43. Sundai Pichai, CEO do Google, tem 49 anos. Paulo Marinho, que na prática assumirá o comando da Globo, tem 44 anos.
Fica mais fácil vender a Globo
Observar o que já aconteceu nos gigantes internacionais de mídia tradicional que realizaram mudanças no comando recentemente oferece pistas do que pode vir pela frente na emissora carioca.
Novo CEO, nova diretoria
As mudanças normalmente não param na saída do CEO. Os diretores mais próximos do antigo CEO tendem a sair da empresa. No caso da Disney, surgiram feudos e brigas de ego com uma redistribuição de poder e saída de executivos. Na WarnerMedia, o cenário foi semelhante.
Ou vai ou vende
Na WarnerMedia, após a chegada de um novo CEO, veio a decisão de vender o negócio. Com a vinda de Jason Killar, um executivo jovem e de "pedigree" digital, com passagens bem-sucedidas pela Amazon e Hulu, a expectativa era que a WarnerMedia finalmente encontraria o caminho no digital. Apesar de diversas iniciativas "radicais" de Killar, o caos se instaurou na empresa e, diante dos crescentes custos, a AT&T e seus acionistas (dona da WarnerMedia) decidiram vender a empresa para a Discovery.
Se nem Killar conseguiu arrumar a confusão, ficou mais fácil para a direção optar pela venda. Com a fusão, Discovery e WarnerMedia preveem mais de R$ 100 bilhões em sinergias (usualmente, cortes de custos e demissões). Já a Univision, que também trocou de CEO no começo do ano, anunciou sua fusão com a Televisa três meses depois.
Com os Marinho de volta ao comando da empresa, unir a família em torno de uma grande decisão fica mais fácil. Uma venda da Globo não é descartada, mas a família está distante de chegar a essa decisão nesse momento. Mas os próximos resultados financeiros serão determinantes, seja para uma resposta negativa ou positiva nesse sentido.
O resultado financeiro é a estrela
Os supersalários entre estrelas, e também executivos, ficaram no passado. Iger, ex-CEO da Disney, recebeu R$ 266 milhões de salário em 2019. Chapek, o novo CEO, ganhou menos de R$ 80 milhões em 2020. A Disney também entrou em uma disputa com Scarlett Johansson para reduzir o contracheque da atriz de quase R$ 400 milhões para pouco mais de R$ 100 milhões por sua atuação em Viúva Negra. Scarlett entrou na Justiça contra a Disney e posteriormente as partes fecharam um acordo. Mas esse tipo de disputa seria impensável nos tempos de Iger.
Parcerias inusitadas e expansão internacional
Com novas lideranças, a Comcast (dona da NBCUniversal) se aproximou de sua rival ViacomCBS (dona da Paramount e CBS). As empresas fecharam uma parceria para lançar uma plataforma de streaming internacional, o SkyShowtime. Desde então, aumentaram os comentários de que as empresas poderiam se "fundir".
Independentemente do que o futuro reserve para a Globo, Jorge Nóbrega cumpriu sua missão e entregou o que os acionistas queriam: uma só Globo, mais enxuta e mais digital.
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