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Por que TV Jovem Pan News faz sucesso e erra quem subestima conservadores
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Resumo da notícia
- Joven Pan News surpreende em estreia na TV, crescer rapidamente na audiência e já encosta na CNN
- Público conservador era carente de um canal que trouxesse conteúdo que refletisse seus valores
- Crescimento da Fox News e de seus concorrentes conservadores nos Estados Unidos dão pistas de para onde pode caminhar a mídia no Brasil
- Aumento da polarização e do jornalismo de entretenimento podem ser consequências do aumento da concorrência entre canais de notícias
- O conteúdo conservador gera alto engajamento e milhões de reais de receita com publicidade em plataformas como YouTube e Facebook
- Cada vez mais, os espectadores querem ver seus valores refletidos no conteúdo que consomem
Demorou, mas finalmente o Brasil ganhou um canal conservador. E para surpresa de muitos, a TV Jovem Pan News, apesar de problemas técnicos e muitos gritos nos debates, já incomoda canais estabelecidos como a CNN.
O discurso público das concorrentes é que elas possuem públicos diferentes e que a novata não as incomoda. Afirmam que a audiência da Jovem Pan TV é mais velha e conservadora. Mas nos bastidores há uma crescente preocupação não somente com o rápido crescimento de audiência, mas também com uma potencial dispersão da verba publicitária começando a ir para a estreante.
No final do dia, se você é uma empresa de mídia, está no negócio da atenção. E a JP News, de um modo ou outro, tem atraído atenção de apoiadores e detratores.
Fox News do Brasil
A TV tem perdido audiência e anunciantes para o digital e o streaming, mas ignorar sua influência é um erro, particularmente no Brasil, onde ainda é o principal meio de informação para grande parcela da população.
Possivelmente a chegada de uma TV de direita ao país tenha acontecido com 25 anos de atraso. Nos Estados Unidos, a Fox News foi lançada em 1996. Observar o que aconteceu no mercado americano dá pistas do que pode acontecer aqui.
Assim como a JP News, a Fox News estava em desvantagem quando seu sinal foi ao ar em 1996 e muitos duvidavam que sobreviveria, ainda mais se tornar a gigante dos dias de hoje.
É sobre o público, não a qualidade técnica
"Justa e equilibrada" era como Roger Ailes, executivo que comandou a fundação da Fox News, definia sua TV. Como lembra a jornalista Jennifer Graham, "mesmo que o slogan fosse ridicularizado pelos críticos da Fox News, foi fundamental para a forma como a rede iria crescer e manter um público ferozmente leal".
A fórmula é simples, mas poderosa. A Fox News, assim como seus jornalistas, se posicionam como paladinos fora da influência da grande mídia liberal que distorce a cobertura para promover os ideais de esquerda. Fato ou ficção, uma boa parcela do público se identifica com o discurso e se torna um obstinado apoiador.
Ironicamente, o dono da Fox News é o bilionário Rupert Murdoch, que construiu um império de mídia conquistando os conservadores em países como Austrália, Inglaterra e Estados Unidos.
Conservadores carentes
Quando a Fox News surgiu, o público conservador sentia falta de um veículo à direita que o representasse. A Fox News assumiu esse papel. Hoje, cerca de 200 milhões de pessoas consomem conteúdos da Fox e suas plataformas todos os meses, de sites a podcasts e livros. Para esses espectadores, a Fox é um espaço seguro na mídia onde seus valores são refletidos.
Críticos apontaram corretamente problemas de iluminação, pauta e transmissão na JP News. Porém, o rápido crescimento do canal mostra que existe um enorme público carente dos conteúdos abordados pela estreante. Mas a verdade é que as pessoas apenas querem ver seus valores refletidos na cobertura jornalística.
Alguns estudiosos culpam a Fox pela disparada da polarização política nos Estados Unidos. Para eles, o sucesso foi tão grande ao longo dos anos que diversos veículos de direita surgiram no rastro, mas cada vez mais radicais para se diferenciarem da gigante.
Tendo a concordar com outra parcela de especialistas que vê a TV e as redes sociais como uma câmara de eco, que apenas amplifica o que já temos diante de nós, ao dar voz àqueles que não eram ouvidos.
Jornalismo de entretenimento
Seja como for, à medida que novos concorrentes como o Newsmax entram no mercado tentando abocanhar a audiência da Fox News, mais radicais se tornam esses veículos. A própria Fox acaba se tornando mais histriônica para não perder audiência. Como consequência, o jornalismo acaba virando entretenimento. É um círculo vicioso, com mais radicalismo editorial para aumentar o engajamento de uma audiência cada vez mais inflamada pelo que consome na mídia.
Se a JP News seguir crescendo e se tornar uma pedra no sapato da CNN e Globonews, não será uma surpresa se esses canais adotarem uma postura editorial mais combativa (até de entretenimento pautado no jornalístico) para reter o público, o que de fato pode criar um círculo vicioso de radicalização, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos.
O risco dos anunciantes
Uma grande questão é se os anunciantes estão dispostos a investir na JP News. A Fox novamente pode ser uma referência. As pautas pela redução de impostos e maior liberalismo econômico são apreciadas pelo empresariado. Se a Jovem Pan conseguir manter um verniz de equilíbrio, mesmo que somente no discurso, terá boas chances de conquistar os donos do dinheiro e que decidem para onde vai a verba publicitária.
O CEO do grupo Jovem Pan, Tutinha (Antônio Amaral de Carvalho), tem ótimo trânsito entre os grandes empresários e políticos do país.
Independentemente da publicidade tradicional, a Fox News é uma das líderes de audiência em vídeo em plataformas digitais nos Estados Unidos e recebe milhares de dólares todos os meses de plataformas como YouTube e Facebook. Manter apresentadores comentando temas variados tem baixo custo de produção e geram grande audiência online.
Segundo o SimilarWeb, o site da Pan recebe 6,39 milhões de visitantes por mês. No YouTube, tem 4,27 milhões de seguidores. Com a produção para a TV, o volume de conteúdo deve aumentar, atraindo ainda mais audiência, seguidores e publicidade digital.
Desencanto dos conservadores com a mídia
Prever o sucesso da Jovem Pan TV é impossível. Uma série de fatores, incluindo desafios de execução e novos concorrentes podem destruir o negócio. Mas o desencanto conservador com as redes de notícias de TV vinha crescendo há décadas no Brasil.
A Jovem Pan ganhou relevância nos últimos anos ao se aventurar por onde poucos entravam: a defesa dos ideais conservadores. Agora, faz o mesmo na TV. Talvez a Pan não vença essa corrida, mas o crescimento da mídia de direita no Brasil é um caminho sem volta.
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